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Descrição de chapéu Coronavírus Governo Biden

EUA observam leve alta de casos de Covid provocada por subvariante da ômicron

Mutação eleva transmissão, mas números de mortes e internações permanecem estáveis

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Washington

"Pode tirar a máscara. Não precisa mais", disse o taxista à reportagem da Folha, que embarcava com o rosto coberto numa corrida em Boston. O aplicativo, porém, continua a exigir o item para viajar.

Após meses sem restrições a aglomerações ou fechamento de comércios e escolas, os Estados Unidos sentem o calor do começo de primavera no hemisfério Norte e se preparam para o terceiro verão da pandemia como se ela já não existisse. Enquanto isso, especialistas lembram que não é bem assim —o governo federal também, já que estendeu a obrigatoriedade do uso das máscaras em aviões e hospitais e no transporte público, que deixaria de valer nesta segunda (18), por mais duas semanas.

Homem com máscara em saída de metrô na Filadélfia, no estado da Pensilvânia - Spencer Platt - 14.abr.22/Getty Images/AFP

As últimas semanas indicam alta de casos de Covid. Dos 50 estados americanos, 27 registraram piora nos contágios. "Os demais estados provavelmente verão o mesmo nas próximas duas semanas", diz David Dowdy, professor de imunologia na Universidade Johns Hopkins. "Mas as internações não estão subindo. É razoável adotar algumas medidas de prevenção, mas essa onda não será tão séria quanto a última."

A média nacional de casos está em 33 mil por dia, muito abaixo dos 780 mil diagnósticos diários atingidos em janeiro deste ano. A alta do momento atinge especialmente a região noroeste do país, que inclui Nova York e Washington. A área tem tido em torno de 120 novos casos diários por 100 mil habitantes. É o dobro do registrado em março, mas ainda muito distante da taxa de 2.200 vista em janeiro.

A piora é creditada ao avanço de uma subvariante da ômicron, a BA.2, que está se tornando predominante em locais como Nova York. Estudos iniciais apontam que ela é 30% mais contagiosa do que a ômicron original. "Ainda não sabemos se também gera mais mortes, hospitalizações ou sequelas. Mas não vemos uma onda de internações nos últimos 14 ou 21 dias relacionadas à nova cepa, o que é encorajador", afirma Mark Schleiss, pesquisador do Instituto de Virologia Molecular da Universidade de Minnesota.

Segundo ele, uma das razões que dificultam os estudos da nova mutação é o aumento do volume de autotestes, feitos em casa —o governo americano distribuiu milhares deles de forma gratuita.

O enredo de uma onda trazida por uma variante já se repetiu outras vezes, mas agora a resposta estatal tem sido mais tímida, também porque os outros números estão estáveis. A média de óbitos está na faixa de 450 diários, menor que os 700 de abril de 2021 e bem abaixo do recorde de 2.200 de janeiro deste ano.

Entre as grandes cidades, a Filadélfia, com 1,6 milhão de habitantes, determinou a volta do uso de máscaras em lugares fechados a partir de segunda (18). Se a situação piorar, a medida seguinte será retomar a exigência de comprovante de vacinação para o acesso a lugares públicos —fechar atividades ou restringir horários por ora estão fora de cogitação.

Os EUA seguem firmes nessa estratégia. Mesmo em janeiro, no maior pico de casos já registrado, escolas e comércios continuaram a operar. À época, as ações dos governos foram reforçar o apelo pelas máscaras e, em algumas cidades, exigir o passe vacinal para espaços de lazer. A estratégia, no entanto, durou poucas semanas: em Washington, a cobrança por imunização durou de 15 de janeiro a 15 de fevereiro e o uso mandatório de proteção facial em locais como mercados e academias caiu no início de março.

"Podemos acabar com o fechamento de escolas e negócios. Temos as ferramentas de que precisamos. É hora de os americanos voltarem ao trabalho e encherem os centros das cidades", disse Joe Biden, no discurso do Estado da União, em 1º de março. "A Covid já não controla nossas vidas."

A tática da Casa Branca se concentra na vacina, mas a imunização com o primeiro ciclo completo estancou na faixa de 66% —no Brasil, o percentual é de 75,6%. Mesmo com campanhas de estímulo (que incluíram dinheiro e sorteios) ou punições (como restringir o acesso de não vacinados a restaurantes), o total de imunizados avançou só 3 pontos percentuais desde janeiro.

E os 66% abrangem realidades bem distintas: há estados em que praticamente um a cada dois habitantes não se vacinou, como Alabama (51% com ciclo completo) e Geórgia (54%). Outros mais populosos, como Califórnia (72%) e Nova York (77%), têm taxas mais elevadas.

No fim de março, o governo passou a oferecer a quarta dose para maiores de 50 anos. Biden, 79, recebeu a sua em um evento público, que usou para pressionar o Congresso a aprovar mais recursos para o combate à Covid —busca-se um acordo para liberar US$ 10 bilhões para comprar mais testes, remédios e vacinas.

Republicanos seguram a aprovação da verba para pressionar democratas a rever medidas que facilitariam a imigração. O acerto atual, que precisa ser votado, deixa de fora o custeio de exames e imunizantes para pessoas sem plano de saúde. Assim, um teste simples, hoje gratuito em muitos lugares, custa em torno de US$ 100 para não segurados.

Outro encontro de risco entre pandemia e política se dá com as "midterms", eleições de meio de mandato que renovam parte do Congresso, em novembro. Se em Washington a tênue maioria democrata estará em jogo, devido à baixa popularidade de Biden, o pleito em prefeituras e governos estaduais em várias partes do país pode levar governantes a evitar a adoção de medidas impopulares nos próximos meses.

Schleiss defende que a melhor arma para vencer a Covid agora será vacinar as crianças de forma ampla, já que elas ajudam a espalhar o vírus mesmo que não apresentem sintomas. "É a mesma coisa que se dá com qualquer outra doença viral, como o sarampo. Enquanto não tivermos uma estratégia para universalizar a vacinação infantil contra a Covid, vamos seguir lutando contra a doença."

Dowdy indica ainda o cuidado em grandes aglomerações. "Não se trata de banir eventos de massa, mas de adotar medidas como melhorar a ventilação, priorizar ambientes externos, exigir vacinação —e até considerar o uso de máscaras", diz.

O calor é propício a isso tudo. No fim de março, milhares de pessoas foram ver o desabrochar das cerejeiras em Washington, com parques repletos de pessoas sem máscara, aglomerando-se para tirar fotos. O acessório só era visto no metrô, com vagões lotados e muitos passageiros se esquecendo da proteção. Não havia funcionários para cobrar o uso, e os demais viajantes pareciam não se importar.

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