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Dólar tem menor cotação em quatro meses apesar da queda da Bolsa

Real desvalorizado por crises em 2021 está atrativo para estrangeiros

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira fechou em queda nesta sexta-feira (28). A baixa foi provocada pelo movimento de investidores que venderam ações em busca de lucros após três dias seguidos de ganhos consistentes.

O Ibovespa caiu 0,62%, a 111.910 pontos. Apesar da baixa no dia, o índice de referência do mercado de ações do país completou a terceira semana no azul. O ganho semanal foi de 2,72%. Em 2022, o indicador acumula alta de 6,76%.

Uma combinação de fatores domésticos e no exterior impediu o mercado de câmbio de repetir um tradicional movimento de gangorra em relação à Bolsa —um costuma subir quando o outro cai. Nesta sessão, porém, o dólar também caiu 0,62%.

A moeda americana fechou cotada a R$ 5,39. É o menor valor em quase quatro meses, quando a divisa encerrou o dia 1º de outubro valendo R$ 5,3668. Nesta semana, o dólar cedeu 1,19%. No ano, acumula perdas de 3,33% frente ao real.

Homem caminha em frente à entrada da sede da Bolsa de Valores brasileira, em São Paulo (SP) - Rahel Patrasso - 22.dez.2021/Xinhua

O recuo do dólar ao menor patamar em quatro meses reforça o papel do câmbio como indicador de como investidores estrangeiros enxergam os riscos do país quanto à condição política e, principalmente, fiscal. Na prática, eles deixam de aplicar no mercado de um país quando temem que instabilidades podem dificultar a execução orçamentária.

Há quase cinco meses, em 7 de setembro de 2021, o dólar iniciou uma escalada, partindo de R$ 5,176, quando o presidente Jair Bolsonaro apoiou manifestações contra outras instituições democráticas, tendo o STF (Supremo Tribunal Federal) como principal alvo.

Pouco tempo depois, Bolsonaro decidiu mudar a regra do teto de gastos para viabilizar o aumento do Auxílio Brasil para R$ 400. A medida foi inicialmente percebida como um aceno populista de um mandatário que se preparava para uma disputa eleitoral, o que levou mais pressão para o câmbio.

Desde o final do ano passado, porém, houve diminuição da quantidade de movimentos do governo potencialmente prejudiciais ao equilíbrio fiscal. Isso vem tranquilizando o mercado, segundo Flávio de Oliveira, chefe de renda variável da Zahl Investimentos.

"Na ausência de notícias ruins, o Brasil está com uma moeda significativamente depreciada em relação ao dólar e os ativos brasileiros negociando a múltiplos extremamente baixos", comentou.

Em resumo, Bolsa e real estão baratos demais após meses de turbulência. Por isso, a queda da Bolsa nesta sexta ainda não deve marcar o início imediato de uma tendência de baixa do mercado acionário brasileiro. O resultado diário do Ibovespa é fruto do que, no jargão do mercado, se chama realização de lucros, explica o economista Alexsandro Nishimura, sócio da BRA.

"O Ibovespa realizou lucros recentes, em grande parte, devido ao desempenho das duas ações de maior peso do índice, Petrobras e Vale", disse.

As ações das duas exportadoras de materiais básicos caíram mesmo com o avanço das commodities que elas produzem. As quedas de Petrobras e Vale foram de 3,96% e 0,98%, respectivamente.

Os papéis do Magazine Luiza desabaram 7,06%, devolvendo de forma integral os lucros da véspera. A varejista completou a lista das três empresas com maior contribuição negativa para o Ibovespa nesta sexta.

O petróleo Brent subia 1,34% no encerramento do dia, a US$ 90,54 (R$ 488,44). A cotação da commodity está no patamar mais elevado desde 2014. A alta é potencializada pela crise envolvendo a Rússia, um dos principais produtores globais, e a Ucrânia.

Nos Estados Unidos, apesar de uma sessão de recuperação nesta sexta, as bolsas acumulam quedas. Esse é o principal fator externo que tem estimulado investidores internacionais a buscarem ganhos no mercado financeiro do Brasil, entre outros países emergentes.

Nesta sexta, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 1,65%, 2,43% e 3,13%, nessa ordem. Pela primeira vez no ano os três principais indicadores do mercado acionário americano fecharam a semana no azul.

No acumulado de 2022, porém, os índices das bolsas americanas estão negativos, com destaque para os prejuízos da Nasdaq. A bolsa que concentra empresas de tecnologia já recuou 11,98% neste ano.

O mercado acionário americano ainda digere as mensagens do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) sobre a expectativa para a elevação dos juros nos próximos meses.

Na última quarta-feira (26), o comitê de política monetária do Fed sinalizou o fim do programa especial de compra de títulos e uma alta dos juros para março. A notícia era esperada, mas a entrevista do presidente da autoridade monetária balançou as ações em Nova York.

Jerome Powell adotou um tom duro e, ao mesmo tempo, pouco detalhado sobre a necessidade de elevar juros para combater a maior inflação enfrentada pelos americanos em quatro décadas.

"Com o Fed alimentando o fogo hawkish [mais duro no combate às altas de preços], esperamos que o dólar se fortaleça, mas apenas moderadamente", disseram estrategistas do Citi em relatório desta sexta-feira.

O banco privado americano afirmou que, embora guinadas mais agressivas do Fed geralmente derrubem ativos emergentes, vários países em desenvolvimento têm mostrado "ímpeto contínuo de dados positivos", o que pode levar a ingressos de recursos.

Além disso, afirmando haver uma performance superior de moedas latino-americanas em relação a pares de mercados emergentes mais amplos no momento, o Citi disse que os investidores parecem estar atentos aos ciclos de aumentos de juros de bancos centrais, que tendem a elevar a atratividade do carrego (retorno por diferenciais de taxas) das divisas locais.

No Brasil, vários agentes do mercado já têm apontado para o patamar elevado da taxa Selic, atualmente em 9,25% ao ano, como fator importante para a queda do dólar.

Analistas avaliam a queda do dólar e a alta da Bolsa brasileira, porém, como um fenômeno momentâneo, que vai durar enquanto estrangeiros estão em busca de ganhos rápidos até a estabilização em Wall Street.

Na lógica do mercado global, o aperto monetário nos EUA reduz a liquidez mundial e, por isso, deverá diminuir o fluxo de investimentos internacionais para países de economia emergente, como o Brasil.

Com Reuters

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