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Política pós-pandemia vai aliar nacionalismo e cooperação, diz especialista em governança

Em debate no Fórum Econômico Mundial, reitora de Escola de Governo da Universidade de Oxford diz que história já mostrou colaboração em momentos de crise profunda

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Bruxelas

A política pós-pandemia de coronavírus terá ao mesmo tempo doses de nacionalismo e cooperação internacional, afirmou nesta quinta (28) Ngaire Woods, reitora da Escola de Governo Blavatnik, da Universidade de Oxford, e professora de governança global.

Em debate sobre como redesenhar a política após a pandemia, promovido pelo Fórum Econômico Mundial, ela disse que, assim como ao final da Segunda Guerra Mundial, as nações serão pressionadas a “arrumar primeiro os seus quintais” antes de pensar em grandes projetos globais.

“Líderes e governos terão que colaborar com seus parceiros da economia para dar oportunidades aos seus cidadãos ao mesmo tempo em que promovem a cooperação internacional”, disse Woods. Para ela, há pelo menos três áreas em que essa cooperação será incentivada: na vitória sobre o coronavírus, no investimento para a reconstrução econômica e na ajuda humanitária.

“Já fizemos isso em momentos de divisões muito mais agudas, sob ameaça de uma hecatombe nuclear”, afirmou, dizendo estar cautelosamente otimista.

Ngaire Woods, reitora da Escola de Governo Blavatnik, da Universidade de Oxford - Adriano Vizoni - 15.mar.2018/Folhapress

Para o jornalista Martin Wolf, editor-associado e principal colunista econômico do jornal britânico Financial Times, o mundo passa por um de seus maiores desafios, e as decisões tomadas pelos governos nos próximos anos vão moldar o mundo de maneira muito profunda. “Este é um daqueles momentos em que se faz, refaz ou desfaz a ordem mundial e a ordem política doméstica”, disse ele.

Uma das grandes questões para Wolf, que coordenou o debate, é a perspectiva de que a China se torne o poder dominante, assumindo o lugar dos Estados Unidos. Ele argumenta que em vários países do mundo a legitimidade dos poderes político e econômico foi desafiada, e não será trivial reconstruir a confiança nos governos à sombra de um poder emergente que tem um sistema completamente diferente dos do mundo ocidental.

Preocupação semelhante foi expressa por David Rubenstein, cofundador e principal executivo de um dos maiores grupos de private equity do mundo, o Carlyle. “Os EUA recuaram em sua liderança global sob o governo de Donald Trump e ficará mais difícil recuperar a imagem americana depois que o mundo assistiu horrorizado à invasão do Congresso”, disse ele.

Paralelamente ao recuo dos EUA, a China mostrou eficiência no combate à pandemia e recuperou rapidamente seu crescimento econômico, o que lhe deu uma posição relativa ainda melhor na liderança global, disse ele.

Rubenstein apontou ainda que a administração do presidente Joe Biden terá que lidar com um forte crescimento na desigualdade, em um grau que não será fácil de resolver nem mesmo com estímulos econômicos.

O aumento da desigualdade foi, segundo Wolf, um dos principais impactos negativos da pandemia: “As maiores perdas de vida foram entre os idosos, mas as maiores perdas econômicas foram entre as mulheres, as minorias e os menos qualificados, reabrindo o abismo”. Ao mesmo tempo, segundo ele, “há muita raiva nas duas pontas do espectro político” —nos que defendem pautas identitárias como o Black Lives Matter e na extrema direita— o que dificulta a tarefa de um governo centrista.

O momento é “catalítico”, nas palavras de Lysa John Berna, diretora da Civicus, entidade não governamental que promove a participação dos cidadãos na política. “Após uma década de descontentamento, as pessoas chegaram a um ponto em que não têm nada a perder, e a pandemia, por ser um fenômeno global, acabou conectando todos os insatisfeitos com o sistema e alimentando os movimentos”, disse.

Embora Wolf tenha apontado que a influência global da China, de governo centralizador, poderia ser um obstáculo para a atuação dos movimentos cívicos, Berna disse que eles estão organizados de forma muito horizontal, sem uma liderança central ou uma máquina única, o que permite que sobrevivam a pressões de governos autoritários.

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