Protestos levam dezenas de milhares às ruas em Mianmar em meio a bloqueio de internet
Manifestantes pedem fim de governo militar que deu golpe de Estado na segunda-feira
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Os protestos contra um golpe militar em Mianmar ganharam força no sábado (6). Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas em Rangoon, maior cidade do país, e na capital, Naypidaw. No dia anterior, os atos haviam reunido algumas centenas.
Os manifestantes pedem a retomada da democracia e a libertação dos líderes presos. Eles marcharam até a sede da prefeitura de Rangoon, que foi tomada por militares no início da semana. Em Naypidaw, motos soaram buzinas e ativistas cantaram músicas contra o regime.
Em meio aos atos, o novo governo determinou o corte no acesso à internet e o bloqueio a redes sociais. A Telenor, uma das principais operadoras de telecomunicação do país, confirmou que as autoridades militares ordenaram o bloqueio do Twitter e do Instagram, sem previsão de retomada.
Ao longo da manhã de sábado, o país registrou dificuldades no acesso à internet por todo o território, segundo a ONG NetBlocks, que monitora o acesso à internet.
Para desviar do bloqueio, muitos ativistas usaram VPNs, redes virtuais que mascaram a origem do acesso.
Na quarta-feira (3), o Exército bloqueou o Facebook, uma das redes mais utilizadas pelos mianmarenses. Outros serviços da empresa, como o WhatsApp, também registram interrupções.
O objetivo é censurar opositores ativos nas redes sociais e desarticular os atos de resistência. Na redes, as hashtags #WeNeedDemocracy, #HeartheVoiceofMyanmar ou #FreedomFromFear dão visibilidade internacional aos apoiadores da democracia no país.
O "apagão virtual" atual tem alcance similar ao determinado na segunda (1º), quando o Exército deu um golpe e prendeu a cúpula do governo civil, incluindo o presidente Win Myint, e assumiu o controle do país, interrompendo o processo de transição democrática iniciado há uma década.
Os militares também detiveram a conselheira de Estado, Aung San Suu Kyi, que era na prática a governante do país, sob uma acusação obscura de violação de normas comerciais —ela teria importado ilegalmente seis walkie-talkies.
Devido ao histórico de reações violentas contra protestos no país, ao longo da semana grupos de ativistas criaram um movimento de desobediência civil que tem crescido à medida que as nuances do golpe militar ficam mais claras para a população.
De início, a participação mais significativa foi entre os profissionais da saúde. Depois, estudantes e professores também passaram a protestar.
De acordo com o movimento, médicos, enfermeiros e outros funcionários de mais de 70 hospitais públicos de 30 cidades entraram em greve. Muitos dos que continuam em atividade têm usado fitas vermelhas nos uniformes para marcar a oposição ao regime militar.
As fitas também puderam ser vistas nas manifestações deste sábado. O vermelho é cor da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Suu Kyi.
Usando também máscara e lenços, os manifestantes gritavam “abaixo a ditadura militar” e fizeram uma saudação com três dedos da mão apontando para cima.
O gesto vem da franquia de livros e filmes “Jogos Vorazes” e é usado como demonstração de agradecimento, admiração e despedida de alguém amado. Na vida real, a mesma saudação foi usada em protestos realizados em Hong Kong e na Tailândia.
Cronologia da história política de Mianmar
- 1948: Ex-colônia britânica, Mianmar se torna um país independente
- 1962: General Ne Win abole a Constituição de 1947 e instaura um regime militar
- 1974: Começa a vigorar a primeira Constituição pós-independência
- 1988: Repressão violenta a protestos contra o regime militar gera críticas internacionais
- 1990: Liga Nacional pela Democracia (LND), de oposição ao regime, vence primeira eleição multipartidária em 30 anos e é impedida de assumir o poder
- 1991: Aung San Suu Kyi, da LND, ganha o Nobel da Paz
- 1997: EUA e UE impõe sanções contra Mianmar por violações de direitos humanos e desrespeito aos resultados das eleições
- 2008: Assembleia aprova nova Constituição
- 2011: Thein Sein, general reformado, é eleito presidente e o regime militar é dissolvido
- 2015: LND conquista maioria nas duas Casas do Parlamento
- 2016: Htin Kyaw é eleito o primeiro presidente civil desde o golpe de 1962 e Suu Kyi assume como Conselheira de Estado, cargo equivalente ao de primeiro-ministro
- 2018: Kyaw renuncia e Win Myint assume a Presidência
- 2020: Em eleições parlamentares, LND recebe 83% dos votos e derrota partido pró-militar
- 2021: Militares alegam fraude no pleito, prendem lideranças da LND, e assumem o poder com novo golpe de Estado
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