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Veja por que o vermelho é a nova aposta da moda e vira amuleto da sorte de famosos

A cor do perigo, da sorte e do sexo está voltando com força total e retoma a tradição ocidental de pecado, bruxaria e heresia

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Rosanna Dodds
Financial Times

Os primeiros indícios da tendência foram os sinais precursores do outono —folhas avermelhadas, cogumelos de cabeça vermelha e uma cerca viva cheia de amoras cor de granada. Depois vieram um batom Ruby Woo, o farfalhar de um vestido Dior escarlate e os saltos plataforma cor de carmim da Versace.

O vermelho, símbolo milenar da mudança de estações do ano, está de volta, tanto em nossos guarda-roupas quanto no mundo natural.

Modelo desfila pela grife Redondo, durante a Mercedes Benz Fashion Week, em Madri - Susana Vera/Reuters

A cor vermelha sempre foi onipresente, mas sua prevalência nas passarelas dos desfiles do outono- inverno 2022 aponta para uma nova era de primazia na moda. De acordo com o motor de buscas de moda Tagwalk, o número de looks vermelho total aumentou 90% em relação ao ano passado e as buscas pela cor subiram 88%.

Clare Coulson, estrategista de cores na empresa de previsão de tendências WGSN, atribui a fixação atual pelo vermelho a uma ânsia por uma nova sensação de felicidade. Segundo ela, o vermelho vivo, em especial, eleva nossa frequência cardíaca e pode induzir uma sensação de excitação.

Em Milão, Dolce & Gabbana levaram o vermelho para o futuro, apresentando uma paisagem virtual feita de luzes neon, arranha-céus majestosos e avatares esguios.

Usando referências de videogames –quem já não se encantou com as colaborações do Fortnite com a Balenciaga ou Moncler?—, usaram látex carmim e couro vermelho texturizado para acentuar as silhuetas de ombros bem marcados. Até o convite chegou numa caixa vermelha lustrosa contendo cinta-liga e meias.

Afinal, qual é a conotação mais antiga do vermelho? O sexo. Como observa Valerie Steele, diretora do Museum at FIT e autora de "The Red Dress", ou o vestido vermelho, esse tipo de simbolismo é uma faca de dois gumes. "Há uma abundância de ideias negativas sobre o vermelho em conexão com a sexualidade feminina", afirma. "A paixão é uma coisa desejável, porém perigosa."

A decisão de abraçar esse perigo pode ser libertadora —veja a coleção Vamp, da Versace, de vestidos de espartilho vermelhos vivos com detalhes transparentes e babados sexy, parte de um esforço maior de encarnar uma atitude de nova geração.

A atriz Ariana DeBose chega à cerimônia do Oscar 2022 - Emma McIntyre/AFP

Mas também pode ser aviltante. Na seminal coleção Joan, de Alexander McQueen, em 1998, toda feita de paetês, alfaiataria e rendas vermelho-sangue, o estilista apresentou seu look final dentro de um círculo de fogo, numa referência à execução de Joana d’Arc —na cultura ocidental, o vermelho foi no passado sinônimo de pecado, bruxaria e heresia.

A influência de McQueen esteve visível no show mais recente da grife italiana Act Nº 1, em que uma modelo emergiu coberta de tinta vermelha dos pés à cabeça. Luca Lin e Galib Gassanoff, os fundadores da grife, descreveram o look como o nascimento de uma nova raça.

Outros lugares onde você pode curtir o vermelho —nas pinturas de Reginald Sylvester 2º, que remetem a Rothko e estão expostas no momento no Harvey B Gantt Centre for African-American Arts + Culture; na faixa de cabeça de Chloe Kelly, autora do gol da vitória da Inglaterra na final do torneio de futebol feminino Euro 2022; e no vestido estilo camponesa de Pearl, a protagonista de machadinha que dá nome ao novo filme de terror de Ti West.

Modelo desfila pela grife Redondo, durante a Mercedes Benz Fashion Week em Madri - Susana Vera/Reuters

Usado pela atriz Mia Goth, não é muito diferente dos estilos carmesim com babados de Molly Goddard, que encerrou seu desfile com um par de botas escarlates com cadarços.

Ian Griffiths, diretor-criativo da Max Mara, também buscou inspirações no mundo das artes, desta vez na paleta da artista suíça Sophie Taeuber-Arp.

Fortemente ligada ao dadaísmo, que começou durante a Primeira Guerra Mundial, Taeuber-Arp usou o vermelho para acentuar as linhas de suas composições geométricas em que a lógica e a ordem funcionaram como um protesto contra a falta de sentido da guerra.

Griffiths seguiu a inspiração da artista com formas e cores elegantes e vestíveis, ou dispositivos para vestir, pontuadas por três looks totalmente vermelhos, incluindo um vestido longo de malha com gorro ninja. "O vermelho é puro, absoluto e se impõe", ele diz.

É claro que o mestre do vermelho é Valentino Garavani, que ficou fascinado com a cor depois de ver os figurinos escarlates da ópera "Carmen", em Barcelona.

"O vermelho é meu amuleto da sorte", ele disse certa vez, aludindo ao modo como a cor é vista na China, onde há séculos o vermelho simboliza a sorte e a prosperidade. Valentino pegou o vermelho e criou um novo uniforme para mulheres em todo o mundo, num legado ao qual o diretor criativo atual Pierpaolo Piccioli vem dando continuidade.

Em sua coleção de alta-costura de outono –102 looks dedicados à história da maison—, um motivo recorrente foi uma rosa gigante de tafetá que enfeitou tudo, de vestidos a camisas. Como símbolo, ela traz beleza, paixão –e um pouco de perigo. É toda vermelha.

Tradução de Clara Allain

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