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82% dos consumidores dizem jogar comida fora, indica enquete

Falta de planejamento na quantidade preparada em casa e restos deixados em restaurantes estão entre motivos

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São Paulo

Enquanto cerca de 10,1 milhões de brasileiros passaram fome entre 2020 e 2022, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), 82% dos consumidores dizem jogar comida fora com alguma frequência —como sobras de alimentos e vegetais ou legumes que estragaram.

Quando questionados se jogam alimentos no lixo em alguma medida, 4% dizem fazer isso sempre, 9% fazem frequentemente, 21% disseram fazer às vezes e 48%, raramente —enquanto 18% afirmaram nunca jogar alimentos fora.

Os dados vêm de um estudo inédito da empresa de tecnologia MindMiners, em parceria com a Nestlé, com entrevistas online feitas com 2.000 consumidores e 500 proprietários ou colaboradores de empresas do setor de alimentos de todas as regiões do país.

Mulher recolhe sobra de comida em São Paulo - Eduardo Anizelli - 28.abr.21/ Folhapress

Entre os que disseram raramente ou nunca jogar algo fora, estão principalmente as famílias com filhos. Além disso, 64% dos consumidores disseram estar dispostos a consumir alimentos vencidos, a depender da situação.

Nas residências, os principais alimentos que acabam indo parar no lixo são as comidas preparadas (40%), industrializados (18%) e legumes e verduras (16%).

Em relação às empresas do setor de alimentos, 96% admitiram descartar comida, sendo que 54% disseram fazer isso sempre ou frequentemente, e apenas 4% afirmaram nunca jogar comida fora.

Entre as principais causas, a que se destaca é quantidade de comida que os clientes deixam (49%) —sendo que 2 de cada 10 dizem não se importar em deixar sobras nos pratos em restaurantes.

O destaque das comidas preparadas que acabam no lixo levou os pesquisadores a questionarem se a quantidade de comida cozinhada nas residências tem sido planejada adequadamente.

37% disseram preparar somente o que irão consumir naquele dia, enquanto 53% fazem uma quantidade maior para outras refeições ou por precaução.

Nesse ponto, o planejamento sobre o preparo de alimentos é mais forte para a classe C, o que parece refletir a maior preocupação desse grupo com as restrições financeiras da família, enquanto a classe A acaba se sobressaindo na frequência de descartes.

Entre os entrevistados pelo estudo, 52% eram mulheres e 48% eram homens, 45% eram da classe C, 40% da B e 15% da classe A.

Para reduzir o problema, os especialistas recomendam o planejamento na compra evitando excessos e sobras, o armazenamento adequado que prolongue a vida útil do alimento e a transformação de sobras em adubo para uso próprio ou doação.

"É claro que a população também deve ser conscientizada, afinal uma parte do desperdício também ocorre nas casas. No entanto, o volume diário de comida preparada e processada em uma única empresa do ramo alimentício é muito maior do que em uma casa com três pessoas. Há muito o que ser feito pelas empresas nesse sentido", disse a coordenadora de Insights da MindMiners, Juliana Tranjan, em nota.

Segundo Barbara Sapunar, diretora da Nestlé, a empresa mantém parcerias com o Mesa Brasil, rede que atua contra a fome e o desperdício, e com a ONG Banco de Alimentos, que recolhe alimentos que perderam valor de prateleira, mas ainda estão bons para consumo. "Também fazemos parte do movimento Todos à Mesa, coalizão de empresas e organizações que tem o objetivo de reduzir o desperdício de alimentos e os impactos da fome no Brasil."

Na última semana, o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo revelou que cerca de 10,1 milhões de brasileiros passaram fome no período de 2020 a 2022 —embora um patamar elevado, uma redução em relação aos anos anteriores. Ao mesmo tempo, o percentual de brasileiros que sofriam insegurança alimentar aumentou e bateu em 70,3 milhões de pessoas.

Dados de 2016 da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) apontam que 90% das perdas de alimentos ocorrem antes que eles cheguem às residências —50% se dão no manuseio e no transporte, 30% ocorrem nas centrais de abastecimento e 10% no campo. O varejo e as residências seriam, portanto, responsáveis pelos 10% restantes.

Ainda que o maior volume de desperdício não ocorra pelo consumidor final, tanto ele quanto os proprietários e colaboradores de empresas do segmento de alimentos veem as residências como as principais responsáveis por elas: 75% dos consumidores dizem acreditar nisso, e 66% dos colaboradores e empresários responderam o mesmo.

Em seguida, aparecem as indústrias de alimentos (44%), o comércio (43%) e o governo (39%), na visão dos consumidores.

Enquanto a maior parte (64%) dos consumidores diz acreditar que está fazendo o possível para combater o desperdício de alimentos, e um patamar parecido, de 66%, dos donos de estabelecimentos e trabalhadores do ramo de alimentos responderam o mesmo.

O levantamento também procurou saber se a alimentação em casa ou na rua contribui de alguma forma para o descarte de comida. 37% dizem fazer mais refeições em casa do que fora (essa resposta é ainda mais frequente para as mulheres), enquanto 8% responderam que fazem mais refeições fora de casa do que na residência.

49% afirmam que raramente pedem comida por aplicativo ou por telefone, enquanto 35% pedem comida ao menos uma vez por semana.

Pelo levantamento, a fome no mundo e no Brasil é um problema que preocupa 63% dos entrevistados, seguido pelo aumento da intolerância e da violência (49%) e pelo impacto das ações humanas no meio ambiente (42%). 85% também concordam que reduzir o desperdício no país é importante.

Segundo pesquisa da Rede Penssan, de 2022, 27 milhões de toneladas de alimentos são jogadas fora por ano, e o brasileiro joga, em média, 60 quilos de alimentos bons para o consumo. Apenas em frutas, legumes e verduras, são jogados fora R$ 1,3 bilhão anualmente.

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