Biden usa até origem do vírus ao reciclar arsenal de Trump contra a China
Decisão do Facebook sobre postagem mostra que democrata conta com boa vontade nos EUA
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Que Joe Biden não iria reinventar a roda na relação conflituosa estabelecida por Donald Trump com a China, isso era uma certa obviedade após a vitória do democrata sobre o republicano em 2020.
Que o novo presidente tenha reciclado até a disputa sobre a origem do coronavírus do arsenal do seu antecessor, isso traz sobriedade analítica a quem ainda tem ilusões acerca do "bem" e do "mal", aspas compulsórias, na política americana.
Antes de mais nada, é necessário diferenciar o que Biden pediu para as agências de inteligências dos EUA apurarem dos trumpismos vomitados em rede social desde o começo da pandemia da Covid-19, nos primórdios do ano passado.
O democrata quer ver estabelecido se o Sars-CoV-2 passou de algum bicho (morcego? pangolin? ambos? outro?) para o ser humano ou se ele pode ter escapado acidentalmente do Instituto de Virologia de Wuhan, na China. A dúvida honesta é objeto de especulações que ganharam força com a descoberta de que casos de doença semelhante à Covid-19 foram registrados no órgão antes do começo da pandemia.
Trump alimentou durante toda a pandemia essa alternativa, deixando para seus acólitos a versão mais delirante da teoria: o vírus teria sido criado pelo homem com intuitos bélicos, para alavancar a posição econômica chinesa.
Como se sabe, tal ideia foi enunciada pelo presidente Jair Bolsonaro recentemente, mostrando que Trump pode ter sido ejetado da Casa Branca, mas o trumpismo vive bem por aí.
A investigação da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre o caso, que considerou um incidente de laboratório "extremamente improvável", é por si própria criticável.
A relação do órgão com a China e seu manejo inicial das informações sobre a pandemia sempre foram alvo de reparos, e não apenas da parte de radicais populistas. Mesmo fake news também saíram de Pequim, com insinuações sobre uma origem americana do vírus.
Isso tudo dito, é evidente que as agências americanas não conseguirão avançar muito sobre o assunto, dado o grau de fechamento da ditadura de Pequim, assim como é claro que para Biden isso é ao fim irrelevante. O que importa é manter a China sob pressão.
Chama a atenção, como subtexto desse capítulo novo da Guerra Fria 2.0 entre as duas maiores economias do mundo, a mansidão institucional americana, ainda embevecida com o fato de que o constrangedor Trump não está mais no comando.
O gigante Facebook, por exemplo, decidiu que a partir de agora não usará seu selo de fake news para postagens que sugerirem a origem do vírus em um acidente de laboratório. O argumento deveria ser óbvio: diferentemente do que ocorreu até aqui com a cloroquina, ineficaz contra a Covid-19 segundo uma miríade de estudos, a questão do pulo do Sars-CoV-2 para humanos sempre foi algo obscuro.
Mas a impressão que fica é que se o autor da proposição fosse novamente Trump, nada ocorreria nas regras de engajamento da rede social.
A agressividade de Biden ante o colosso chinês reflete, de todo modo, um fato inescapável no século 21. Os EUA são a potência estabelecida, e a China, o rival emergente.
Washington está longe de ver o jogo virar em favor dos chineses, dado o tamanho de sua economia e de seu poderio militar, mas manter o status quo requer alerta e alarmismo na mesma medida.
E é aí que entram as suspeitas, comprováveis ou não, sobre descuido de algum técnico de Wuhan ao estudar os insidiosos coronavírus que pululam entre nossos primos quirópteros.
Embora o tema seja vital para a compreensão da pandemia que já matou mais de 3,5 milhões de pessoas, é o embate geopolítico central do nosso tempo que pauta a assertividade de Biden.
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