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Descrição de chapéu The New York Times

Maestro Gustavo Dudamel quer formação para jovens na Orquestra de Nova York

Venezuelano é primeiro hispânico na direção da Filarmônica da cidade, que tem 29% de latinos, mas diz não pensar no assunto

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Javier C. Hernández
Nova York | The New York Times

Gustavo Dudamel, entrou em uma sala lotada de empregados, dirigentes e doadores da Orquestra Filarmônica de Nova York, na tarde de segunda-feira, e abriu um sorriso.

"É assim que Mickey Mouse deve se sentir", ele disse, enquanto pessoas se aproximavam para cumprimentá-lo e posar para fotos ao seu lado.

Foi a primeira visita de Dudamel a Nova York desde que ele foi nomeado como o próximo diretor musical e artístico da Filarmônica —um cargo que assumirá em 2026, depois da conclusão de seu contrato com a Filarmônica de Los Angeles— e ele já estava desempenhando o papel de maestro célebre.

Gustavo Dudamel em Nova York - Timothy A. Clary/AFP

Em sua passagem de duas horas pelo David Geffen Hall, a sede da Filarmônica, Dudamel, de 42 anos, ofereceu poucos detalhes específicos sobre a sua visão para a orquestra, dizendo que precisava de mais tempo para conhecer a cidade e a organização. Mas exibiu com toda intensidade algumas das qualidades que fizeram dele a escolha da Filarmônica: carisma, charme e a capacidade de trazer uma nova empolgação à música clássica.

Ele participou, com entusiasmo quase infantil, de uma cerimônia de assinatura de contrato. "Estamos usando canetas presidenciais?", ele perguntou, enquanto se preparava para colocar seu nome no contrato de cinco anos, que o maestro já tinha assinado eletronicamente no início deste mês, quando a Filarmônica, em uma grande façanha, o roubou de Los Angeles.

Dudamel respondeu perguntas dos líderes da Filarmônica e da imprensa, discorrendo sobre o futuro da música clássica; a sua passagem pelo comando da Filarmônica de Los Angeles, da qual está à frente desde 2009; e as suas preferências esportivas.

Depois de inicialmente se recusar a tomar partido na rivalidade entre o New York Mets e o New York Yankees, ele disse que torcia para o Cardenales, de Lara de Barquisimeto, Venezuela, sua cidade natal, e também para o Los Angeles Dodgers, um time cuja origem foi a região nova-iorquina de Brooklyn. Mas por fim ele declarou, com um ar de hesitação: "Também amo o Yankees".

Ele papeou com os músicos da orquestra, elogiando seu som; discutiu a Sinfonia nº 9 de Gustav Mahler, que executarão juntos em maio; e os agradeceu pelos presentes que tinham enviado a ele quando a orquestra estava tentando cortejá-lo. Dudamel disse à violoncelista Maria Kitsopoulos que o "cheesecake" caseiro que ela preparou havia sido razão crucial para ele ter decidido se mudar para Nova York.

Christopher Martin, o trompetista principal da orquestra, que ajudou a coordenar a busca por um novo diretor musical, abraçou o maestro. Entre os músicos da orquestra, Dudamel era o candidato favorito desde o começo.

"Ver você aqui é como um sonho", disse Martin. "Ninguém consegue acreditar nisso."

Deborah Borda, presidente executiva e do conselho da Filarmônica, que contratou Dudamel para a orquestra de Los Angeles em 2007, quando ele tinha 26 anos, e dedicou todo o ano passado a tentar atraí-lo para a costa leste dos Estados Unido, moderou um debate com Dudamel no palco do Geffen Hall antes de ele começar a responder perguntas da imprensa.

"Eu sempre disse que ele seria recebido com uma parada quando viesse a Nova York", afirmou Borda, depois que aplausos e assobios irromperam na sala.

Dudamel disse que era ainda era cedo demais cedo para expor os planos que têm quanto à orquestra, dizendo que não queria impor sua visão, por enquanto. Mas reiterou o seu interesse em criar um programa educativo em Nova York semelhante ao da Orquestra Jovem de Los Angeles, conhecida como Yola, que toma como modelo El Sistema, o movimento social e artístico venezuelano no qual ele se formou.

O maestro citou o poeta e filósofo espanhol Miguel de Unamuno ao descrever a necessidade de fazer mais para aproximar a orquestra dos moradores da cidade, particularmente em bairros pobres: "A liberdade do povo está em sua cultura". Quando um repórter sugeriu que a versão nova-iorquina de sua orquestra jovem poderia ser conhecida como Yony, Dudamel sorriu e disse: "Adoro o nome".

"Isso faz parte do meu DNA: trabalhar com os jovens, trabalhar com as comunidades, levar a orquestra à comunidade", ele disse. "A Filarmônica de Nova York, como centro da vida artística e musical da cidade, tem de desempenhar um papel, um papel muito importante, na educação."

Dudamel será o primeiro líder hispânico da Filarmônica, em uma cidade na qual os latinos respondem por cerca de 29% da população. Quando um repórter da Telemundo, a rede de TV americana que transmite programação em espanhol, perguntou o que Dudamel achava quanto a esse marco, ele respondeu que não tinha pensado muito sobre o assunto. Depois, disse que esperava que sua jornada de Barquisimeto a alguns dos palcos mais prestigiosos do planeta pudesse servir como inspiração.

"Isto pode servir como exemplo para que meninas, meninos, jovens tenham a certeza de que é possível realizar seus sonhos", ele disse. "É preciso trabalhar profundamente, ter muita disciplina e muito amor pelo que se faz, mas é algo que pode ser realizado."

Ao longo do dia, um assunto recorrente foi o cabelo de Dudamel, que vem sendo objeto de fascínio desde que ele surgiu na cena internacional da música clássica, quando tinha pouco mais de 20 anos.

Durante uma recepção, Angela Chen, uma das conselheiras da Filarmônica de Nova York, perguntou por que o maestro agora usa cabelos mais curtos do que fazia no começo de sua carreira.

"É mais refrescante assim", ele disse, ajeitando seus famosos cachos, que começam a ficar grisalhos, com os dedos. "E um dia, será todo branco."

Na entrevista coletiva, Dudamel disse que já não era uma "jovem promessa", mas que ainda se sentia ligado à energia de sua juventude.

"Quando eu tinha 23, 24, 25 anos, era uma loucura; eu era um animal selvagem, e não só por causa do meu cabelo", ele disse. "E continuo a guardar aquele Gustavo animal selvagem; ele está sempre lá, só que com menos cabelo."

Dudamel em determinados momentos ainda parecia estar tentando se acostumar à ideia de uma futura mudança para Nova York, que descreveu como uma das decisões mais difíceis de sua vida.

Quando ele encontrou o ator e cineasta Bradley Cooper, de quem é amigo, antes da entrevista, ele disse que estar em Nova York parecia surreal.

"Não sei onde me colocar, em um momento como esse", ele disse a Cooper.

Em seu celular, ele mostrou a Cooper uma fotografia, que tinha visto no Geffen Hall, de Leonard Bernstein, um de seus mais prestigiosos predecessores na Filarmônica e uma figura a quem Dudamel é frequentemente comparado. Cooper está dirigindo um filme sobre Bernstein, no qual interpreta o papel do maestro. Na foto, Bernstein está em pé dentro de um elevador depois de uma apresentação, com os olhos fechados.

"Isso diz tudo", disse Dudamel. "Aquele olhar exausto. Ele deu tudo pela música".

No final do evento, Borda conduziu Dudamel em uma visita ao Geffen Hall, reinaugurado no final do ano passado depois de uma reforma que custou US$ 550 milhões, cerca de R$ 2,85 bilhões.

Ela mostrou ao maestro uma exposição digital sobre os diretores musicais da Filarmônica no passado —Arturo Toscanini, Mahler, Pierre Boulez, Bernstein— e falou sobre a duração da passagem de cada um deles pelo comando da orquestra. Eles passaram pelo novo restaurante da sede, adjacente ao átrio; na saída, Dudamel, que gosta muito de uísque, se maravilhou diante de uma garrafa de Macallan 18 anos.

Em uma breve entrevista antes de deixar o Geffen Hall, Dudamel disse que estava exausto mas feliz por enfim estar celebrando sua indicação em companhia da orquestra, que ele já regeu 26 vezes desde sua primeira apresentação com ela, em 2007.

"Sinto que sou um homem abençoado por ter a oportunidade de vir para cá, por ter a oportunidade de expandir a família que construí em Los Angeles", ele disse. "Há uma conexão entre todas essas coisas. É um grande passo. É lindo."

Tradução Paulo Migliacci

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