Erro em prova para entrar no Itamaraty obriga ministério a refazer correção
Testes levavam número de inscrição de candidatos, o que é proibido pelo edital de convocação
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
3 meses por R$1,90
+ 6 de R$ 19,90 R$ 9,90
ou
Cancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Um erro na aplicação do concurso de admissão de diplomatas levou o Ministério das Relações Exteriores a fazer uma nova correção da prova —com outra banca examinadora—, o que atrasará a conclusão do processo por tempo não determinado.
De acordo com o instituto, as folhas de respostas das provas da segunda fase do exame tinham o número de inscrição dos candidatos, algo proibido pelo edital de convocação.
Em tese, esse número permitiria ao examinador saber o nome da pessoa da prova que ele estava corrigindo, afetando a imparcialidade do concurso.
Realizada anualmente desde 1946, a seleção atual foi convocada para escolher 20 novos diplomatas, com salário inicial de cerca de R$ 19 mil.
Esta foi a primeira vez em 26 anos que o concurso não foi organizado pelo Cebraspe —o antigo Cespe, vinculado à UnB (Universidade de Brasília).
Para a aplicação do exame sob a gestão do ministro Ernesto Araújo, o Itamaraty decidiu contratar o Iades, sob argumento de “preço mais baixo na pesquisa de mercado e proposta técnica adequada às necessidades do Ministério de Relações Exteriores”.
Menos tradicional, o instituto foi fundado em 2009 e desde então realizou duas centenas de seleções para órgãos estaduais e estruturas do segundo escalão do governo federal.
A segunda etapa do exame foi realizada entre os dias 12 e 20 de outubro, e os pouco mais de 200 candidatos convocados deram respostas discursivas para questões sobre história do Brasil, geografia, política internacional, economia, direito e direito internacional.
Também houve perguntas no mesmo formato nas provas de português, inglês, espanhol e francês.
Com o erro identificado, o Itamaraty deverá publicar uma nova lista preliminar do resultado do concurso —a primeira foi disponibilizada em 5 de novembro.
Essa lista traz todos os candidatos que fizeram a segunda fase, com as respectivas notas atribuídas.
Embora não seja uma lista de aprovados, as pessoas que participam da concorrência têm uma ideia, a partir da média de suas notas, da classificação atingida.
A relação definitiva com os aprovados só é divulgada após a análise pela banca examinadora dos recursos apresentados pelos postulantes que tentam melhorar sua avaliação.
Agora, isso só será feito depois da nova correção determinada pelo Itamaraty.
O descumprimento de um dos itens do edital foi alvo de uma denúncia apresentada ao Ministério Público do Paraná.
A procuradoria enviou ofícios ao Iades e à diretoria do Instituto Rio Branco (escola de formação dos diplomatas) pedindo esclarecimentos.
O processo tramita em sigilo e ainda não foi concluído, mas o Ministério das Relações Exteriores decidiu se antecipar e determinar o reexame dos testes.
De acordo com interlocutores que acompanham o tema, o Itamaraty avalia que uma segunda correção das provas será possível porque o número de identificação que está nas folhas de respostas será apagado.
Dessa forma, os novos examinadores não teriam como saber a quem corresponde os testes que eles analisarão.
Nesse caso, o código que permite a conexão da folha de resposta ao candidato fica com a empresa organizadora, que faz a associação sem o conhecimento do examinador.
“Trata-se de nova correção das mesmas provas, por banca avaliadora diferente, de forma a evitar qualquer dúvida sobre a não identificação dos candidatos. A data de publicação dos resultados será oportunamente divulgada pelo Instituto Rio Branco”, disse o ministério em nota.
Candidatos que realizaram a prova ouvidos pela Folha relataram preocupação com a situação.
Mesmo que as regras do exame levantem pontos para aumentar a objetividade das correções, eles lembram que respostas discursivas sempre contêm um grau de subjetividade, o que pode gerar diferenças entre o resultado preliminar divulgado em novembro e o que será refeito.
Além do mais, eles temem que o erro aumente o risco de judicialização do resultado final.
Esta não é a primeira polêmica que atinge o exame do Itamaraty de 2019. Publicado em 8 de julho, o edital do concurso não trouxe temas exigidos nas duas últimas edições do exame.
Foram retirados os conteúdos “diferenças na política econômica entre o primeiro e o segundo mandato do governo Lula”, “efeitos positivos das políticas distributivas de renda” e “nova matriz econômica” —medidas adotadas na gestão Dilma Rousseff.
Também foi cortado o item “reformas institucionais do governo Fernando Henrique Cardoso”, embora tenham sido preservados ainda os pontos “economia brasileira nos anos 90” e “Plano Real.”
As alterações não se limitaram a economia. O item “Políticas de identidade: gênero, raça e religião como vetores da política mundial”, que constou nas seleções de 2018 e 2017, foi trocado por “Direitos humanos, liberdade religiosa e políticas de identidade.”
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters