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Descrição de chapéu BNDES

Brasil precisa fazer ajuste de R$ 200 bi a R$ 300 bi para estabilizar dívida, diz Nelson Barbosa

Segundo ex-ministro, retomar o equilíbrio das contas públicas é processo que levará 'no mínimo quatro anos'

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Rio de Janeiro

O Brasil precisa fazer um ajuste fiscal de R$ 200 bilhões a R$ 300 bilhões para estabilizar a trajetória da dívida pública, disse nesta segunda-feira (20) o economista Nelson Barbosa, diretor do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e ex-ministro da Fazenda e do Planejamento.

O tamanho exato do esforço, porém, vai depender da taxa de juros e das condições de crescimento da economia. Quanto menor é o custo da dívida e maior o avanço do PIB (Produto Interno Bruto), menos expressivo é o tamanho do ajuste.

Ainda assim, Barbosa ressaltou que é difícil acomodar um ajuste tão expressivo em pouco tempo. "Vai levar no mínimo quatro anos", disse.

O ex-ministro Nelson Barbosa, diretor do BNDES, em entrevista à Folha - Pedro Ladeira - 3.mar.2023/Folhapress

As estimativas foram apresentadas durante seminário promovido pelo BNDES sobre desenvolvimento sustentável, em momento que coincide com a discussão dos detalhes finais da proposta de nova regra fiscal a ser apresentada pelo Ministério da Fazenda.

Barbosa ressaltou que o governo tem diferentes caminhos para alcançar tal esforço fiscal, como cortar gastos ou elevar a arrecadação tributária, mas isso deve ser uma decisão política.

"Estratégias que tentaram fazer todo o ajuste por corte de gastos, cortando todo o piso da sociedade, dão errado. Estratégias que tentam fazer o ajuste tributando apenas uma parte da população, também dão errado", afirmou Barbosa.

"Nosso desafio, como geração, é tentar entender como distribuir isso. E como distribuir no tempo. Se tenta fazer muito rápido, também dá errado e o resultado não vem. Em 2015 não veio, 2017 também não veio", disse.

Nas simulações, o ex-ministro usou como referência a DLGG (dívida líquida do governo geral), que inclui governo federal, estados e municípios. Diferentemente de outros indicadores mais conhecidos (como a dívida bruta), a DLGG exclui dívidas de estatais e títulos públicos usados pelo Banco Central para fazer sua política de juros.

Segundo Barbosa, para estabilizar a DLGG no patamar de 56,4% do PIB (Produto Interno Bruto) observado no fim de 2022, é preciso atingir um superávit (arrecadação maior do que gastos) entre 1% e 2% do PIB. A projeção considera um juro real entre 4% e 5% e um crescimento da economia entre 1,5% e 2,5%.

Como o país deve ter um déficit equivalente a 1% do PIB neste ano, isso aproxima o ajuste dos 2% a 3% —equivalentes a R$ 200 bilhões a R$ 300 bilhões.

"Seja qual for a regra, acho que um princípio importante é descriminalizar a política fiscal. Menos judicialização, mais negociação, mais bom senso", disse. "Na política monetária, quando o Banco Central não cumpre a meta, tem explicação, incluindo as medidas necessárias para trazer a inflação para a meta no prazo que o BC considera necessário. Esse mesmo princípio deve funcionar também com a política fiscal."

No mesmo painel de debates, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse que não poderia antecipar detalhes da regra desenhada pela pasta. No entanto, afirmou que a proposta vai garantir "ao longo do tempo" a recuperação da sustentabilidade fiscal, "medida por uma série de índices" como superávit primário e dívida.

O secretário também minimizou o "suposto conflito" entre as alas econômica e política do governo. "Evidente que podem existir discordâncias pontuais, mas o objetivo é o mesmo de todos os integrantes do governo", disse.

Como mostrou a Folha, o debate sobre a nova regra de controle das contas públicas, liderado até o momento pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), acontece em meio a um clima de desconfiança no núcleo do governo.

Segundo aliados, Haddad restringiu a discussão a um grupo pequeno para evitar que a proposta vazasse e chegasse transfigurada às mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O desenho só foi detalhado ao chefe do Executivo nesta sexta-feira (17).

Com receio de eventuais críticas de petistas, o titular da área econômica buscou antes de mais nada conquistar o aval do chefe para, assim, evitar pedidos de modificações –mantendo o desenho o mais longe possível dos olhos da ala política. Tal cautela, porém, gerou desconforto em outras áreas do governo.

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