Operação da polícia em Columbia gerou medo e tensão, diz aluno brasileiro

Estudante brasiliense afirma ter visto ação dura dos agentes e conta que colegas tiveram crises de pânico e ansiedade

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São Paulo

A operação de uma unidade de choque da polícia para desocupar um prédio tomado por manifestantes na Universidade Columbia, em Nova York, fez com que a noite de terça-feira (30) fosse de medo e tensão para os estudantes que frequentam a instituição. A ação durou quase toda a noite, e forças de segurança devem permanecer no campus até a segunda metade de maio a pedido da reitora Minouche Shafik.

"Eu me senti amedrontado, entre meus colegas tinha muita gente com muito medo. Tenho várias amigas que choraram muito e que estão tendo crise de pânico e de ansiedade com tudo que está acontecendo", contou à Folha o estudante brasiliense Arthur Campos Simões, 19.

Mesmo sem ter envolvimento com os protestos, Simões assistiu à desocupação do Hamilton Hall a partir do seu quarto na residência estudantil da universidade, onde mora e cursa engenharia financeira desde o ano passado. Da sua janela, ele tem visão completa para o acampamento onde começaram os protestos e para o prédio que foi tomado.

Os manifestantes invadiram o Hamilton Hall na madrugada de terça, depois que a universidade começou a suspender estudantes por não cumprirem ordens de desmobilizar acampamentos de manifestações contra a guerra. Eles pediam que a universidade abandonasse qualquer tipo de financiamento ligado a Israel.

A instituição recusou a demanda na noite de segunda-feira (29), e as partes não chegaram a um acordo. A reitora pediu a intervenção da polícia em uma carta pública na qual afirmava que a ocupação era liderada "por indivíduos não ligados à universidade". Ela admitiu que os manifestantes estão lutando "por uma causa importante", mas disse que os recentes "atos de destruição" a levaram a recorrer à polícia.

Simões diz que não chegou a ver confrontos diretos, mas que assistiu a uma ação dura da polícia e viu uma manifestante ser jogada das escadas por um dos agentes, enquanto outros alunos foram levados com as mãos atadas. Além disso, o brasileiro afirma ter ouvido sons que pareciam de tiros.

"Foi difícil dormir por causa do barulho e da confusão. As pessoas estão passando por um momento muito difícil aqui, e senti medo", disse.

Simões afirma que praticamente não viu vida normal em Columbia desde que chegou à universidade, no segundo semestre de 2023. A guerra Israel-Hamas, iniciada em 7 de outubro, foi o gatilho para uma série ininterrupta de manifestações no campus contra os ataques israelenses aos territórios palestinos.

E desde o começo o ambiente não tinha muita tranquilidade, avalia o estudante, com protestos que poderiam ser interpretados como antissemitas e islamofóbicos. "A tensão cresceu nos últimos dias, com a chegada da polícia, mas a atmosfera de medo já existia quando estavam só os manifestantes. A insegurança vem desde muito antes." Mesmo assim, ele diz que não havia brigas ou confrontos maiores e afirma serem falsos os relatos de que havia suásticas entre os manifestantes.

Com o aumento das manifestações e da pressão da reitoria pelo esvaziamento do campus, incluindo a prisão de mais de cem estudantes há duas semanas, a inquietação foi crescendo, e as aulas presenciais foram substituídas por híbridas.

O estudante brasileiro relata que Columbia já estava esvaziada nos últimos dias e que só quem estuda ou trabalha no campus tinha acesso a ele, com as ruas em torno tomadas por forças de segurança. Antes da entrada da polícia para desfazer os protestos, os alunos receberam mensagens da universidade alertando para que não saíssem das residências estudantis, e aos poucos foi possível ver o início da operação.

"Não me senti seguro devido ao tom dos emails que a gente recebeu da escola e pela quantidade de policiais que estavam ao redor do campus", diz Simões. A preocupação inclui o desconforto dos estudantes com a presença ostensiva de policiais dentro da universidade. "Tenho amigos que não conseguiram entrar nas suas próprias casas ontem por causa do que estava acontecendo."

Por volta das 6h da manhã desta quarta (1º), os estudantes receberam um comunicado com a informação de que o campus estava sendo reaberto —de novo, apenas para quem mora ou trabalha lá—, e que já era seguro andar livremente. Depois de retirar todos os acampamentos, porém, a polícia continua dentro da universidade.

"Precisei sair de casa para conseguir almoçar e passei por pelo menos 20 policiais no campus", afirma Simões. Além disso, ele diz que os espaços coletivos de estudo, os restaurantes universitários e as bibliotecas continuam fechados e sem perspectiva de reabertura.

Policiais se preparam para operação na Universidade Columbia, em Nova York
Policiais se preparam para operação na Universidade Columbia, em Nova York - Caitlin Ochs - 30.abr.24/Reuters

Enquanto lida com o rescaldo do desmonte dos acampamentos, a universidade também está tentando começar a organizar a formatura dos estudantes que completam seus cursos neste ano. A cerimônia está marcada para o dia 15 de maio. Columbia já começou a preparar uma arquibancada e está preenchendo áreas danificadas do gramado com grama sintética.

Mas os estudantes não estão confortáveis com o processo, segundo Simões. "Algumas pessoas queriam ter a festa porque já perderam a formatura do ensino médio por conta da pandemia. Outras estão apoiando os protestos e acham que vale a pena sacrificar a cerimônia", conta.

Esse ponto específico não o envolve diretamente, já que ele ainda está no primeiro ano do curso. Após realizar provas de conclusão de disciplinas nos próximos dias, ele viaja ao Brasil para desenvolver um trabalho no Rio de Janeiro, e deve retornar a Columbia somente para começar o segundo ano letivo. "A expectativa é que tudo volte ao normal somente no segundo semestre", diz.

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