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Com ares de filme de terror, parque na Espanha homenageia América Latina

Espaço no norte do país foi construído por espanhol que fez fortuna na Argentina

Escultura do parque Passatempo, em Betanzos, Espanha - Rafael Balago/Folhapress

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Betanzos

No final do século 19, um espanhol que fez fortuna na Argentina resolveu voltar para sua cidade natal. Ele queria mostrar aos amigos e vizinhos o que tinha visto pelo mundo e, em uma época na qual a fotografia engatinhava, resolveu montar um parque em Betanzos, no norte da Espanha. 

Mais de cem anos depois, o lugar está em ruínas e lembra o cenário de um filme de terror. 

Chamado de Passatempo, o parque buscava entreter e ensinar. Há réplicas de esculturas de Paris, painéis sobre as maravilhas do mundo na época, homenagens aos países da América Latina e lições de como vencer na vida.

Em uma parede, um organograma mostra a “árvore genealógica do capital”. Ele ensina que ao somar elementos como vontade, trabalho, ordem, economia e constância, surge a riqueza.

Em outro painel, 41 relógios parados lado a lado mostram as diferenças de hora entre várias cidades do mundo. O maior deles destaca Buenos Aires.

Perto dos relógios, há uma homenagem à “Espanha monárquica e suas 18 filhas republicanas”, na qual brasões dos países da América Latina são dispostos lado a lado, inclusive o do Brasil.

Painel que mostra a diferença de hora em várias cidades do mundo - Rafael Balago/Folhapress

O lugar também traz referências a grandes obras humanas como o Canal do Panamá, a Muralha da China e as pirâmides do Egito. Na parte mais alta, há um leão de pedra que lembra uma esfinge. 

No entanto, todas essas homenagens estão parcialmente cobertas por folhas e limo e com pedaços faltantes. Há esculturas de pessoas e de animais sem pernas ou sem cabeça, cavernas escuras e paredes parcialmente caídas. 

Com a falta de manutenção, a visita ao parque se tornou um jogo para tentar entender o que cada obra representa e porque cada uma delas teria sido colocada ali. 

O Passatempo foi ideia de Juan García Naveira, galego que nasceu em Betanzos, cidade que soma atualmente cerca de 12 mil habitantes. Ele fez fortuna na América do Sul e decidiu voltar à sua terra natal em 1893. Ao retornar, ele e o irmão, Jesús, usaram sua riqueza para fazer benfeitorias, como um hospital, um abrigo para crianças com deficiência e um parque público.

O Passatempo começou como um jardim e foi recebendo adornos e esculturas, sem muito planejamento, ao longo de mais de 20 anos. Juan viveu até os 83 anos. Depois de sua morte, em 1933, o parque entrou em decadência. A crise econômica mundial da época arruinou os negócios da família e os recursos para o lugar acabaram.

Alguns anos depois, durante a Guerra Civil espanhola (1936-1938), foi criado um campo de prisioneiros republicanos nos arredores do parque. Depois do conflito, a Espanha viveu mais anos de crise. O Passatempo teve diversas estruturas saqueadas e ficou abandonado até os anos 1980, quando surgiu um movimento para recuperá-lo.

Em 1986, a prefeitura de Betanzos comprou o espaço e o transformou em área pública. Mas a recuperação plena das estruturas nunca foi feita e o ar de abandono segue desde então. 

“A atuação do governo é inexistente. Não há funcionários para cuidar da limpeza ou da segurança”, critica Ángel Barral, 30, integrante da Associação de Amigos do Passatempo. “Quando houve a compra, a prefeitura fez uma reforma, mas desde então nada mais foi feito”.

A associação reúne cerca de cem pessoas e faz ações para ajudar a conservar o espaço, como mutirões de limpeza, e ações de divulgação, para atrair mais visitantes. 

No final de outubro, um pedaço da fonte do lago principal cedeu, o que levou ao fechamento de parte do parque. Dois meses depois, o projeto de recuperação da estrutura ainda estava sendo elaborado.

Restaurar o espaço deve custar ao menos 600 mil euros (R$ 2,6 milhões). O dinheiro foi incluído no orçamento da Xunta de Galicia (espécie de governo estadual) em março de 2018, mas o projeto de recuperação completa tampouco foi concluído. O estudo é feito pela prefeitura, em parceria com outros órgãos. Não há previsão para a conclusão e nem para a reforma.

Para Barral, a recuperação do parque não seria difícil. “O Passatempo foi quase todo feito com cimento, que era o material moderno da época e não requer grande investimento.”

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