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Portugal registra alta de preços e fica sem quartos para todos os estudantes

Escassez de alojamentos leva governo a aumentar investimentos, mas setor não enxerga solução no curto prazo

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Lisboa

O novo ano letivo, que começou em setembro em Portugal, tem sido marcado pela escassez na oferta de casas para estudantes universitários. O problema acontece em todo o país, mas é sentido com mais força em Lisboa e no Porto.

Um levantamento do Observatório do Alojamento Estudantil, publicado pela DGES (Direção-Geral do Ensino Superior) indica que, nos últimos 12 meses, houve um recuo de cerca de 80% na oferta particular de quartos para estudantes.

Trabalhadores de construção em prédio da capital Lisboa - João Cortesão - 4.fev.09/AFP

Além de mais escassos, os quartos também ficaram, em média, quase 10% mais caros. Segundo o relatório, houve um aumento médio de preço em 18 das 20 cidades analisadas.

Com alta média de 30% em relação ao ano letivo anterior, os preços dos quartos no Porto foram os que mais subiram em Portugal. Funchal, na ilha da Madeira, e Braga aparecem empatadas com o segundo maior aumento, de 25%.

Em Lisboa, os preços cresceram 17%. Atualmente, o estudante que procura um quarto na capital portuguesa desembolsa, em média, € 381 (cerca de R$ 1.972) —em setembro de 2021, seriam € 326 (R$ 1.687).

Tradicionalmente, o aluguel de quartos em repúblicas ou em casas de família é um importante recurso para alunos de outras cidades ou países. Embora as instituições de ensino disponham de alojamentos próprios, a oferta é muito inferior à demanda.

Estudantes brasileiros, que formam a maior comunidade de alunos internacionais nas universidades lusas, também são afetados pelo problema. Recém-chegada a Portugal para um mestrado, a paulistana Giulia Rossi, 25, diz ter se surpreendido com a dificuldade para conseguir alugar um quarto próximo à Cidade Universitária de Lisboa.

"Por menos de € 300, só encontrei opções para quartos coletivos. Para conseguir ficar dentro do orçamento e ter um quarto individual, tive de sair de Lisboa", conta Rossi, que acabou escolhendo um apartamento em Almada, cidade da região metropolitana da capital.

Na avaliação de especialistas, o déficit na oferta de casas para estudantes é multifatorial e reflete a escassez do mercado habitacional como um todo. Há, no entanto, um ponto central: muitos proprietários identificaram que podem cobrar preços mais altos para outros segmentos, como turistas ou jovens profissionais e nômades digitais.

"Nos dois últimos anos, houve um grande fluxo de pessoas de outros países, que muitas vezes trabalham para empresas também de fora de Portugal e que, em geral, têm uma capacidade financeira mais confortável do que os portugueses", afirma Flavia Motta, proprietária da consultoria Lisboa à Beça, especializada no acesso de estrangeiros ao mercado imobiliário português.

Segundo Motta, parte dos que chegam a Portugal está disposta a pagar um pouco mais por vir de países em que os aluguéis são mais caros.

Com uma política de benefícios fiscais a estrangeiros e a multinacionais, Portugal conseguiu atrair também muitos profissionais de países desenvolvidos. Em 2021, o número de americanos aumentou 45% em relação a 2020.

O país também assiste a uma valorização recorde no preço dos imóveis como um todo. O Índice de Preços da Habitação aumentou 13,2% no segundo trimestre de 2022, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Isso também faz com que estudantes tenham de competir por quartos com jovens profissionais que não conseguem arcar com as despesas de viver sozinhos, por exemplo.

Diante do cenário, o governo anunciou um reforço nas medidas destinadas ao alojamento estudantil. Além dos € 375 milhões já previstos, oriundos dos fundos europeus do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), os socialistas reforçaram o orçamento com mais € 72 milhões.

Em cerimônia para a assinatura de um protocolo para a criação de 9.300 vagas para estudantes, o premiê António Costa reconheceu as dificuldades. "A liberalização do mercado da habitação é irreversível e aumentou significativamente a pressão sobre o custo do alojamento", disse, citando o crescimento do turismo e o aluguel por temporada como fatores para a alta de preços.

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