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'Divertimento' triunfa ao mostrar dificuldades de jovem maestra árabe

Direção de Marie-Castille Mention-Schaar não impressiona pela ousadia e deixa que o encanto venha sobretudo dos sons

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Divertimento

Avaliação: Bom
  • Onde: Nos cinemas
  • Classificação: 10 anos
  • Elenco: Niels Arestrup, Lina El Arabi e Lionel Cecilio
  • Produção: França, 2024
  • Direção: Marie-Castille Mention-Schaar

São vários os eixos que desenvolvem "Divertimento". Preconceito contra as mulheres no mundo musical é o mais óbvio deles. Preconceito na França contra os árabes, o que é coisa corrente. O preconceito de classe social fecha a série. Tratados com alguma —ou muita— demagogia costumam dar resultados lamentáveis. Evitá-los é, certamente, a primeira virtude da diretora deste filme, Marie-Castille Mention-Schaar.

Não a única, certamente. Ela busca boas personagens: as adolescentes Zahia a Fatouma Ziouani. A segunda é violoncelista: as dificuldades que enfrentará estão dentro do padrão dos praticantes de música erudita. Zahia terá um caminho mais espinhoso, pois sonha em ser chefe de orquestra —maestra.

Cena do filme 'Divertimento', de Marie-Castille Mention-Schaar - Divulgação

A origem árabe, a modéstia familiar e o fato de ser mulher, tudo isso pesa muito contra ela. Mention-Schaar trata suas dificuldades com discrição, um comentário aqui, uma reprimenda ali basta para sabermos que o caso é mesmo de preconceito, derivando para tratamentos desiguais.

O filme, admita-se, trata também desigualmente o rival de Zahia, um jovem favorecido por mestres —os homens, no caso— e colegas. O filme não precisaria tratá-lo como antipático e arrogante. Trata-se da velha necessidade de criar um antagonista a todo custo. Era dispensável porque "Divertimento" deixa claro o quanto o ambiente musical é povoado de egos e rivalidades. Zahia não é exceção.

A intriga aqui é o que menos importa. A virtude do filme é penetrar adequadamente nas dificuldades de formação de um músico e, mais ainda, de um maestro. Pior, claro, se for maestra. No caso de Zahia, pesa bastante o fato de ter sido acolhida por um maestro célebre, como Sergiu Celibidache.

É por ele que Zahia —e nós, por tabela— é introduzida à tremenda solidão do músico. Sabemos já como as coisas se passam com Fatouma, a violoncelista, a exigência dos estudos, a busca pela excelência.

Mas Celibidache insiste com Zahia não só no que diz respeito à técnica, nem ao desenvolvimento de algo que podemos chamar de intuição —o domínio do tempo. Ele a introduz ao terror que consiste estar diante de um grupo de músicos a quem deve não apenas cobrar como impor a sua visão.

O certo é que Celibidache viu nela qualidades que poucos têm. É a partir daí que Zahia deve saltar do sonho à realidade. E para o espectador, em especial aquele que gosta de música, abre-se a possibilidade de entender, um pouco que seja, a dificuldade do que é ser chefe de orquestra, ou seja, transformar um todo heterogêneo —cada músico e cada instrumento— em um conjunto homogêneo.

Tudo isso é necessário, mas, veremos, não suficiente. O caminho até se tornar uma regente será árduo para Zahia. Mas ela, assim como Fatouma, triunfará.

Não se trata aqui de estragar qualquer tipo de surpresa ou prazer. A evolução é óbvia. Quanto ao gênero, poderia bem ser chamado "biografia", pois trata-se de duas personagens da vida real. Divertimento, no mais, é o nome que Zahia deu à sua orquestra, cuja sede é (ou era) em Stains, cidade da região parisiense.

Uma observação ao final (apenas 4% dos regentes são mulheres na França) explica a opção de Zahlia Ziouani por ter sua própria orquestra e de direcioná-la a determinados fins (democráticos, por sinal).

Dito isso, a direção de Mention-Schaar não impressiona pela ousadia, optando pela discrição; não enfeita as coisas, deixa que o encanto venha sobretudo dos sons. Salvo alguns efeitos de desfoque a diretora não se deixa levar por facilidades. O que a distingue do academismo é sobretudo a capacidade de olhar as pessoas, captar suas reações, alegrias, frustrações, expectativas etc. É o que sua câmera melhor faz.

De tudo isso resulta uma boa diversão, não só para os fãs de música.

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