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Osesp estreia temporada com elogio ao violoncelo e ao poder da música no mundo

Orquestra paulista revela a singularidade do som nas artes com novos ciclos dedicados a Rachmaninov, Beethoven e Ligeti

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São Paulo

O compositor francês Henri Dutilleux é um ilustre desconhecido para a maioria dos brasileiros. Mas, em 1970, ele já tinha prestígio para estrear uma obra, no Théâtre des Champs-Elysées, em Paris, com execução do maior violoncelista do século 20, o russo Mstislav Rostropovich.

Dez anos depois da morte do compositor, o concerto para violoncelo e orquestra "Tout un Monde Lointain" –ou todo um mundo tão distante, em francês– será peça-chave da temporada do ano que vem da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a Osesp, pródiga em obras de Ludwig van Beethoven, Sergei Rachmaninov e György Ligeti.

A peça de Dutilleux se encaixa com perfeição ao nome escolhido para a nova temporada. "Sem Fronteiras" é uma reflexão sobre a natureza do som e sua qualidade ubíqua. "Tout un Monde Lointain", que será interpretado daqui a um ano pelo franco-canadense Jean Guihen Queyras, tem no título as ideias de vastidão e mistério, que a proposta conceitual de 2023 apresenta.

Violoncelo na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo - Reinaldo Canato/ Divulgação

O nome da peça vem de um verso do poema "Esses Teus Cabelos", de Charles Baudelaire, autor que flagrou as mudanças sociais do fim do século 19, flanando pelas ruas da capital francesa. "Um mundo tão distante, vazio, quase defunto", diz o verso.

"Tout un Monde Lointain" foi incluído na temporada por Thierry Fischer, regente titular da Osesp. Segundo ele, as obras de Dutilleux e Baudelaire se espelham, porque combinam transparência e leveza na profundidade. Se o autor de "As Flores do Mal" inaugurou a poesia moderna representando a vida cotidiana, Dutilleux exauriu todas as possibilidades de timbre do violoncelo com uma orquestração simples e soberba.

Nesse mundo de contingências, a velocidade das novas tecnologias se choca contra a densidade do som que se espalha no espaço-tempo. "Sem Fronteiras" tematiza um momento de mudanças na recepção da música erudita, que luta contra "o mundo vazio" daquele verso de Baudelaire. Para alguns, já é um desafio apreciar uma hora e 40 minutos da monumental terceira sinfonia de Gustav Mahler, que abre a temporada da Osesp.

Não por acaso, as orquestras tentam, depois da pandemia, atrair novos públicos, incorporando linguagens interativas aos concertos ou mesmo aumentando o número de intervalos nos programas.

"A tecnologia já está incluída na música erudita, mas não é isso que me interessa, porque nada vai substituir a escuta ativa das obras", diz Fischer, que escolheu também completar o ciclo de sinfonias do finlandês Jean Sibelius, por quem nutre certa obsessão.

Em "Sem Fronteiras", o violoncelo terá destaque. O francês Gautier Capuçon, um figurão do streaming, executa, em dezembro, o concerto em si menor do tcheco Antonin Dvorák, compositor de melodias cantáveis e obras acessíveis. Seu concerto é uma das peças mais deslumbrantes já escritas para o instrumento.

No ano que vem, o romeno Adrian Petrutiu, "spalla" dos segundos violinos, será o músico homenageado, mas não só ele terá as reverências dos colegas. Compondo a programação dedicada à música contemporânea, ouviremos a estreia mundial de "A Hora das Coisas", de Paulo Chagas, com a timpanista Elizabeth Del Grande como solista.

Há 50 anos na Osesp, ela abriu espaço para que outras mulheres ingressassem em orquestras, desempenhado funções antes restritas aos homens.

Entre os compositores, o russo Rachmaninov, nascido há 150 anos, ganha um ciclo especial. Ao longo de 2023, serão executados os quatro concertos para piano, com interpretação do britânico Stephen Hough, em residência artística. Rachmaninov foi um dos maiores compositores para piano do século 20, tendo sido, ele próprio, um virtuose, com as mãos gigantes e o ouvido absoluto.

O "Concerto para Piano nº 2", o mais famoso, será executado em junho próximo. A obra é uma das mais populares do repertório erudito, sobretudo pelo tema inicial do primeiro movimento. Nessa homenagem a Rachmaninov, também figuram as apresentações da célebre "Rapsódia sobre um Tema de Paganini", o soturno poema sinfônico "A Ilha dos Mortos", além da segunda sinfonia e o "Trio Elegíaco", para violino, violoncelo e piano.

Já para o centenário do húngaro Ligeti, a orquestra executa duas de suas peças que entraram para a cultura popular, servindo de trilha sonora para o filme "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick –"Atmosphères" e "Lux Aerterna", com o Coro da Osesp.

Por fim, a Osesp reproduz, em dezembro de 2023, uma das noites mais lembradas da história da arte. Em 22 de dezembro de 1808, o público do Theater and der Wien, em Viena, escutou quase quatro horas de Beethoven, com a estreia das quinta e sexta sinfonias e do "Concerto para piano nº 4", com o compositor como solista. "Aquela noite teve a importância de uma bomba atômica na história da música", afirma Fischer.

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