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Descrição de chapéu Estados Unidos

Otan fará maior exercício militar contra a Rússia desde a Guerra Fria

Simulação de ataque de Moscou envolverá os 31 países do bloco e a Suécia, que aguarda sua entrada

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São Paulo

A Otan anunciou nesta quinta (18) que vai mobilizar 90 mil militares para o seu maior exercício militar desde 1988, nos estertores da Guerra Fria. A aliança militar de 31 membros, liderada pelos Estados Unidos, simulará respostas a um ataque da Rússia.

A ação vem em meio a um momento em que Moscou parece ter a mão mais forte na Guerra da Ucrânia, iniciada por Vladimir Putin há quase dois anos. Kiev entrou no que chama de estado de defesa ativa após o fracasso de sua contraofensiva, que visava isolar a Crimeia anexada dos territórios ocupados pelos russos.

Blindado britânico participa de exercício da Otan no campo de Tapa, na Estônia, em 2022 - Alain Jocard - 6.fev.2022/AFP

O Steadfast Defender-24 (defensor firme, em inglês) ocorrerá a partir da semana que vem e se estenderá até fevereiro em diversos países da aliança, com um foco específico nos alvos presumidos de um hipotético ataque do Kremlin: Estados Bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia) e Polônia.

A Alemanha, centro logístico da reação a uma invasão, também terá grande movimentação. Segundo o chefe militar da Otan, o general americano Christopher Cavoli, mais de 50 navios, incluindo um grupo de porta-aviões dos EUA, 80 caças, helicópteros, drones e 1.100 blindados, 133 deles tanques principais de combate, participarão das simulações.

Nelas, diversos cenários de ações hostis —como o eventual corte do pequeno trecho da fronteira Lituânia-Polônia que separa a Belarus, aliada de Moscou, da região russa de Kaliningrado— serão testados. É a primeira vez que isso acontece de forma tão ampla desde a Guerra Fria.

Em termos numéricos, é o maior exercício desde o Reforger, que somou 125 mil soldados em 1988. Em todo o período de existência da aliança fundada em 1949, a simulação que reuniu mais militares ocorreu em 1984: o treino Lionheart, liderado pelo Reino Unido, mobilizou 140 mil pessoas.

No período pós-Guerra Fria, tais exercícios caíram de quase cem por ano para talvez a metade. Tudo mudou a partir da anexação da Crimeia, em 2014, e no ano passado, a aliança promoveu mais de 90 treinamentos diversos. Em 2018, houve a maior simulação deste período, com 50 mil militares na Noruega.

A Suécia, que está à espera da autorização dos Parlamentos da Turquia e da Hungria para entrar na Otan, foi convidada para integrar o Steadfast Defender. O país solicitou adesão à organização em 2022, ao mesmo tempo que a vizinha Finlândia. Ambas as nações nórdicas romperam sua neutralidade histórica devido à percepção de risco de uma agressão russa.

Entrar na Otan significa estar protegido pelo artigo cinco da Carta Atlântica da entidade, que prevê a defesa mútua em caso de um ataque externo. Todos por um, diz o texto, e três dos países do clube são potências nucleares como a Rússia: EUA, França e Reino Unido. A sugestão de Kiev de pedir para ser aceita pelos aliados foi um dos motivos para que Putin lançasse sua guerra.

Mas a flexão de músculos bélicos da aliança agora tem a ver com sinalização. A Ucrânia está em um momento difícil da invasão, com novas remessas de ajuda militar e dinheiro bloqueadas tanto na Europa quanto nos EUA. No segundo caso, o que guia a decisão é o calendário eleitoral americano: a oposição republicana trabalha contra a extensão do apoio a Kiev.

Com tudo isso, a Otan tenta mostrar aos russos que, apesar das hesitações no que se refere aos ucranianos, a aliança está pronta para desafios adicionais —hipotéticos ou não. O almirante holandês Rob Bauer, presidente do comitê militar da aliança, disse que o bloco se prepara para uma guerra contra a Rússia e contra terroristas. "Se for o caso, se nos atacarem", ponderou.

A ênfase no flanco leste também premia os esforços da Polônia, que ruma por meio de investimentos maciços de 4% de seu PIB em defesa, o dobro da meta do grupo, para ter o Exército terrestre mais forte da Europa continental.

Esta é uma função primária desses exercícios, além do treinamento em si. A Rússia costumava fazer um grande exercício anual e vários secundários, e em 2022 promoveu a mobilização das forças que invadiram a Ucrânia sob o disfarce de um treinamento múltiplo.

Há riscos envolvidos. Em 1983, a percepção soviética de que o exercício Able Archer de simulação de um ataque nuclear era na realidade uma preparação real por pouco não levou o mundo a uma guerra atômica, por exemplo.

Curiosidade lateral, o nome dos exercícios da Otan não é casual. Usualmente, eles têm dois nomes, e a primeira letra de cada um dele tem um significado específico. No primeiro, é a unidade que comanda a ação —no caso atual, o S vem da inicial em inglês do Comando Supremo Aliado na Europa. Já o D é defesa, no caso de ataques inimigos.

Com AFP

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