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Televisão Olimpíadas 2024

Por que as Olimpíadas de Paris vão definir o futuro da Globo no esporte

Emissora opta pelo entretenimento e reforça aposta em Luis Roberto como rosto da transmissão após saída de Galvão Bueno

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São Paulo

Ao deixar a narração em televisão aberta após a final da Copa do Mundo do Qatar, Galvão Bueno deu um pretexto para a Globo concluir um processo de reestruturação em seu departamento de esporte. De súbito, Cleber Machado, que comandava as transmissões dos jogos paulistas e durante anos foi o substituto do próprio Galvão, foi demitido, e Luis Roberto, mais identificado com os torcedores dos clubes fluminenses, tornou-se o narrador mais prestigiado da emissora.

Num paradoxo, logo se perceberia que Luis Roberto não encarnaria seu antecessor todo-poderoso. Ele teria de aprender a dividir, seja com Everaldo Marques, seja com Gustavo Villani. A divisão, antes rígida, assumia certa fluidez geográfica e hierárquica. Espelhando a comunicação fragmentada do mundo contemporâneo, esse novo modelo de transmissão terá seu grande teste nas Olimpíadas de Paris. Ao mesmo tempo, o desafio de Luis Roberto é se firmar como o narrador titular da emissora.

O narrador Luis Roberto, da Globo
O narrador Luis Roberto, da Globo - João Miguel Júnior/Divulgação

É improvável que a descentralização dos narradores ajude a Globo a se diferenciar de seus novos concorrentes, como a CazéTV, canal no YouTube que também transmitirá as Olimpíadas. Ao mesmo tempo, não há garantias de que Luis Roberto possa estabelecer uma identidade marcante a ponto de fidelizar o público.

Nessa encruzilhada, a emissora aposta as suas fichas no comunicador, que integra o seu elenco há quase três décadas. Tanto que, no início deste mês, Luis Roberto foi ao Conversa com Bial contar a sua trajetória, quase que se apresentando à população brasileira.

A Globo sabe que Galvão faz falta. Por isso, convocou-o para as transmissões das cerimônias de abertura e encerramento, além do programa Central Olímpica, com comentários gravados. Detalhe: ele estará na capital francesa pelo GB, o seu canal no YouTube, e pelo Comitê Olímpico Brasileiro, para o qual também produzirá conteúdos.

Na Globo, Luis Roberto vai dividir a cobertura com outros cinco nomes —Everaldo Marques, Natália Lara, Rogério Corrêa e Gustavo Villani. Além da inclusão de mulheres, a reestruturação no elenco acompanhou uma mudança de estilo dos locutores.

Acompanhando um movimento do mercado, a comunicação esportiva da Globo se descolou do jornalismo e passou a dialogar com a linguagem do entretenimento. Nessa mudança, franqueou, sobretudo entre os seus apresentadores, alguns valores, como a sobriedade e o texto bem escrito.

Era preciso, afinal, parecer mais com o YouTube e menos com a televisão. Com isso, a narração ficou mais popular, com os narradores subindo o tom para disputar a audiência aos berros e apelando aos bordões fáceis. Luis Roberto conseguiu se projetar na empresa, percebendo as mudanças em curso.

Ele cresceu nos grandes eventos. Foi nas Olimpíadas, no Rio de Janeiro, há oito anos, que inventou o bordão "sabe de quem?", uma referência inicial ao desempenho dos jogadores da seleção masculina de vôlei.

É estranho saber que Luis Roberto fará um duplo bate e volta a Paris, para a abertura e o encerramento. No mais, a maioria das transmissões serão feitas de um estúdio, alardeado pela Globo como um "tour de force", uma amostra de força, na TV esportiva. Mas em Tóquio os jornalistas do canal se revezavam em um estúdio similar.

Foi também na edição passada, ainda determinada pelo isolamento da pandemia, que o canal descobriu de vez ser desnecessário a transmissão in loco –o que importa é o entretenimento, não o acontecimento noticioso como fato jornalístico.

De saída do grupo empresarial, Milton Leite, que também fará bate e volta, deve dominar as narrações pelo SporTV, canal por assinatura dedicado à grade esportiva. Aos 65 anos, ele quer ter mais tempo livre e ficar mais próximo de sua numerosa família.

Há quase duas décadas no SporTV, tendo tido poucas chances na TV aberta, Milton sempre foi o oposto do estilo em voga. Sem levantar a voz, uniu precisão a um humor leve, nada escrachado. Mais conhecido pelo trabalho no futebol, ele se tornou o cara da natação. Sua saída é, portanto, sintomática.

Diante do atual cenário, a Globo parece já ter optado pelo entretenimento. A cobertura em Paris indicará o futuro do esporte na emissora, que tenta formar uma nova identidade.

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