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Filmes Argentina

Filme 'Puan' mostra força cultural argentina frente à pindaíba política

Longa, dirigido por María Alché e Benjamín Naishtat, traz saga de um professor de filosofia em uma universidade pública

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Puan

Avaliação: Bom
  • Quando: Estreia nesta quinta (7) nos cinemas
  • Classificação: Não informada
  • Elenco: Marcelo Subiotto, Leonardo Sbaraglia, Julieta Zylberberg
  • Produção: Argentina, 2023
  • Direção: Maria Alché, Benjamín Naishtat

Mesmo na pindaíba do presente, a Argentina é capaz de proporcionar surpresas graças à vasta cultura nacional. "Puan", por exemplo, tratará da rivalidade entre dois professores de filosofia.

Pena (Marcelo Subiotto) é o aplicado, porém limitado discípulo de um importante professor que acaba de morrer. Na cerimônia de homenagem ao mestre, vemos insinuar-se atrás dele Rafael Sujarchuk (Leonardo Sbaraglia), que é seu oposto: carismático, bonito, dotado de oratória brilhante e, mais importante que tudo, namorado de uma famosa estrela do cinema.

Sujarchuk, sabemos desde então, será a tenebrosa sombra na vida de Pena. Ele leciona na Alemanha, dá cursos em Nova York, mas, para desespero de Pena, agora pretende estabelecer-se novamente em Buenos Aires. E isso significa que ambos concorrerão à cátedra do importante professor que morreu.

Cartaz do filme 'Puan', de Maria Alché e Benjamín Naishtat - Divulgação

A ideia é interessante, tanto mais que permite ao filme misturar pílulas de Rousseau e Hobbes, de Epicuro e Heráclito durante as aulas ministradas na Faculdade de Filosofia e Letras da UBA (Universidade de Buenos Aires), que fica, justamente, bem perto do metrô Puan. Está explicado o título do filme, no primeiro momento tão misterioso.

Tudo isso, mais a animação por vezes desvairada dos estudantes, mais as também animadas professoras do departamento, tudo isso constitui a melhor parte do filme.

O desenvolvimento é bem irregular: mais interessante quando se volta à rivalidade entre Pena e Sujarchuk (que vem de longe, diga-se) e mais problemático quando se fixa na personalidade de Pena. E Pena, digamos logo, é um homem bem desinteressante.

Talvez o objetivo ousado do filme de Maria Alché e Benjamin Naishtat fosse esse mesmo: mostrar a vida de um homem humilde, estudioso, apagado, sem beleza ou carisma. Pior, que para suplementar seu pobre salário dá aulas de filosofia para uma velhinha caquética, que dorme enquanto ele tenta, a sério, lhe ensinar o pensamento de Heidegger ou de Camus.

A aposta da dupla de realizadores, Alché e Naishtat, era alta, mas poderia ser bem-sucedido, se a dupla de realizadores conseguisse encontrar algum interesse maior no pouco interessante Pena.

Alché, diga-se, é a brilhante atriz revelada por Lucredia Martel em "A Menina Santa" (2004), onde sobressaía algo de perverso no rosto de sua personagem. Aqui entra como co-diretora, assinando seu segundo longa (há ainda um episódio de série e dois curtas em seu currículo, sem contar o trabalho de atriz, claro). Tem a seu lado está Benjamin Naishtat, cuja carreira até hoje tem sido voltada à direção e ao
roteiro.

Se o filme da dupla não consegue se impor enquanto se dedica à pouco interessante personalidade de Pena, volta a ganhar interesse à medida que se aproxima do final, o que se deve menos ao seu protagonista (que acaba até mesmo por apagar Sujarchuk, o antagonista) do que à eterna crise argentina, que no caso se abaterá sobre a universidade.

Eis o que há de vivo no filme: a visada sobre a crise da Argentina vista a partir da agitação e das dificuldades de uma unidade universitária. Apesar dos problemas evidentes, "Puan" se afirma pela vivacidade de um olhar que articula a atividade intelectual de uma cidade culta à vida nacional abalada pela economia mais que periclitante.

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