Siga a folha

Descrição de chapéu Obituário Antônio Bispo dos Santos (1959 - 2023)

Morre Antônio Bispo, quilombola que propôs o contracolonialismo, aos 63

Autor de 'A Terra Dá, a Terra Quer' não via diferenças entre Lula e Bolsonaro quando o assunto era mineração em quilombos

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

Morreu neste domingo (3), vítima de parada cardíaca, o pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos. Autodenominado "lavrador de palavras", o filósofo traduzia nos livros o olhar de quem nasceu em um quilombo sobre os modos de habitar e se relacionar com a terra.

Bispo passou mal durante à tarde e foi levado ao Hospital Estadual Teresinha Nunes de Barros, localizado na cidade de São João do Piauí —a 450 km da capital Teresina. Lá, teve duas paradas cardíacas e não resistiu. A causa ainda não foi revelada.

O escritor Antônio Bispo dos Santos, autor de "A Terra Dá, a Terra Quer" - Alexia Melo

Nascido na comunidade Saco do Curtume, no Piauí, Bispo ganhou notoriedade em movimentos sociais, na década de 1990, quando chegou a se filiar a partidos políticos, que abandonou anos depois. Desde então, se voltou para a defesa dos povos quilombolas.

Conhecido também como Nêgo Bispo, ele atuou em organizações como a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) e em movimentos sociais do Piauí.

Ele fazia uma comparação entre o modo de vida dos quilombos e o da sociedade nacional em seu último livro "A Terra Dá, A Terra Quer" (Ubu, 2023), no qual também propôs um novo modo de viver, a contracolonização, em resposta a problemas atuais ligados à ecologia, ao clima, ao trabalho e à alimentação.

Colonizar um povo é como adestrar um boi. Ambas ações consistem na remoção da identidade, mudança de território e condenação do modo de vida alheio. Essa é a associação que o pensador fez em seu livro.

O contracolonialismo, segundo ele, seria a recusa de um povo à colonização, o que seria praticado há séculos por africanos, indígenas e quilombolas.

Em entrevista à Folha, o pensador chegou a dizer que não via diferença entre a esquerda e a direita na relação com os quilombolas.

"A direita e a esquerda são maquinistas que dirigem o mesmo trem colonialista. Escolher o vagão permite decidir os passageiros com quem você vai viajar. Mas a viagem é a mesma, vai para o mesmo caminho", disse.

A Companhia das Letras prepara um novo livro que reúne o pensamento do líder quilombola. "Colonização e Quilombo, Milagres e Feitiços", trabalhado com a editora há dois anos e meio, deve sair em 2024.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas