Siga a folha

Descrição de chapéu Filmes

Com Koji Yakusho, 'Família' mostra brasileiros no Japão em melodrama com máfia

Ator, que estrelou 'Dias Perfeitos', é ceramista que se aproxima de jovem imigrante em apuros com a Yakuza

Assinantes podem enviar 7 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

São Paulo

A introdução de "Família" pode enganar o espectador desavisado. Koji Yakusho, um dos principais atores do cinema japonês, vive um personagem que lembra a placidez do faxineiro de "Dias Perfeitos", indicado no último Oscar. Dessa vez, ele é um ceramista, dedicado a estilo bastante tradicional desse ofício. É o próprio artesão, silencioso e dedicado, quem vai atrás da matéria-prima e faz a queima em sua oficina, nos arredores da cidade de Toyota.

Mas os primeiros diálogos do filme, bem como a cartela do título, são em português, entre os "bom dia" de uma massa de brasileiros, numa tomada aérea que circula pelo Homi Danchi, um conjunto habitacional do lugar, onde hoje, estima-se, moram mais de 5.000 imigrantes do nosso país.

Koji Yakusho em cena do filme 'Família', de Izuru Narushima - Divulgação

Desde o princípio há uma oposição entre Seiji, o sujeito introspectivo que Yakusho interpreta com seriedade, e essa população latina, que inclui também gente de outros países da América do Sul, mão de obra para a indústria de autopeças local.

Esses caminhos vão se cruzar pelo acaso, carregado entre tintas de melodrama, crime, sangue e xenofobia, pelas mãos de Izuru Narushima, que dirige a partir do roteiro de Kiyotaka Inagaki. Apesar de alguns exageros, o cineasta, com quase 30 anos de carreira, estreia nos cinemas brasileiros com as garantias de ter traduzido uma realidade.

"O roteiro é inspirado nas memórias do Inagaki e partir do contato com os atores brasileiros antes das filmagens, ouvindo suas histórias, alegiras e angústias do dia a dia", diz Narushima. "Cresci em Tóquio e convivi com discursos xenofóbicos contra os coreanos. Dessa vez, fiquei tocado pela persistência desses problemas, mesmo 30 anos depois, em relação aos brasileiros."

O pivô do enredo é Marcos —vivido pelo brasileiro Lucas Sagae—, que se mete com a Yakuza, a máfia japonesa, durante uma briga numa boate, tentando defender um amigo que deve aos bandidos.

Na fuga, Marcos acaba no quintal de Seiji —por acaso, no mesmo dia em que seu filho volta da Argélia com a noiva, uma refugiada do país, com planos de se fixar no Japão e assumir o metiê do pai.

O núcleo japonês, em tudo empático ao drama do imigrante, cuida do rapaz e, arisco, ele foge noite adentro após receber os cuidados. Mas o calor brasileiro, mesmo em terra estranha, não arrefece, e os colegas e a namorada de Marcos tentam, logo depois, estreitar os laços com Seiji como agradecimento.

Porém, enquanto de dia a vida corre feliz —entre as coxinhas, churrasco e samba que os brasileiros armam no pátio do conjunto habitacional—, Marcos é obrigado a ter uma vida dupla como traficante, junto de outros brasileiros, para livrarem a pele do amigo na mira da Yakuza.

Naturalmente, os meandros do crime e do preconceito contra os estrangeiros vão conduzir o roteiro para uma espiral alucinante, que culmina numa sequência de violência e humanização de um chefe da máfia, enquanto o filme equilibra outro núcleo dramático, com uma invasão terrorista no norte da África.

Enquanto o filme se desdobra em diferentes abordagens ao longo de suas duas horas, a moral recai nos costumes de Seiji, sua paciência e resiliência, mesmo diante de eventos trágicos. " Uma das ideias do filme era aproximar os japoneses e os estrangeiros que moram no Japão, para terem uma relação próxima, como uma família", diz o diretor.

A questão da imigração é reincidente na carreira de Yakusho, hoje com 68 anos, e espelha um dos seus primeiros trabalhos no cinema, quando interpretou um imigrante japonês no Brasil que se embrenhava pela Amazônia.

Agora, como artesão de peças belas e frágeis, seu personagem traduz novos significados para essas relações. "O aspecto primitivo, a relação com a chama, a terra e a água necessária para produzir a cerâmica foram os principais motivo da escolha do roteiro. Na cena final, Marcos se firma como um discípulo desse caminho", afirma o diretor.

"Família" é distribuído no país pela Sato Company, numa aposta mais arriscada que a dos últimos longas que trouxe, como "O Menino e a Garça" e "Godzilla Minus One", sucessos de bilheteria lá fora.

Família

Avaliação:
  • Quando: Em cartaz nos cinemas
  • Classificação: 16 anos
  • Elenco: Koji Yakusho, Ryo Yoshizawa, Lucas Sagae
  • Produção: Japão, 2023
  • Direção: Izuru Narushima

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas