Biden pede aos serviços de inteligência relatório em 90 dias sobre origem do coronavírus

Presidente diz que comunidade científica ainda não tem resposta definitiva; para OMS, hipótese de passagem de animal para humano é a mais provável

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Benjamin Mueller Noah Weiland
The New York Times

O presidente americano Joe Biden pediu nesta quarta-feira (26) que os órgãos de inteligência dos Estados Unidos "redobrem seus esforços" para determinar as origens do coronavírus, dizendo em um comunicado que está solicitando um amplo relatório que inclua as conclusões de laboratórios americanos e de outras agências federais sobre se o vírus vazou acidentalmente de um laboratório ou foi transmitido por um animal para os seres humanos.

Ele pediu que as autoridades de inteligência entreguem a ele em 90 dias os resultados de seu trabalho e mantenham o Congresso "totalmente informado".

A declaração de Biden foi feita enquanto autoridades de saúde renovavam seus apelos nesta semana por uma investigação mais rigorosa das origens do vírus, enquanto a Organização Mundial de Saúde (OMS) enfrenta crescentes críticas por um relatório que rejeitou a possibilidade de o patógeno ter escapado acidentalmente de um laboratório chinês.

Em sua declaração, Biden disse que pediu a seu assessor de segurança nacional em março que incumbisse oficiais de inteligência de fazer um relatório sobre suas últimas análises das origens do vírus, que ele disse ter recebido no início deste mês antes de pedir um "acompanhamento adicional". Biden disse que a comunidade de inteligência "convergiu em torno de dois cenários prováveis", mas não respondeu definitivamente à pergunta.

"Esta é sua posição atual: 'dois elementos na comunidade de inteligência e inclinam para o primeiro cenário e um tende mais para o segundo —cada qual com confiança baixa ou moderada—, mas a maioria dos elementos não acredita que haja informação suficiente para avaliar que um seja mais provável que o outro", disse Biden.

Os pedidos do presidente e de autoridades de saúde americanas foram as últimas de uma série de demandas da Casa Branca nos últimos meses de que qualquer inquérito semelhante seja livre de interferência chinesa. Mas eles chamaram mais atenção pois alguns cientistas manifestaram uma nova abertura à ideia de um acidente de laboratório, e a OMS não soube bem como responder.

Xavier Becerra, o secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, disse em uma reunião anual da OMS na terça (25) que se preparar para a próxima pandemia exige um estudo mais completo das origens desta. "A fase 2 do estudo das origens da Covid deve ser lançada com termos de referência que sejam transparentes, baseados na ciência, e deem a especialistas internacionais a independência para avaliar plenamente a fonte do vírus e os primeiros dias do surto", disse Becerra.

Andy Slavitt, um dos assessores para o coronavírus do presidente Biden, foi mais direto em suas críticas à OMS e à China. Um inquérito conjunto OMS-China cujas conclusões foram divulgadas em março rejeitou como "extremamente improvável" a possibilidade de que o vírus tenha saído acidentalmente de um laboratório.

"Precisamos chegar ao fundo disto e precisamos de um processo completamente transparente da China", disse Slavitt a repórteres na terça. "Precisamos que a OMS ajude nessa questão. Não achamos que temos isso hoje."

Sugestões de que o coronavírus pode ter sido acidentalmente retirado de um laboratório no final de 2019 na cidade chinesa de Wuhan foram amplamente negadas no ano passado por relatos de cientistas de seu provável trajeto de um hospedeiro animal para seres humanos em um ambiente natural.

Muitos cientistas acreditam que um chamado evento de transbordamento ainda é a explicação mais plausível para a pandemia. Mas o inquérito conjunto da OMS e da China não decidiu a questão. O governo chinês tentou repetidamente orientar a investigação em seu benefício, e cientistas chineses forneceram todos os dados de pesquisa usados no relatório final.

Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde, criticou o relatório ao depor no Senado na quarta-feira sobre o orçamento da agência.

"É mais provável que seja um vírus que surgiu naturalmente. Mas não podemos excluir a possibilidade de algum tipo de acidente de laboratório. É por isso que defendemos com ênfase que a OMS precisa voltar e tentar novamente, já que a primeira fase de sua investigação realmente não satisfez a ninguém", disse o doutor Collins. "E desta vez precisamos de uma coleta de informações dirigida por verdadeiros especialistas, sem restrições, que é como vamos realmente descobrir o que aconteceu."

Repetindo seus antigos comentários, Anthony Fauci, principal especialista do país em doenças infecciosas, concordou que o vírus ocorreu "muito provavelmente" de forma natural. "Mas ninguém sabe disso com 100% de certeza", disse ele na mesma audiência. "E como há muita preocupação, muita especulação, e como ninguém sabe absolutamente isso, acredito que precisamos do tipo de investigação em que haja total transparência."

No início de março, um pequeno grupo de cientistas que se denominou grupo de Paris divulgou uma carta aberta pedindo um inquérito separado do da equipe de peritos independentes enviada à China como parte da investigação da OMS.

Neste mês, um grupo de 18 cientistas disse em uma carta publicada no periódico Science que não havia evidências suficientes para decidir se uma origem natural ou um vazamento acidental de laboratório causou a pandemia de Covid-19.

Depois que as conclusões do inquérito conjunto da China e da OMS foram divulgadas em março, o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, admitiu que a teoria do vazamento exigia mais estudos, dizendo não acreditar que "essa avaliação foi suficientemente extensa".

​E países como Austrália, Alemanha e Japão continuaram pedindo nesta semana, na reunião da OMS, medidas mais firmes no sentido de uma investigação mais abrangente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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