Putin avança e ameaça implodir contraofensiva da Ucrânia

EUA veem Moscou tomar iniciativa, e general de Kiev, situação 'significativamente piorada'

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São Paulo

O avanço das forças de Vladimir Putin no leste da Ucrânia, que segundo os Estados Unidos configuram uma nova ofensiva da guerra, ameaçam toda a linha defensiva na região com um colapso que pode implodir de vez a contraofensiva que Kiev iniciou em junho.

Segundo disse neste sábado (14) o general Oleksandr Sirskii, chefe das forças terrestres ucranianas, "a situação piorou significativamente" na região. Na véspera, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional americano, John Kirby, disse que os russos retomaram de vez a iniciativa na invasão iniciada em fevereiro de 2022.

Soldado ucraniano carrega uma metralhadora Browning M2 durante treino tático em Donetsk
Soldado ucraniano carrega uma metralhadora Browning M2 durante treino tático em Donetsk - Genia Savilov - 13.out.2023/AFP

A situação começou a se configurar nesta semana, quando ficou claro o novo esforço russo contra a cidade de Avdiika, que desde 2014 estabelecia o ponto de contato entre Kiev e as forças separatistas pró-Moscou que começaram uma guerra civil estimuladas por Putin para evitar que a Ucrânia, cujo presidente simpático ao Kremlin havia sido derrubado, ingressasse na esfera europeia.

O local fica ao norte de Donetsk, a capital regional da província homônima, que compõe com Lugansk a área histórica do Donbass. A ofensiva complementava a tentativa, essa em curso desde o fim de julho, de Moscou avançar no nordeste do país, na região de Kharkiv, mais ao norte.

Isso configuraria um movimento de pinça clássico, visando cercar o grosso das forças ucranianas em Donetsk, área que Putin anexou ilegalmente no ano passado, mas da qual só controla cerca de 55%.

Sirskii descreveu parte disso ao visitar soldados na frente de batalha. Ele apontou para a gravidade da situação na direção de Kupiansk, em Kharkiv. "O principal objetivo do inimigo é derrotar o grupamento de nossas tropas, cercar Kupiansk e chegar ao rio Oskil", afirmou. Olhando o mapa, é o necessário justamente para tentar uma tática de envelopamento das forças de Kiev em Donetsk.

Mais importante, contudo, é o "timing" da ação russa. A janela para operações de maior porte está se fechando devido às condições climáticas —chuvas de outono e o congelante inverno do Hemisfério Norte na região.

Isso já trazia um senso de fracasso para a contraofensiva que Volodimir Zelenski lançou com pompa em 4 de junho, amparada no recebimento de equipamento ocidental como tanques alemães Leopard-2 e no treinamento de diversos batalhões por forças da Otan (aliança militar liderada pelos EUA).

Houve avanços pontuais, mas as fortes linhas defensivas estabelecidas pelos russos basicamente impediram o emprego de blindados avançados, e os ucranianos tiveram de lidar com incursões com grupos pequenos por meio de campos minados e sob fogo.

O maior sucesso ocorreu na região de Zaporíjia (sul), mas mesmo assim foi travado antes que pudesse se tornar uma ação decisiva rumo a Melipotol e ao litoral do mar de Azov, cortando assim a ligação terrestre entre a Rússia e a Crimeia anexada também em 2014, após a mudança do governo em Kiev.

Nos últimos meses, as dificuldades de Zelenski levaram a uma série de críticas de seus aliados ocidentais, irritados com o constante pedido por mais armas do ucraniano. O fato é que ele recebeu o suficiente para se defender bem, mas não para um avanço significativos —o que sugere a eficácia das ameaças de escalada nuclear feitas de tempos em tempos pela Rússia, que considera que o Ocidente luta uma guerra por procuração.

Com efeito, na sexta o diplomata russo Vassíli Nebenzia disse na ONU que "a dita contraofensiva ucraniana pode ser considerada acabada". Exagero à parte, sem tantas reservas para mobilizar na direção de Avdiika e Kupiansk, Kiev lida com o risco de ter de se entrincheirar.

Também no reino da especulação, uma eventual vitória em Donetsk poderia levar Putin, que não teve condições de atingir seu objetivo de subjugar toda a Ucrânia, a eventualmente cessar os combates em seus termos, alegando vitória e aproveitando o fastio ocidental com a guerra. Isso esbarraria na oposição de Kiev, contudo.

Kirby afirmou que ainda confia numa virada ucraniana, mas a realidade não parece estar muito a favor de Zelenski, que já enfrenta um calendário político adverso na órbita da Otan. Forças pró-Rússia formaram um governo na Eslováquia, a Polônia vai às urnas no domingo (15) cada vez mais distante do vizinho e os EUA estão em plena batalha sobre a continuidade da ajuda militar à Ucrânia.

Para completar o azedume em Kiev, a guerra entre Israel e o Hamas monopoliza as atenções do Ocidente e da mídia, o que provoca um evidente impacto no moral ucraniano.

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