Relatório aponta que 600 civis foram mortos em massacre étnico na Etiópia
Ação aconteceu no início de novembro; região norte do país é palco de confronto entre Exército e grupo separatista
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Ao menos 600 pessoas foram mortas no início de novembro num massacre realizado em meio a um conflito étnico no norte de Etiópia, segundo informações divulgadas nesta terça-feira (24) por um órgão público de defesa dos direitos humanos.
A ação, no dia 9, aconteceu na região do Tigré e teve a participação de policiais e de uma milícia ligada a grupos separatistas locais, diz o relatório preliminar da Comissão de Direitos Humanos Etíope —órgão independente, mas que tem sua direção indicada pelo governo etíope. As vítimas eram trabalhadores agrícolas temporários que pertenciam a uma etnia diferente da dos autores do ataque, diz o texto.
A região tem sido palco de confrontos entre os grupos separatistas e o governo nacional.
O relatório acusou uma milícia informal composta por jovens do Tigré e membros das forças de segurança locais de terem cometido uma "carnificina" contra os trabalhadores temporários.
A ONG Anistia Internacional (AI) já tinha informado anteriormente que centenas de civis tinham sido mortos a golpes de facas e de machados na cidade de Mai Kadra, próximo à fronteira com o Sudão, mas não havia uma estimativa oficial do número de vítimas.
Com a quantidade de mortos, esse se torna o maior massacre conhecido na Etiópia desde o início da operação militar lançada pelo governo nacional em 4 de novembro contra as autoridades regionais da Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF).
O documento divulgado pela comissão afirma que a milícia informal de jovens do Tigré, denominada Samri, contou com o apoio das forças de segurança locais vinculadas ao TPLF no ataque.
O texto diz ainda que, antes de recuar após o avanço do Exército etíope, o grupo atacou agricultores de origem étnica amhara e wolkait que trabalhavam nas fazendas de gergelim ou sorgo —um tipo de cereal.
Ainda segundo o relatório, os membros das duas etnias foram submetidos a um "grande medo e pressão" desde o primeiro dia do conflito e foram proibidos de circular livremente na cidade.
Na manhã da ação, a polícia local fechou todos os pontos de saída de Mai Kadra e verificou as carteiras de identidade dos residentes para "diferenciar as pessoas de origem não tigrínia do resto", afirma o texto.
Na tarde do dia 9, um grupo formado por jovens de Tigré e policiais foi a um bairro na cidade onde vive a maioria dos não tigrínios. O grupo matou, então, um fazendeiro amhara na frente de sua família e depois incendiou o corpo e a casa. A comissão que analisou o caso conversou com a mulher do homem assassinado e com outras testemunhas da ação.
Como o acesso à região foi fechado para jornalistas, veículos de imprensa não puderam confirmar as informações do relatório de maneira independente. O texto diz ainda que as ações "podem constituir crimes contra a humanidade e de guerra".
Com base em depoimentos e declarações de membros do comitê criado para enterrar as vítimas, o documento calcula que ao menos 600 civis morreram, mas afirma que o saldo de mortos pode ser ainda maior, já que muitas pessoas seguem desaparecidas.
Os enterros das vítimas levaram três dias, de acordo com o relatório. A ONU (Organização das Nações Unidas) solicitou uma investigação para determinar o que aconteceu exatamente em Mai Kadra.
Em uma rede social, o premiê etíope, Abiy Ahmed, pediu que a “comunidade internacional condene esses terríveis atos de crimes contra a humanidade”. Ele ganhou destaque no ano passado após receber o Nobel da Paz devido às negociações que levaram ao fim dos 20 anos de conflito com a vizinha Eritréia.
Apesar das acusações feitas pelo relatório, o TPLF nega envolvimento no ataque. Moradores da região que conseguiram fugir para o Sudão já acusaram as forças do governo de Ahmed de terem cometido atrocidades na cidade.
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