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'Broker', de Kore-eda, traz beleza do caos com vendedores de bebês

Cineasta japonês dirige Song Kang-ho, ator do vencedor do Oscar 'Parasita', no filme sobre mercado ilegal de adoção

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Broker - uma Nova Chance

Avaliação: Ótimo
  • Quando: A partir de quinta-feira, dia 6
  • Onde: Nos cinemas
  • Classificação: Não disponível
  • Elenco: Song Kang-ho, Gang Dong-won, Bae Doona
  • Produção: Coreia do Sul, 2022
  • Direção: Hirokazu Koreeda

Hirozaku Kore-eda é um cineasta da família, que seus filmes observam nas situações mais variadas. Em "Broker – Uma Segunda Chance", a empreitada parece atravessada por ironia e a família que se forma não deixa de ser surpreendente.

Existe, para começar, uma mãe solteira que deixa seu bebê recém-nascido numa caixa para adoção. A caixa é operada por dois traficantes de bebês, isto é, sujeitos que pegam as crianças e as revendem. O que, para começar, caracteriza sequestro. Isso acontece por conta das dificuldades que as leis impõem, o que leva famílias ricas a buscarem vias um tanto tortas para adoção, isto é, a compra de crianças.

Acontece que a jovem mãe, no caso, reaparece de maneira inesperada e, claro, embaraçante para os dois, que não se sabe se usam uma lavanderia como fachada de seu negócio ou se o comércio de crianças é um tanto ocasional. Os confusos traficantes ficam, assim, mais confusos ainda.

Cena do filme 'Broker: Uma Nova Chance', de Hirokazu Kore-eda - Divulgação

Eles agregam a jovem, que se mostra disposta a controlar a negociação, de modo a ter certeza de que o filho estará em boas mãos após ser adotado. A busca encontra alguns percalços. Para começar, são seguidos por duas policiais dispostas a flagrá-los em operação de tráfico.

Algumas dificuldades depois, eles se encontram em um orfanato, onde um menino travesso (e disposto a se tornar jogador profissional de futebol nas grandes ligas europeias) se agrega à trupe. São esses que, sem interromper sua busca por pais que sejam ricos e boas pessoas ao mesmo tempo e estejam dispostos a adotar o bebê.

A sordidez que consiste em fazer de um recém-nascido uma mercadoria vai sendo normalizada, vamos dizer assim, ao mesmo tempo em que a perseguição policial tenta se tornar ardilosa (colocando escutas em supostos pretendentes à compra) e de certa forma imoral. Enquanto isso, o grupo reunido na van da lavanderia troca experiências (notamos, por exemplo, que as experiências de rejeição são bem frequentes entre eles) e aos poucos vai constituindo uma família dos sem-família.

Kore-eda opera, assim, no limite entre farsa e tragédia, policial e comédia, imprimindo leveza inesperada a um assunto em princípio espinhoso, já para não dizer escabroso. De certa forma, seu "Broker" nos convida a observar que pessoas nunca são uma coisa só.

Com essa entrada num universo criminal da qual fazem parte tanto pauperizados comerciantes de crianças como os ricos compradores, mulheres policiais que podem ter ataques de choro durante sua busca, Kore-eda nos leva a considerar um mundo, bem atual, em que a tolerância desce a níveis não raro insuportáveis.

Partindo do que pode existir de mais sórdido em matéria de objetificação (o tráfico de bebês, portanto de seres completamente indefesos, não é demais lembrar), "Broker" nos coloca aos poucos, e com suavidade, diante de um mundo bem mais complexo do que supõe, por exemplo, o programa do Datena.

Pensar que humanos possam ser mais do que figuras unidimensionais, corpos convenientes a levar tiros ou facadas pelo simples motivo de que nos parece mais confortável do que conhecê-los é, no mínimo, uma empreitada de beleza, num mundo de desequilíbrios tão profundos (aos quais o filme também não é alheio).

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do texto afirmava que o ator Song Kang-ho foi indicado ao Oscar por "Parasita". O filme foi vencedor do Oscar, mas o ator não foi indicado. A informação foi corrigida.

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