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Jornalistas nicaraguenses não têm para onde fugir

Há relatos de agressões a profissionais e de roubos de equipamentos

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Manágua

Na sala abafada, uma moradora de Masaya, conta, olhos marejados, como paramilitares invadiram duas vezes a casa atrás do filho —líder opositor e pai de um universitário morto nos protestos. De repente, o fotógrafo de um jornal local baixa a cabeça e começa a chorar.

Seu irmão, um dos manifestantes atrincheirados, estava desaparecido havia um dia, desde a retomada da cidade, ao lado de Manágua, por policiais e paramilitares do presidente nicaraguense, Daniel Ortega.

A sua colega de jornal o abraça e chora junto. A moradora tenta consolá-los. Todos moram em Masaya e não puderam sair de casa na véspera por causa da invasão, que deixou ao menos nove mortos. Ninguém me autorizou a citar nomes por medo de represálias.

Dos pelo menos 360 assassinados em três meses de protestos pela saída de Ortega, um era jornalista. Ángel Gahona filmava, com celular, um banco depredado durante manifestação quando levou um tiro na cabeça. De Bluefields, na costa caribenha, transmitiu a própria morte.

Relatos de agressões e de equipamentos roubados são comuns. O cinegrafista Jackson Orozco, do canal 100% Notícias, fraturou o nariz após ser golpeado por paramilitares, que, encapuzados, circulam livremente pelas ruas empunhando armas de grosso calibre.

Cobrir a Nicarágua como enviado traz algum risco —duas equipes estrangeiras foram intimidadas com tiros de advertência nesta semana. Mas contamos com as embaixadas e estamos de passagem. Os colegas locais não têm nenhuma instituição a quem recorrer nem para onde fugir.

“Todos os dias, antes de sair para trabalhar, mando uma foto para minha mãe”, me diz o repórter Wilmer Benavides, do canal 12. “Assim, ela saberá como estou vestido caso desapareça.”

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