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Descrição de chapéu União Europeia

Produção de armas em impressoras 3D cresce e preocupa governos

Com desenhos técnicos disponíveis gratuitamente, oficinas produzemr fuzis ou pistolas difíceis de rastrear

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Anne Sophie Labadie
Paris | AFP

Da Finlândia à Austrália, passando pela Espanha, as apreensões estão em alta e um modus operandi preocupante está surgindo: desenhos técnicos disponíveis gratuitamente, uma oficina clandestina em casa e uma impressora 3D capaz de produzir fuzis ou pistolas difíceis de rastrear.

Em 22 de setembro, a Islândia foi informada sobre a detenção de quatro homens suspeitos de planejar um ataque a instituições do Estado. O arsenal apreendido incluía três armas semiautomáticas produzidas com uma impressora 3D.

Cody Wilson, dono da Defense Distributed, mostra a arma Liberator feita em sua fábrica em Austin (EUA) - Kelly West - 1º.ago.2018/AFP

Dias antes, a Guardia Civil da Espanha descobriu a oficina clandestina de um homem de 51 anos em Bermeo (no norte do país), depois de identificar uma transação suspeita de precursores para a produção de explosivos em uma plataforma de comércio online.

A Guardia Civil apreendeu duas impressoras 3D de última geração, armas prontas para uso, artefatos explosivos, três quilos de pólvora, e mais de seis quilos de precursores, entre outros materiais, na operação, que não foi a primeira de seu tipo.

"A impressão de armas em 3D não é um fenômeno novo", disse a agência policial europeia Europol em um email à AFP, observando que produzir uma arma completa em uma impressora 3D continua a ser um "desafio", em comparação com a qualidade do armamento convencional.

No entanto, "os rápidos avanços tecnológicos podem fazer com que isso se torne uma ameaça mais significativa no futuro próximo", acrescentou a organização europeia de cooperação policial.

Avanços tecnológicos

Nos Estados Unidos, onde a produção de armas para uso pessoal é legal, Cody Wilson foi o primeiro, em 2013, a introduzir uma arma feita de plástico, excetuado o pino de disparo metálico.

O nome da arma é "Liberator", em uma referência à pistola que Washington distribuiu aos combatentes de movimentos de resistência nos países ocupados pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.

Confiando nos avanços tecnológicos, Wilson, que pode ser descrito como um criptoanarquista, procura defender a liberdade de expressão incondicional e a posse de armas, protegidas pela constituição dos Estados Unidos.

Na Europa, um homem apelidado de JStark também está ganhando renome com sua FGC-9 - abreviação de "Fuck Gun Control" - uma arma semiautomática feita 80% de plástico, com peças e materiais vendidos livremente em lojas de ferragens, para contornar proibições.

Ao mesmo tempo, a qualidade das impressoras está melhorando e seus preços estão caindo. Eles variam de algumas centenas a dezenas de milhares de dólares, a depender da tecnologia de impressão. Todo o software para configurá-las está disponível na Darknet.

De acordo com Christian Goblas, especialista em balística da Universidade de Rouen, na França, a impressão "3D em metal" se tornará acessível na próxima década, e permitirá a produção de peças mais resistentes.

Opção mais viável

Por enquanto, "uma arma totalmente plástica que não seja identificada pelos detectores de metais é uma fantasia", diz o especialista. Sem mencionar a munição.

Quem, portanto, se dedicaria à produção dessas peças, lenta, possivelmente perigosa e mais cara do que a compra de armas convencionais no mercado negro?

"É um fenômeno mundial, mas que ainda está emergindo. Abarca pessoas de perfil muito variado, e de um espectro ideológico muito amplo", resume Rajan Basra, especialista do Centro Internacional de Estudos da Radicalização, no King's College de Londres.

A maioria dos envolvidos são colecionadores motivados ou "ideólogos", "survivalists" [pessoas que se dedicam a fazer preparativos elaborados para sobreviver a possíveis calamidades], ou pessoas ansiosas para competir com as autoridades.

Quando a polícia de Hong Kong apreende armas impressas em 3D cuja produção é atribuída a oposicionistas que fazem parte do movimento pró-democracia, como aconteceu em setembro, ou quando os rebeldes da Birmânia posam nas mídias sociais portando GCF-9s, Basra os vê como a personificação de um conceito libertário primitivo.

Em menor medida, os extremistas veem as armas impressas como uma opção cada vez mais viável, especialmente em territórios como a Europa ou o Canadá, onde a aquisição de armas de fogo é ilegal ou está sujeita a licenças, de acordo com especialistas.

O homem que matou duas pessoas em 2019 em um ataque a uma sinagoga e a um restaurante turco em Halle (centro-leste da Alemanha) escolheu esse método.

Onze das últimas 12 apreensões de armas na Europa envolvem militantes de extrema-direita, de acordo com Basra.

Entretanto, é improvável que a impressão em 3D seja "o futuro do terrorismo", pois há opções "mais mortíferas e fáceis", e outras táticas inovadoras, como drones ou armas químicas e biológicas, observa Jacob Ware, um especialista do Conselho de Relações Exteriores.

O especialista em combate ao terrorismo defende, assim, que a legislação seja adaptada rapidamente, e que a ação vá além dos Estados Unidos, onde desde o final de agosto os comerciantes e fabricantes de armas são obrigados a incluir um número de série em armas impressas em 3D.

Tradução de Paulo Migliacci

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