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Dólar fecha em R$ 5,73, maior valor desde 2021, com tensões no Oriente Médio e decisão do Copom

Mortes de líderes do Hamas e a manutenção de juros no Brasil e nos EUA influenciaram em disparada da moeda

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São Paulo

O dólar fechou em alta de 1,43% nesta quinta-feira (1°), cotado a R$ 5,734. A disparada da moeda foi causada pelo aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio e as decisões sobre juros dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos.

A cotação desta quinta é a maior desde 21 de dezembro de 2021, quando a divisa fechou em R$ 5,739. No acumulado do ano, o dólar já subiu 16,52%.

Já a Bolsa fechou em queda de 0,20%, aos 127.395 pontos, revertendo os ganhos que havia registrado no início da sessão.

A justificativa para a disparada do dólar recai no acirramento dos conflitos geopolíticos no Oriente Médio, na visão de André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online.

Um dia depois do ataque que matou Ismail Haniyeh, líder político do Hamas, em Terãa, o governo de Israel anunciou a morte do chefe da ala militar do grupo terrorista da Faixa de Gaza. Mohammed Deif morreu, segundo o Estado judeu, em um bombardeio no mês passado.

"O ataque de Israel é muito significativo, porque agora parece haver um aval do líder iraniano para que Terãa faça uma retaliação", afirma.

Para os mercados, a escalada de tensões "tem levado parte dos investidores a buscar ativos mais seguros, como ouro e o dólar", explica Galhardo.

Isso se soma à resposta dos investidores à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada nesta quarta-feira (31) após o fechamento dos mercados.

O BC (Banco Central) optou por manter a taxa básica de juros do país —a Selic— em 10,50% ao ano. No comunicado emitido após a decisão, adotou um tom mais duro ao enfatizar a necessidade de "maior vigilância" diante das conjunturas doméstica e internacional, que demandam "acompanhamento diligente e ainda maior cautela".

O colegiado subiu suas próprias previsões de inflação. No cenário de referência do Copom, as projeções para 2024 subiram de 4% para 4,2% e, para 2025, de 3,4% para 3,6%.

Para alguns analistas, no entanto, o fato de o Copom não ter sinalizado uma possível alta nos juros é motivo de preocupação.

O comunicado "não foi tão agressivo quanto poderia ter sido, dada a deterioração das perspectivas de inflação e do equilíbrio de riscos", disse Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs.

O Boletim Focus desta semana apontou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fechará 2024 em 4,10%, ante avanço de 4,05% na semana anterior, segundo estimativas de analistas consultados pelo BC.

As previsões vêm na esteira dos últimos dados de inflação medidos pelo IPCA-15, que, pelo período de coleta, funciona como uma espécie de prévia do indicador oficial. Apesar de terem desacelerado em relação ao mês anterior, os preços subiram mais do que o esperado, a 0,30%, com a taxa de 12 meses batendo 4,45%.

O BC trabalha com a meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Com a base anual próxima ao teto de 4,50%, a dúvida agora é se o atual patamar da Selic é contracionista o suficiente para levar a inflação de volta à meta.

A autoridade monetária "se comprometeu com maior cautela, até mesmo maior vigilância, mas não conseguiu dar nenhum sinal claro de que está contemplando uma reação mais forte", disse Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco, em relatório a clientes.

"Esperamos que a taxa de referência permaneça inalterada até o fim do ano, apesar das crescentes preocupações sobre esse nível ser suficiente para promover a convergência."

O contexto, para Galhardo, da Remessa Online, mostra que "o real não está seguro nem mesmo com o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos", possibilidade que foi ofuscada nesta quinta-feira diante do balanço de riscos feito pelos investidores.

A tese de que os juros podem cair nos EUA na próxima reunião de política monetária ganhou força após o Fed manter a taxa de referência inalterada na faixa de 5,25% e 5,5%.

No comunicado, a autarquia afirmou que os preços agora estão apenas "um pouco elevados", a primeira suavização na linguagem desde que o banco central deu início à batalha contra a inflação, classificada como "elevada" nos últimos comunicados.

Isso abriu espaço para interpretações de que o ciclo de afrouxamento monetário poderá ter início na reunião marcada para 17 e 18 de setembro, à medida que a inflação continua convergindo à meta de 2%.

A autarquia usa o PCE (índice de preços de gastos com consumo, em inglês) para balizar a inflação. O índice subiu 2,5% em junho, depois de ultrapassar 7% em 2022.

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o comunicado "não foi explícito" em sinalizações sobre futuras reuniões, mas "abriu muito a possibilidade de um corte em setembro, a partir dos dados monitorados pelo Fed".

"Temos um processo de desinflação acelerado, e, ao mesmo tempo, a percepção de que a própria atividade econômica está desacelerando. Se os juros não caírem em setembro, certamente cairão nas outras duas reuniões do ano", afirma.

Em entrevista coletiva, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o comitê "não tomou decisão nenhuma sobre reuniões futuras". No entanto, acrescentou que, como a autarquia tem ganhado confiança de que as pressões sobre os preços estão mais moderadas, "a economia está se aproximando do ponto em que será apropriado reduzir nossa taxa de juros".

Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco por puxar os investidores aos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, chamados de "treasuries".

Isso significa que, quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes, além do próprio mercado acionário. No entanto, nesta sessão, as incertezas externas e domésticas minaram o otimismo dos investidores.

Na cena corporativa, o Ibovespa ainda foi pressionado por recuos da Vale e da Petrobras, as duas empresas de maior peso no índice. A mineradora perdeu 2,24%, e os papéis preferenciais e ordinários da petroleira recuaram 1,52% e 1,85%, respectivamente.

Destaque para a Ambev, que subiu 1,38% depois de reportar Ebitda ajustado de R$ 5,81 bilhões ao final de junho, 10,2% maior que o resultado do segundo trimestre de 2023.

Vivo liderou as máximas, a 4,51%, seguida por Weg (4,30%), que estendeu os ganhos de mais de 10% da véspera.

Na ponta negativa, Embraer perdeu 4,09%, em movimento de realização de lucros após a fabricante de aviões entrar em uma sequência de fortes ganhos na última semana. Dexco recuou 4,38% e Cogna, 3,95%.

Na sessão de quarta, o dólar fechou em alta de 0,64%, cotado a R$ 5,653, e a Bolsa avançou 1,20%, aos 127.651 pontos.

Com informações da Reuters

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