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Diretor da Globo debate 'Vale Tudo', as 'regras' do humor, BBB, Eliana pós-SBT e Netflix

À frente da emissora, Amauri Soares detalha remake da novela e a retomada das comédias depois da saída de Marcius Melhem

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Colagem mostra os destaques da Globo para os próximos meses e o próximo ano

Colagem mostra os destaques da Globo para os próximos meses e o próximo ano - Silvis/Folhapress

Rio de Janeiro

Um remake de "Vale Tudo", a contratação de Eliana para o The Masked Singer, um novo reality show nos moldes do Big Brother, o Estrela da Casa, com o confinamento de cantores, e a volta dos programas de humor quatro anos após a saída de Marcius Melhem da emissora —sob a acusação de assédio por Dani Calabresa, que ele nega.

Há ainda "Mania de Você", que substitui "Renascer" em setembro. Escrita por João Emanuel Carneiro, o mesmo autor de "Avenida Brasil", a trama é calcada numa rivalidade de personagens que espelha a de Nina e Carminha.

Esses são os destaques da programação que Amauri Soares, diretor da TV Globo e dos Estúdios Globo, preparou para disputar a atenção do público com as redes sociais e as plataformas de streaming, que agora também fazem novelas, e comemorar os 60 anos da emissora no próximo ano.

Amauri Soares, diretor da TV Globo e dos Estúdios Globo

Calejado por quatro décadas nos bastidores da emissora —onde já foi editor-chefe do Jornal Nacional, diretor de jornalismo em São Paulo e diretor de programação—, o executivo de 58 anos não nega a pulverização da audiência com a qual teve de lidar em seu primeiro ano de gestão.

Se no início do milênio uma novela de sucesso se aproximava dos 50 pontos de audiência na Grande São Paulo, na década seguinte até hits como "Avenida Brasil" não ultrapassaram os 40 pontos e, agora, "Renascer" tem a média de 26, à frente de fiascos recentes como "Travessia", mas longe do passado. O BBB, outro líder de audiência, também acumula baixas.

Os dados são do Kantar Ibope, hoje em disputa com as principais emissoras, que desaprovam as propostas do instituto para mudar os parâmetros de medição de audiência.

Mas Soares se diz otimista, ciente de que concorrentes como SBT e Record também acumulam baixas e de que a Globo segue na liderança da audiência —segundo o Kantar Ibope, cerca de um terço do consumo de vídeo no país é da TV Globo e a audiência do canal aberto é maior do que a soma de todos os serviços de streaming concorrentes.

O executivo, que diz ter aumentado em 20% a produção de conteúdo e ampliado na mesma proporção a quantidade de autores negros contratados, viu ainda o faturamento da emissora com publicidade crescer 18% em seu último balanço, que compreende o primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado.

Ao receber a reportagem nos estúdios, na zona oeste do Rio de Janeiro, o executivo fez um balanço de sua gestão, apresentou as diretrizes da Globo para o humor ante o politicamente correto, avaliou o crescimento do streaming, a performance do BBB e a nova cara da Globo —mais diversa, por um lado, mas também sem parte de seus medalhões, hoje sem contrato de exclusividade e brilhando
nas telas da concorrência.

Em um ano de gestão, o que você destaca de positivo e negativo?
De negativo é difícil, porque expandimos a oferta de conteúdo e nos organizamos na criação de gêneros. Criamos núcleos de filmes —vamos lançar um por mês em 2025—, de documentários e de humor, que ganhou uma diretoria pela primeira vez.

Marcius Melhem não era diretor de humor?
Ele era um diretor que fazia projetos de humor, mas nunca foi diretor de gênero, porque humor era ligado à dramaturgia, que era dirigida por Silvio de Abreu.

A produção de humor na Globo caiu. Vocês atribuem isso à saída de Melhem?
Não posso negar que atrasou o processo. Houve uma interrupção do trabalho e uma dispersão da equipe. Tivemos que começar de novo. Mas temos uma nova liderança, um novo time e 18 obras em produção, com a primeira estreia este ano, uma sitcom com Regina Casé.

Vocês pretendem recontratar Melhem?
Não sei. Marcius é um grande artista, mas não depende só da minha vontade. Precisamos entender como o caso dele vai se concluir.

Os humoristas se dizem amarrados. Qual é a orientação diante do politicamente correto?
Ser democrático. O humor será o nosso gênero mais aberto para colaboradores externos. Tem mulheres e homens, brancos e negros, jovens e veteranos. Essa diversidade talvez seja a saída.

Mas o que é permitido e proibido na Globo?
A Globo tem um código de princípios e valores no vídeo. Não fazemos imagens pornográficas ou com consumo de droga e violência excessivos. Não reproduzimos comportamentos racistas ou preconceituosos sem um contraponto. Vale não só para humor, mas para dramaturgia, para tudo.

Por falar em dramaturgia, a Globo está regravando 'Vale Tudo'?
Estamos preparando o remake, escrito por Manuela Dias e dirigido por Paulo Silvestrini. Entra no ar depois de "Mania de Você".

Já definiram o elenco?
Parte sim, parte não. Para Odete Roitman, há uma escalação específica, mas está em negociação. Não posso contar. Gera especulação e fica chato para quem não é contratado.

Como a Globo avalia a entrada da Netflix nas novelas, com 'Pedaço de Mim'?
Quanto mais fortalecido for o mercado nacional, melhor. Conheço toda a equipe desta novela. São ex-colegas de trabalho.

A novela tem Juliana Paes como protagonista. Como você encara a saída de talentos da Globo?
Custava muito caro manter um alto nível de exclusividade. Antes, era sustentável. Nas dinâmicas de hoje —com a concorrência e a disputa pela atenção maiores e um legítimo interesse dos talentos de fazerem outras obras—, esse modelo não faz sentido para nenhum lado. Hollywood o abandonou há muito tempo.

A Globo vai manter a exclusividade de alguém?
Às vezes, um ator está escalado para duas ou três produções, então não faz sentido abandonar a exclusividade. Chay Suede, que estará em 'Mania de Você', acabou de renovar por muitos anos, porque tem alta escalabilidade. Pode fazer um mocinho e um vilão, um jovenzinho e um adulto, assim como Cauã Reymond, que é muito versátil.

São dois galãs, e estão entre os poucos no ar. Será que não temos uma escassez de galãs e por isso a Globo quis manter os dois?
Não concordo. Temos Xamã, um talento supernovo, por exemplo, bombando em 'Renascer'. Trabalhar com mais atores, por não termos um elenco fixo, traz mais diversidade.

A Globo tem escalado iniciantes para papéis grandes. Em 'Mania de Você', temos Gabz, uma estreante, protagonizando uma novela das nove.
A diversidade das histórias traz uma diversidade de personagens, que exigem por sua vez uma diversidade maior de atores. Se um autor escreve uma personagem jovem, de 20 e poucos anos, negra, preciso escalar essa atriz.

E não há muitas atrizes de 20 e poucos anos negras na Globo, certo?
A diversidade no vídeo brasileiro demorou para avançar. Mas fizemos nosso dever de casa. Não temos escassez de talentos negros na Globo. Temos talentos experientes, jovens que se formaram conosco e uma nova geração nas nossas oficinas.

E autores?
Muitos envelheceram, se aposentaram ou infelizmente morreram, e a gente demora de 15 a 20 anos para formar um titular. Não temos muitos, mas temos o suficiente e estamos formando outros. São mulheres e homens negros, gente do Norte e do Nordeste. As histórias do autor branco de classe média já foram contadas. Queremos que os novos contem as suas histórias. Vamos assistir a uma renovação do gênero.

No vaivém de talentos, temos Eliana. Como se deu a contratação?
Sabíamos que Ivete Sangalo não continuaria no The Masked Singer e queríamos um grande apresentador. Ouvimos que Eliana, com uma carreira impecável, vivia um desgaste com o SBT. Entrei em campo, vi que estava desgastada mesmo e criamos um pacote, que inclui o Saia Justa, um especial de Natal e um programa de Black Friday.

Os apresentadores estão em extinção, com a saída de nomes centrais de cena, como Faustão e Silvio Santos. O que vocês vão fazer?
Mapeamos os apresentadores em nossas afiliadas. Rita Batista veio da TV Bahia para o É de Casa e agora o Saia Justa. No Encontro, além de Patrícia Poeta, temos Tati Machado e Valéria Almeida. Ana Clara entrou pelo BBB, fez coisas menores e virou titular no Estrela da Casa.

Vocês buscam novos talentos no Big Brother?
Para atuar, não. Tem essa conversa de estarmos trocando atores experientes por ex-BBBs, mas não é verdade. Em 25 anos, temos um caso, o de Grazi Massafera, e esse caso foi indicado ao Emmy. Jade Picon fez uma novela só, e ela nunca foi só uma ex-BBB. Já tinha uma carreira.

Com o Estrela da Casa, vocês querem criar outro BBB? Deve ser uma mina de dinheiro.
É, né? Mas só se der certo. O reality show, que já tinha se mostrado atraente para a TV aberta —porque é abrangente, quente e ao vivo—, ganhou mais relevância com as redes sociais. Elas retroalimentam o programa. Então, pensamos em ativar esse ecossistema no segundo semestre. Isso quando o The Voice estava concluindo sua jornada, porque, na Globo, não deixamos o programa morrer para tirar do ar.

O BBB tem mais patrocinadores, mas a audiência oscila. O programa está em crise?
De maneira nenhuma, tanto que renovamos o contrato de licenciamento. O BBB é um motor de conversa da internet e amplia o consumo em todo tipo de plataforma, inclusive nas de jornalismo. O pico de muitos portais é com o BBB. Isso é desejado pelas marcas.

Seu primeiro ano de gestão veio no rastro de uma polarização política única, que pode voltar nas eleições municipais. Como agradar a todo mundo?
A gente não quer agradar a todo mundo. Queremos ser relevantes. Você pode gostar ou concordar com uma história ou não, achar que em determinado assunto a gente avançou muito rápido e em outro demorou demais, mas quero que você reconheça a relevância do conteúdo. É desafiador, produzir para uma sociedade polarizada, mas propomos um espaço de conversa. Precisamos tratar temas delicados buscando criar tolerância. Queremos ser a praça pública, sem algoritmos, onde as pessoas se respeitam. A Globo é para todos.

O jornalista viajou a convite da Globo

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