Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Conheça o Universeine, prédio da vila olímpica feito por arquitetos brasileiros

Após as Olimpíadas de Paris, edifício que abriga atletas de diversas delegações será destinado à habitação social

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Caio Sens
São Paulo

Dos cerca de 40 prédios que compõem a vila olímpica em Paris, pelo menos um tem influência brasileira, o Universeine, projetado pelo escritório de arquitetura Triptyque. A fachada, modular e marcante, apresenta uma mistura de materiais entre o concreto, a madeira e o aço, pontuada por vegetação —elementos frequentes nos prédios que o Triptyque espalhou por São Paulo, principalmente nos bairros da Vila Madalena e do Sumaré, ao longo de duas décadas.

O escritório foi fundado no ano 2000, na capital paulista, e hoje é encabeçado pelos sócios Guillaume Sibaud e Olivier Raffaëlli, que mantêm a identificação do grupo como "franco-brasileiro" mesmo depois de perderem sua representante não francesa, a arquiteta Carol Bueno, morta há cerca de três anos, vítima de um câncer.

Edifício Universeine, do escritório franco-brasileiro Triptyque, na vila olímpica de Paris
Edifício Universeine, do escritório franco-brasileiro Triptyque, na vila olímpica de Paris - Divulgação

O Universeine está voltado para uma praça ampla, dialogando com o entorno e outros prédios da vila. Segundo Sibaud, a relação entre os diversos edifícios, elaborados por diferentes escritórios, reflete a intensa colaboração internacional entre os arquitetos no processo de idealização da vila. "Cada um levou sua maquete para a implantação geral e até modificou os projetos em função das conversas", diz.

A proposta, segundo o comitê francês, é promover os jogos mais sustentáveis da história. O Universeine foi pensado para ser reversível, ao mesmo tempo que econômico nos materiais e sistemas envolvidos. O uso da madeira, as plantas na cobertura e a instalação de placas solares, entretanto, são soluções parciais. "A ideia era construir o mínimo possível", diz Guilleaume.

Em linha com essa premissa, Paris está priorizando o reaproveitamento de construções preexistentes, como uma piscina das Olimpíadas de 1924. O edifício projetado pelo Triptyque está localizado em Saint Denis, uma área periférica, à beira do rio Sena e ao norte da região metropolitana da capital francesa.

As unidades habitacionais terão uma configuração temporária, durante os jogos, e a partir de setembro uma reforma vai transformá-las em apartamentos que serão destinados à habitação social, assim como nos Jogos Pan-Americanos de 1963, em São Paulo.

Na ocasião, os prédios construídos para abrigar os atletas depois se tornaram o Crusp, conjunto residencial destinado à habitação social de estudantes da Universidade de São Paulo. Enquanto isso, a vila dos atletas nas Olimpíadas do Rio, em 2016, se tornou um empreendimento imobiliário.

A escala, a preocupação ambiental e a complexidade da proposta, no entanto, tornam a experiência parisiense distinta. "A ideia não era criar um vilarejo de atletas, mas um novo bairro para a cidade, impulsionando mudança em áreas carentes", diz Guillaume.

O imóvel abrigará cerca de 450 atletas da delegação dos Estados Unidos, em 300 quartos de aproximadamente 15 metros quadrados cada, que se transformarão em 125 apartamentos, com unidades entre 30 e 105 metros quadrados.

A ventilação cruzada foi maximizada, e a orientação das fachadas foi pensada de forma a minimizar a incidência de sol direto nas unidades. A estrutura de madeira das fachadas, em camadas, também tem o objetivo de diminuir as variações de temperatura dentro dos apartamentos.

Ainda assim, a decisão tomada pelos organizadores de não incluir ar condicionado nos apartamentos na vila olímpica gerou ruído, com a promessa de um sistema de resfriamento através de canos de água sob o piso. A prefeitura de Paris defendeu a escolha, pedindo que as comissões nacionais "confiem na ciência".

Diversas delegações, entretanto, optaram por levar seu próprio sistema de ar condicionado portátil e temporário, entre elas a dos Estados Unidos. A delegação brasileira também decidiu alugar 130 equipamentos de climatização para o prédio onde estará instalada, afirmando que o reaproveitamento das máquinas após os jogos está garantido.

Guillaume diz que a proposta demanda que os futuros moradores estejam dispostos a "tolerar os poucos dias de calor extremo" na região, com auxílio das soluções alternativas que amenizam a temperatura, contando com a calefação para os dias de frio —mais intensos e perigosos na França, segundo ele.

O tempo deve atestar o real desempenho dessas propostas, mas, se o esporte envolve pôr o respeito e a justiça acima da vitória individual, talvez haja algo semelhante na construção de uma cidade sustentável, com concessões em nome da coletividade.

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