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Podcast mostra que empresas podem ser tão interessantes quanto 'true crime'

'Acquired' faz da história das corporações um tema pop e atrai até grandes executivos com pesquisa minuciosa

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Acquired

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No lugar de histórias mirabolantes de "true crime" e superproduções em áudio, um podcast simples, mas repleto de informação, tem conquistado os ouvidos de curiosos e dos principais executivos do mundo.

"Acquired", apresentado pelos americanos Ben Gilbert e David Rosenthal desde 2015, é daqueles tipos de programas que dependem apenas de uma boa história para fidelizar a audiência.

E, nesse caso, não é qualquer tipo de história. A origem das grandes empresas está longe de ser um tema tão atraente quanto serial killers e crimes não resolvidos.

Podcast 'Acquired' faz de história das empresas tema pop; na foto, investidores da Bolsa de Nova York - Reuters

O que começou com episódios sobre empresas de tecnologia que ou adquiriram ou foram adquiridas por outras, hoje é uma espécie de enciclopédia corporativa que merece ser guardada na estante do agregador de podcasts.

Nos últimos dez anos, o programa já se debruçou sobre Pixar, Netflix, Standard Oil, Nike, TikTok, Nvidia, LVMH e, claro, Taylor Swift.

Mesmo em episódios sobre outros setores, o foco inicial em tecnologia persiste. Isso porque trata-se, nesses casos, de pensar no assunto além de gadgets, hype e promessas vazias, mas de entender como a inovação, seja ela qual for, impulsiona a economia e gera valor.

São aulas de história econômica com exemplos concretos, que buscam explicar as engrenagens que movem a economia hoje e como elas vão se tornando maiores e mais complexas conforme interagem com outras.

Em entrevista ao Wall Street Journal, Rosenthal disse que as maiores e melhores histórias de não ficção de hoje estão nas empresas.

"O Império Romano não existe mais. Se você estiver procurando uma história como as lendas antigas, é a Apple, a Microsoft e a LVMH. Essa é a arena em que as pessoas buscam a grandeza", disse.

Mas "Acquired" só consegue tornar essas histórias corporativas interessantes para um público geral porque há por trás uma pesquisa rica em detalhes, a didática dos apresentadores e uma edição que preza pela eficiência. "Audiolivros em diálogos", como o podcast se autodescreve.

É por isso que os episódios que começaram com cerca de uma hora já alcançam hoje as cinco horas de duração, sem perder qualidade e com uma média de 800 mil ouvintes. Pelo contrário, é evidente a evolução dos roteiros e da apresentação.

Essa pesquisa extensa, estimada pelos autores em mais de cem horas por episódio, se reflete não só nas exposições factuais, mas também em análises, bastidores e opiniões de Gilbert e Rosenthal, egressos de startups.

Exemplo disso é um episódio recente sobre a Hermès, que conecta os primórdios da indústria de luxo no século 19 com a ideia de quiet luxury que permeia o consumo dos super-ricos.

Claro, há um certo tom de versão definitiva da história em que quase não há espaço para dúvidas, como tem sido frequente na literatura de não ficção com livros que buscam explicar tudo. Mas o podcast consegue demonstrar que conhecer as empresas que dominam o mundo é também uma forma de torná-las menos impessoais.

No episódio sobre o WhatsApp, por exemplo, a história começa com detalhes sobre a vida pessoal de um dos fundadores, Jan Koum, imigrante ucraniano nos EUA e autodidata da melhor espécie.

Considerando o tamanho do aplicativo, especialmente no Brasil, é enriquecedor conhecer seus segredos mais íntimos, como os bastidores das negociações com Mark Zuckerberg antes de uma possível oferta do Google e as disputas de seus fundadores com a Meta.

Quando os episódios, hoje mensais, não são dedicados às empresas, envolvem longas entrevistas com executivos como Jensen Huang, CEO da Nvidia, e Charlie Munger, braço direito de Warren Buffett —este publicado em outubro de 2023, um mês antes de sua morte.

O podcast é tão bem-sucedido em explicar negócios que se tornou ele mesmo um negócio bem-sucedido.

Em seu site oficial, ao lado de diversos elogios de executivos proeminentes, há uma página voltada para potenciais patrocinadores na qual a cota para a temporada de maio a agosto de 2025 é oferecida a US$ 900 mil. Hoje, o programa carrega consigo a marca do JPMorgan.

O formato de um episódio por empresa ainda tem a vantagem de criar a expectativa sobre os próximos, e levanta uma dúvida constante: quais empresas criadas nos últimos anos, ou até mesmo quais empresas brasileiras, poderiam ter a mesma honra?

Enquanto isso, melhor esperar pelos episódios sobre o Google e a Apple.

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