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Descrição de chapéu Governo Trump

Após 42 dias, Justiça dos EUA libera criança brasileira separada da mãe

Menino de 9 anos foi para abrigo após tentativa de entrar no país pela fronteira com o México

A brasileira Sirley Silveira Paixão abraça o filho Diego, 10, depois de recuperá-lo em Chicago, nos EUA; os dois ficaram separados por 42 dias depois que tentaram cruzar a fronteira com o México - Charles Rex Arbogast/Associated Press
 

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Nova York e Chicago

Separado da família na fronteira americana havia 42 dias, o brasileiro Diego Magalhães, 10, já sabia o que faria logo que foi entregue aos braços da mãe, nesta quinta-feira (5) em Chicago: iria ao McDonald’s. 

“Ele quer comer McDonald’s de todo jeito”, afirmou a mineira Sirley Silveira, 30, abraçada ao menino franzino de cabelos loiros, pela primeira vez em mais de um mês. 

Mãe e filho foram separados no fim de maio, enquanto tentavam entrar nos Estados Unidos pela fronteira com o México. Nesta quinta, a corte federal de Chicago determinou a liberação do menino, que estava sob os cuidados de um abrigo mantido pelo governo americano

“É um peso que saiu das minhas costas. Só estava faltando ele. Sem ele, não tinha sentido fazer nada”, declarou Sirley. “Agora, vou ter paz para construir minha vida na América.” 

Ao lado do filho, a mãe, que busca asilo nos EUA, disse que o menino emagreceu no período em que ficou no abrigo em Chicago: estranhou a comida. Mas afirmou que ele foi bem tratado, jogava futebol com os amigos, e chegou a quebrar o braço durante as brincadeiras. Seu jogador preferido? Neymar. 

Agora, os dois voam para a região de Boston, onde têm amigos e querem recomeçar a vida. “É um país que vai trazer segurança para a gente”, afirmou a mãe. 

Diego estava no mesmo abrigo de Diogo, 9, que se reuniu com a mãe, a mineira Lídia Karine Souza, 27, depois de um mês separados. 

Mãe e filho chegaram à fronteira com o México em 22 de maio. Dois dias depois, foram separados, numa consequência da política de tolerância zero do governo de Donald Trump, que apartou centenas de famílias de imigrantes na fronteira. Ela ficou detida no Texas até 13 de junho, e o menino foi enviado para Chicago –a cerca de 2.500 km de distância. 

“Separaram a gente na fronteira e só falaram que iam levar meu filho para um lugar de crianças, porque o lugar para onde eu estava indo era uma cadeia federal, e lá não era permitido haver criança”, contou, em entrevista à Folha em 29 de junho.

Sirley foi acusada de entrar ilegalmente nos Estados Unidos. “Quando fui detida, perguntei se ia saber onde meu filho estava. Falaram que sim, só que eu nunca soube. Quando saí da imigração, eles deram a certeza de que eu só ia ficar sem meu filho por cinco dias. Isso já tem um mês e seis dias. Eu não estou mais aguentando”, afirmou, na semana passada. 

“A separação continuada de mãe e filho faz mal a ambos de forma irreparável”, afirmou o juiz Manish Shah. Ele considerou que não havia mais bases para manter o menino no abrigo, e que o pedido de asilo da família tinha boas chances de ser acatado.  ​

Ao todo, mãe e filho ficaram 42 dias sem se ver. Antes de conseguir reaver Diego, Sirley afirmou ter entregue toda a documentação necessária para que a custódia do menino fosse devolvida para ela. 

A mineira disse ainda ter passado por uma entrevista de uma hora por telefone para saber se batia no filho, se era uma boa mãe. 

“Pegaram minhas digitais para saber se eu não tinha cometido nenhum crime. Para tirar ele de lá [do centro de detenção no Texas], ninguém pediu para eu assinar um papel. Para pegá-lo de volta, tive que assinar um documento de 35 folhas”, conta. 

Durante o período em que estiveram separados, Sirley teve dificuldades para falar por telefone com Diego. O sistema não atualizou o status de Sirley após ela ser liberada. “Falavam ‘consta que a senhora ainda está presa, e por isso não pode falar com ele’.” 

Sirley diz que só conseguiu contato com o filho no dia 14 de junho e que, depois, só falava com ele em dias previamente acertados com as autoridades federais. “Procure um advogado, lute por seus direitos, porque sim, é possível tirá-los de lá [dos abrigos]”, afirmou, nesta quinta. 
 

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