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Expansão da Otan no Pacífico traz caos e turbulência, diz China

Pequim está 'extremamente preocupada' com a aliança militar, afirma alto diplomata à Folha

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São Paulo

A China considera que a Otan tem expandido suas fronteiras e ameaça o Indo-Pacífico, seu quintal geopolítico, com "caos e turbulência". Pequim está "extremamente preocupada" e trabalhará contra presença da aliança militar liderada pelos Estados Unidos.

Esta é a visão chinesa, segundo o representante especial de seu governo para Assuntos Eurasianos, Li Hui, que esteve no Brasil nesta semana para falar sobre a Guerra da Ucrânia com autoridades em Brasília. Em São Paulo, ele concedeu entrevista exclusiva na quinta (1º) à Folha.

Um caça Rafale francês participa de exercício no Indo-Pacífico, sobre o estreito indonésio de Sunda - AFP

"A Otan é essencialmente um vestígio da Guerra Fria, o maior grupo militar do mundo. Ela se diz regional e defensiva, mas suas fronteiras e seu mandato estão se expandido", diz Li. "Isso eleva tensões e provoca confrontos. A China está extremamente preocupada e se opõe a isso", afirmou.

A Otan foi criada em 1949 para deter o avanço soviético na Europa do pós-guerra. Após fim da Guerra Fria, em 1991, vagou meio sem rumo, mas a invasão da Ucrânia pelos russos em 2022 lhe deu sentido renovado.

Isso dito, desde 2019 a China figura aqui e ali em seus comunicados, citada como risco geopolítico. Via de regra, os membros europeus mais importantes do clube de 32 nações evitam choques diretos com Pequim por motivos econômicos, mas no texto final da cúpula do mês passado os chineses foram acusados de ajudar a guerra russa.

"Isso é desinformação", diz Li, que é o mediador indicado pelo líder Xi Jinping para o conflito na Europa. "A história mostra que, onde a Otan aparece, o caos e a turbulência vêm a seguir", afirma.

Não é o caso, dada a política recente de Washington. Se Donald Trump lançou a Guerra Fria 2.0 no campo comercial em 2017, só para ver os entrechoques se expandirem para questões como a democracia em Hong Kong, o sucessor Joe Biden modulou os parâmetros da disputa com Xi.

Deu gás ao Quad, grupo de segurança que une EUA, Japão, Índia e Austrália. Assinou o tratado militar Aukus com australianos e britânicos. Liberou o Japão de suas limitações rumo a um novo militarismo e aprofundou a cooperação com a Coreia do Sul, dando assento a Seul em decisões sobre armas nucleares na região.

Por fim, empoderou Taiwan em sua busca por liberdade ante a China continental, ainda que não apoie a independência da ilha formalmente. O tema mexe com os brios chineses, em especial quando Biden admoestou Xi a não invadir Taipé da mesma forma com que Putin atacou Kiev.

"Taiwan e Ucrânia são situações completamente diferentes. Taiwan é parte inalienável da China, uma assunto interno", disse. Nesta semana, uma fragata canadense transitou pelo estreito de Taiwan, para protestos chineses. Até o dia 15, 48 aviões europeus participam de exercícios no Pacífico.

As ações americanas decorrem da visão de que a assertividade de Xi, que chegou ao poder em 2012, mira derrubar a hegemonia dos EUA. Com efeito, ele militarizou o mar do Sul da China para tentar garantir suas rotas marítimas, dado que 80% da energia consumida pelos chineses passa por lá.

Reprimiu dissenso e está ampliando seu arsenal nuclear: segundo a referencial Federação dos Cientistas Americanos, ele passou de 240 ogivas quando Xi chegou ao poder para 500, agora.

"Todos devem estar alertas contra as tentativas de expansão da Otan", diz Li, com palavras usuais no discurso de Vladimir Putin para justificar a invasão da Ucrânia. O conflito é inevitável então?

A receita para evitá-lo, segundo o diplomata de 71 anos, foi dada por Xi em 2022, quando ele lançou a Iniciativa de Segurança Global. Ela prevê uma governança mundial de assuntos de segurança baseada em cooperação, multilateralismo e descartando a mentalidade de blocos da Guerra Fria.

"É a nossa resposta à armadilha de Tucídides", diz Li, respondendo a uma questão formulada com base no conceito lançado em 2017 pelo influente cientista político americano Allison Graham, que neste ano passou horas conversando sobre o tema com Xi em Pequim.

Em seu livro "Destinados para a Guerra", o acadêmico de Harvard estuda cenários de confronto entre potência consolidadas e ascendentes ao longo de 500 anos, avaliando os riscos do embate atual entre China e EUA —a Guerra Fria 2.0.

A armadilha em questão é a inevitabilidade do confronto, o que ocorreu em 12 de 16 casos estudados na obra, remetendo à descrição da Guerra do Peloponeso, entre desafiante Esparta e Atenas, pelo historiador grego Tucídides no século 5 antes de Cristo.

Para críticos, a ideia de Xi é propagandística e se encaixa no plano de expansão da China por meios econômicos. Além disso, escamoteia o fato de que Pequim e Moscou aprofundaram sua cooperação militar também, aprofundando o senso de uma guerra entre blocos que o líder chinês diz descartar.

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