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Descrição de chapéu The New York Times Venezuela

Enfermeira viaja de carona para socorrer menina cuja foto chamou atenção para a fome na Venezuela

Anailin Nava tem 2 anos mas parece bebê de colo por causa de desnutrição e doenças não tratadas

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Isayen Herrera Anatoly Kurmanaev
Caracas | The New York Times

Quando a imagem de uma menina venezuelana começou a circular na semana passada, a reação foi quase instantânea.

Ela tem dois anos de idade, mas a subnutrição e doenças não tratadas a deixaram com um corpo combalido, que a faz parecer um bebê de colo. Passa os dias deitada, em companhia de sua família, no barraco dilapidado em que vivem.

O nome da menina é Anailin Nava, e quando leitores viram sua foto em uma reportagem do The New York Times sobre o colapso econômico da Venezuela, muitos deles sentiram o mesmo impulso: ajudar o país dela a enfrentar sua grave crise humanitária pode ser difícil, mas certamente seria possível fazer alguma coisa por aquela menina.

Anailin, 2, sofre de severa desnutrição e de doença neurológica, na ilha de Toas, na Venezuela - Meridith Kohut - 6.mai.19/The New York Times

No domingo, a assistência começou a chegar.

A escassez de gasolina paralisou boa parte da Venezuela, mas a enfermeira Fabiola Molero, que trabalha para a organização assistencial católica Caritas, fez uma mala, carregando uma balança e 15 dias de suplementos nutricionais, leite e comida, e viajou de carona da cidade de Maracaibo, no oeste do país, para a ilha de Toas, onde vive Anailin.

Molero trabalhou por 20 anos como enfermeira em hospitais públicos, mas três anos atrás ela deixou o emprego e começou a trabalhar como voluntária para a Caritas, para ajudar a combater a fome que estava devastando seu país.

"Trabalhei em um hospital e deixei o emprego porque não conseguia encarar o fato de que crianças estavam morrendo nos meus braços por falta de comida", ela disse.

Restos de animais no abatedouro de Machiques, na Venezuela, antes um dos maiores da América Latina - Meridith Kohut - 4.mai/The New York Times

Quando ela iniciou sua jornada, no domingo, o objetivo era ajudar Anailin e avaliar a condição das demais crianças em sua comunidade.

O estado de Zulia, que abriga Toas, foi especialmente prejudicado pelo colapso da economia da Venezuela. A ilha está praticamente isolada do continente, depois que os barcos que serviam como transporte público saíram de serviço por falta de peças sobressalentes.

Sacas trazendo alimentos subsidiados fornecidos pelo governo chegam a cada cinco meses, mas a comida é consumida pelas famílias da ilha em uma semana, de acordo com Maibeli Nava, a mãe de Anailin, e seus vizinhos.

Molero disse que o caso de Anailin é o pior que já viu. A família da menina frequentemente não consegue alimentá-la mais de uma vez por dia —e em muitas ocasiões ela só tem arroz ou farinha de milho para comer.

O caso severo de desnutrição da menina é complicado por uma doença neurológica genética, que causa convulsões e problemas musculares e torna a digestão difícil, disse a enfermeira.

Pedreira abandonada na ilha de Toas, na Venezuela - Meridith Kohut - 6.mai/The New York Times

Anailin, cujo peso equivale à metade do que ela deveria ter, está fraca demais para ser transportada, disse Molero. Mas pode ser tratada em casa até que ganhe forças suficientes para ser levada a um neurologista, ela acrescentou.

"Minha nenê estava muito deteriorada, em péssimo estado", disse Nava, 25. "Pensei que minha filha ia morrer. Ela nem me dava a mão quando eu tentava brincar com ela."

A chegada da enfermeira e a comida que ela levou fizeram diferença imediata, disse Nava. "Ela está contente, agora."

Molero disse que sua chegada levou os vizinhos, inclusive as mães e as pessoas mais velhas da região, a formar fila diante da casa de Nava, em uma das aldeias de pescadores de Toas. Queriam pedir ajuda, disse Molero.

"Meus vizinhos estão morrendo por falta de remédios", disse Nava.

Armazéns que começaram a ser construídos como parte de programa do governo mas ficaram inacabados, em Maracaibo, Venezuela - Meridith Kohut - 6.mai/The New York Times

A crise econômica deixou a ilha sem suprimentos médicos, ainda que ela seja atendida por dois hospitais e três clínicas de pronto socorro.

Toas costumava ser um lugar de turismo, mas a deterioração na economia e infraestrutura do país causou blecautes frequentes e prolongados, bem como quedas nos serviços de telefonia.

"Estou preocupada porque há muitas mulheres grávidas e o hospital não está funcionando", disse Molero.

Das 26 crianças que ela avaliou, 10 sofriam de subnutrição. Quase todas exibiam bolhas e abscessos na pele causadas pela baixa qualidade da água, disse a enfermeira. A usina de dessalinização da ilha está fora de operação há anos.

"A condição de nossas crianças piora a cada dia", disse Molero, 43.

Outros voluntários que trabalham com ela planejam uma visita médica à ilha para levar suplementos nutricionais e avaliar outras 40 crianças.

Molero disse que a escassez de laticínios, que costumavam ser enviados do continente, realmente prejudica as crianças. Sem leite, as famílias mais vulneráveis estão preparando a papa de suas crianças com banana da terra em pó, ela disse.

E a escassez de gasolina torna difícil levar ajuda, disse a enfermeira.

"Estamos nos segurando por um fio, aqui, porque praticamente não temos recursos", disse Molero.

Tradução de Paulo Migliacci

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