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Presidente da Firjan é reeleito para seu nono mandato consecutivo

Gouvêa Vieira derrota antiga aliada e segue à frente da federação que dirige há 25 anos

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Rio de Janeiro

Há 25 anos à frente da instituição, o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, se reelegeu nesta segunda-feira (17) para seu nono mandato. Gouvêa Vieira comandará a entidade por mais quatro anos.

Por 58 votos a favor, 42 contra e 1 em branco, Gouvêa Vieira derrotou uma antiga aliada –a vice-presidente da federação e presidente licenciada da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Ângela Costa–, em uma disputa marcada por troca de acusações e debates acalorados nas redes sociais.

Os opositores de Gouvêa Vieira queixavam-se de falta de transparência na administração de um orçamento anual de cerca de R$ 1 bilhão e chegaram a recorrer à Justiça do Trabalho contra a contratação de uma empresa para a realização da votação por meio eletrônico. Prevaleceu, no entanto, o voto online.

Eduardo Eugênio é eleito presidente da Firjan pela nona vez - Ricardo Borges/Folhapress

Esse não foi o único percalço enfrentado por Gouvêa Vieira. Adversários acusaram o dirigente de desperdício dos recursos do Sistema S, como os mais de R$ 110 milhões gastos para a instalação da Casa Firjan –segundo eles, um “palacete” na Zona Sul do Rio– e os custos para mudança da marca da federação fluminense.

Em resposta, Gouvêa Vieira disse associar seus críticos “a uma verdadeira vanguarda do atraso, jurássica”.

A disputa invadiu as relações pessoais. Chegou à cúpula da campanha adversária a informação de que Gouvêa Vieira telefonara para eleitores relatando os laços de amizade de Ângela Costa com o economista Marcelo Sereno. O presidente da Firjan teria tomado a iniciativa ao saber que Sereno tinha pedido votos para a chapa de oposição.

Assessor do ministro José Dirceu no governo Lula e ex-secretário de comunicação do PT, Sereno chegou a ser preso em operação deflagrada em abril de 2018, por ter sido “indicado como o responsável pelas transações financeiras operadas pelo Fundo de Pensão Núcleos (servidores das estatais de energia nuclear) tendo manipulado o fundo para desviar dinheiro diretamente para o PT, em 2005”. Sereno, que nega irregularidades, foi solto 40 dias após a prisão.

Aliados de Ângela Costa entenderam o gesto como uma tentativa de associá-la aos alvos da Lava Jato e ao PT, estabelecendo uma contraposição à proximidade de Gouvêa Vieira com o presidente Jair Bolsonaro.

Em nota encaminhada à Folha, a candidata de oposição nega qualquer ligação com o PT, afirmando que o próprio Gouvêa Vieira a apresentou ao petista. “Encontrei o Sr. Marcelo várias vezes na residência do próprio Eduardo Eugênio, inclusive à ocasião do casamento de uma de suas filhas. Nem por isso o acuso de ter qualquer tipo de ligação com a Lava Jato”, afirmou Ângela Costa à época.

Na campanha, adversários de Gouvêa Vieira disparam mensagens com trechos do depoimento em que o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró menciona a compra da Ipiranga pela Petrobras em 2007.

Segundo o depoente, a Ipiranga pedira US$ 1 bilhão, mas a Petrobras, ao lado da Braskem e do grupo Ultra, acabou pagando US$ 4 bilhões, apesar de o valor de mercado ser US$ 2 bilhões. Ainda de acordo com ele, parte do dinheiro envolvido foi para campanhas do PT.

Na ocasião, Gouvêa Vieira, já presidente da Firjan, era integrante de uma das cinco famílias até então acionistas da Ipiranga e afirmou que a proposta havia sido "irrecusável". Cerveró apontou que a operação levantou questionamentos no conselho da Petrobras, mas foi aprovada. O ex-diretor chamou a operação de "um escândalo".

Quando procurado pela Folha durante a campanha pela reeleição, Gouvêa Vieira afirmou que o referido delator nem mesmo formula uma acusação. “A família Gouvêa Vieira é integrada por pessoas de bem. Suas reputações e trajetórias falam por si”.

Em junho, presidentes das federações das indústrias do Norte e Nordeste enviaram uma dura carta a Gouvêa Vieira. Nela, chamaram o presidente da Firjan de preconceituoso e inepto.

Em maio, Gouvêa Vieira detonou uma crise ao reclamar, em videoconferência, do critério de distribuição dos recursos a cargo da CNI (Confederação Nacional das Indústrias), que mantém um fundo de reservas destinado a estados economicamente frágeis.

Na videoconferência com presidentes dos sindicatos do Rio, Gouvêa Vieira se queixou do critério para a eleição do presidente da CNI, dizendo que a maioria dos votos são de “estados que não têm capacidade de atendimento social relevante”.

“Infelizmente eles têm maioria política e estão muito confortáveis, porque conversam lá com o presidente e recebem as benesses que bem entendem. Aqui no Sul é diferente. Temos lideranças íntegras, que administram bem os seus estados", reclamou à época.

Reeleito, Gouvêa Vieira terá mais quatro anos para se reconciliar com os presidentes das demais federações.

Para o mandato que se inicia em outubro, o presidente da Firjan se comprometeu a dar continuidade a ações de enfrentamento à Covid-19. Após a divulgação do resultado, Gouvêa Vieira afirmou que se dedicará ao recém-lançado programa de retomada em bases competitivas do Estado do Rio de Janeiro.

“São pautas com um potencial de quase R$ 123 bilhões em investimentos nos próximos anos, em concessões e PPPs, saneamento básico e gás natural. Vamos contribuir para que o estado do Rio de Janeiro supere a tempestade perfeita que atravessa há anos e volte a crescer, estimulando negócios e gerando emprego e renda para sua população."

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior desta reportagem, as acusações contra Marcelo Sereno referem-se a fatos que teriam ocorrido em 2005, e não em 2006. O texto foi corrigido.

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