Siga a folha

Festival Arte Serrinha reúne artistas lusófonos para produzir em meio ao verde

Nomes como Jonathas de Andrade e Shirley Paes Leme criam obras que serão exibidas no Museu da Língua Portuguesa

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Bragança Paulista (SP)

Na manhã de uma quinta-feira ensolarada de inverno, Shirley Paes Leme saiu para coletar galhos de árvores na floresta de uma fazenda em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Com seus assistentes, a artista encheu a parte traseira de uma pequena caminhonete com o material, que usará para construir, nas suas palavras, uma escada para o infinito.

As cabanas montadas com galhos secos foram as primeiras moradias do homem quando ele saiu das cavernas, diz a artista, ao justificar a obra, que terá mais de 20 metros de comprimento e será fundida em bronze.

O trabalho —desenvolvido por ela numa residência artística na Fazenda Serrinha— está previsto para ser exibido ao público no primeiro semestre do ano que vem, no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.

Residentes da edição 2024 do Festival de Arte Serrinha; a partir da esquerda, os artistas Jonathas de Andrade, Gegé M'bakudi, Wyssolela Moreira, Jorge das Neves, Shirley Paes Leme e Inês Moura, e o curador Carlos Antunes - Divulgação

Assim como Paes Leme, outros artistas brasileiros, portugueses e angolanos passaram uma semana criando neste ambiente idílico localizado a pouco mais de uma hora de carro da capital paulista —em meio ao verde, com um gramado para tomar Sol depois do almoço e gatos que iam e vinham pelas estradas de terra.

A residência foi um convite aos artistas do Festival Arte Serrinha, que este ano chegou à 22ª edição na propriedade rural do idealizador do festival, Fabio Delduque. Também participaram o recifense Jonathas de Andrade, os angolanos Gegé M'bakudi e Wyssolela Moreira e os portugueses Jorge das Neves e Inês Moura, além do curador português Carlos Antunes, da Bienal de Coimbra.

Os artistas tinham a tarefa de desenvolver obras acerca do tema "atlânticos", que serão exibidas no Museu da Língua Portuguesa. A ideia da residência era reunir artistas lusófonos para pensar "que futuros podemos construir juntos", diz Delduque. "Mais de onde a gente é parecido do que das diferenças."

A questão da identidade fará parte da obra de Inês Moura, portuguesa de Coimbra que viveu em São Paulo por mais de dez anos e que investiga em sua prática artística a imigração e a travessia do Atlântico. Ela conta que, quando um vaso de plantas foi movido de seu lugar na varanda de uma casa na fazenda, viu impresso no piso a marca deixada por ele —um círculo partido ao meio.

"O rasgo é o Oceano Atlântico, algo que divide mas também une", afirma Moura. Ela teoriza que as porções do círculo são as duas metades de sua identidade —Portugal, onde nasceu e cresceu, e Brasil, onde passou parte de sua vida adulta e entrou em contato com aspectos de si que desconhecia, como a espiritualidade. A artista trabalha com fotografias e desenhos, mas cogita fazer uma videoinstalação para a obra que começou na Serrinha.

Não era necessário que os artistas concluíssem seus trabalhos no período que passaram na fazenda. Alguns recém tinham começado, como Jonathas de Andrade, ainda sem um projeto claro. "Estou recolhendo anotações, me permitindo um pouco estar", ele diz, enquanto descansa na sombra de uma varanda depois do almoço.

Conhecido por seus vídeos, fotos e instalações sobre o homem do nordeste, o artista afirma que "uma residência é um processo aberto de pesquisa" e que estar em meio à natureza abre novas possibilidades para a sua prática, no sentido de que é um contexto de produção diferente do da cidade. Ele destaca como ponto positivo a troca com os outros artistas.

Ensaio de grupo de dança coordenado por Morena Nascimento na Fazenda Serrinha - Divulgação

Já o angolano Gegé M'bakudi trabalhava concentrado em seu projeto. Num ateliê montado dentro de um contêiner, ele pintava uma fogueira sobre uma chapa transparente, colocada sobre uma fotografia onde se vê um homem negro sem camisa. A obra trata dos silêncios construídos em volta da masculinidade, ele conta, e o fogo é um elemento de caos que pode abrir novos caminhos para esta masculinidade.

O festival, que costuma levar shows para Bragança Paulista, neste ano se encerra em São Paulo, com uma apresentação do violoncelista Jaques Morelenbaum acompanhado do músico angolano Paulo Flores e sua banda, referências no ritmo africano "semba". O espetáculo, neste domingo, será acompanhado de uma performance da dançarina Morena Nascimento, preparada na Fazenda Serrinha.

'Atlânticos' ─ show com Jacques Morelenbaum, Paulo Flores e banda e participação de Morena Nascimento

Avaliação:

O jornalista viajou a convite do Festival Arte Serrinha

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas