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Macron e Biden tentam mostrar sintonia após francês criticar plano econômico dos EUA

Presidente da França afirma em Washington que subsídios americanos são superagressivos e podem dividir Ocidente

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Washington | AFP e Reuters

Os presidentes da França, Emmanuel Macron, e dos Estados Unidos, Joe Biden, buscaram mostrar sintonia em diversos assuntos nesta quinta-feira (1º), na visita de Estado do líder europeu a Washington —a primeira do americano desde sua posse. Em meio ao tom de unidade em questões envolvendo a Guerra da Ucrânia e a China, porém, divergências ficaram evidentes.

A mais notável delas havia sido demonstrada já na véspera, com Macron criticando medidas econômicas do governo dos EUA, dizendo a parlamentares americanos que elas podem "dividir o Ocidente".

Macron afirmou estar incomodado com os subsídios incluídos pela Casa Branca na chamada Lei de Redução da Inflação, batismo eufemístico para acelerar a aprovação de um pacote ambiental de US$ 430 bilhões, promessa de campanha de Biden. De acordo com o francês, os incentivos garantidos pelo texto são superagressivos para empresas do país europeu.

Os presidente Emmanuel Macron e Joe Biden se cumprimentam no gramado da Casa Branca - Jonathan Ernst - 1º.dez.22/Reuters

"Não quero me tornar um mercado para produtos americanos porque tenho exatamente os mesmos produtos que vocês. Tenho uma classe média que precisa trabalhar e pessoas que precisam encontrar trabalho. Talvez vocês resolvam os problemas de vocês, mas vão piorar o meu", disse Macron em um almoço, pedindo para ser respeitado como um bom amigo. "Ponham-se no meu lugar."

É incerto como a legislação americana pode afetar diretamente o mercado francês. Entre outras áreas, Biden quer impulsionar o setor de veículos elétricos para promover o emprego no setor industrial, a transição energética e a concorrência tecnológica com a China. O programa econômico, porém, já deixou a classe política do país europeu preocupada.

Mais tarde, em discurso na embaixada francesa em Washington, Macron insistiu que o plano pode ser um ponto crítico nas relações dos EUA com a Europa —o que poderia soar como música aos ouvidos de Vladimir Putin em Moscou, ante o ensaio de uma união sem precedentes do Ocidente para lidar com a guerra.

O presidente francês ainda assinalou não acreditar que a Casa Branca recuará da medida, mas deixou claro que as duas partes precisam encontrar melhor sincronia. Foi o que ele tentou demonstra na entrevista coletiva após a reunião com Biden, na Casa Branca.

Os dois governos anunciaram a formação de uma força-tarefa, em conjunto com a União Europeia, para lidar com disputas comerciais relacionadas à energia limpa. E Biden não descartou a possibilidade de ajustes nas políticas econômicas, dizendo que elas não tiveram a intenção de excluir os europeus.

A criação de empregos nos EUA, segundo ele, não acontece "às custas da Europa" e os países do continente devem traçar estratégias de "forma mais rápida" para que tenham a mesma ambição industrial de Washington.

Macron, por sua vez, disse que teve uma reunião extremamente clara com o americano. "Queremos ter sucesso juntos, não um contra o outro."

Mais cedo, outras tentativas de atenuar as declarações de quinta do francês haviam circulado em Washington. A jornalistas a porta-voz do governo americano, Karine Jean-Pierre, reiterou a posição de que o programa econômico cria "oportunidades significativas para os negócios europeus e para a segurança energética do continente".

Paralelamente, ainda que sem mencionar especificamente o tema, a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, fez questão de destacar que "a França é uma aliada vital dos EUA" antes de dar boas-vindas a Macron na sede da Nasa.

A Guerra da Ucrânia, que pressiona a economia da UE, foi outro assunto discutido pelos líderes. Biden disse pela primeira vez em público estar disposto a dialogar com Vladimir Putin caso o russo manifeste interesse em acabar com o conflito, o que ainda não aconteceu. Macron, por sua vez, afirmou que nunca pressionará os ucranianos para que "façam um acordo que não seria aceitável a eles".

Na noite de quarta, o líder francês e sua esposa, Brigitte Macron, reuniram-se com Joe e Jill Biden em um jantar na Casa Branca. O cardápio incluía lagosta, carne e queijos americanos. O evento também contou com a participação do cantor Jon Batiste, grande vencedor do Grammy neste ano.

A pompa tem explicação: os EUA esperam que a visita vire a página da grave crise diplomática entre os países iniciada no ano passado, quando Paris perdeu para Washington um bilionário contrato de venda de submarinos assinado com a Austrália. À época, Macron considerou a ação da Casa Branca uma traição.

Se depender das últimas frases do presidente francês, porém, Washington precisará oferecer muito mais se quiser restabelecer por completo as relações com Paris.

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