Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Austrália reage à China com maior escalada militar desde a Segunda Guerra

Nova estratégia de defesa prioriza capacidades de longo alcance como mísseis e submarinos

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São Paulo

A Guerra Fria 2.0 entre Estados Unidos e China segue alterando o cenário geopolítico em todo o mundo. Depois de firmar um polêmico pacto militar com Washington e Londres, a Austrália anunciou nesta segunda (24) a maior reforma de seu setor de defesa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-45).

O governo local publicou a Revisão Estratégica de Defesa, que pretende nortear a próxima década das Forças Armadas da Austrália. O alvo primário, assim como no recente abandono da postura pacifista do Japão, a cada vez mais assertiva China.

Um caça F-35A da Força Aérea da Austrália durante uma exposição aérea em março
Um caça F-35A da Força Aérea da Austrália durante uma exposição aérea em março - Paul Crock - 3.mar.2023/AFP

Segundo o documento, Pequim opera o maior aumento de musculatura militar do século 21, "sem transparência ou salvaguardas para a região do Indo-Pacífico", o palco estratégico de Pequim por concentrar as vitais rotas marítimas que garantem sua posição de segunda maior economia do mundo, além de maior exportadora.

O texto promete gastar o equivalente a R$ 65 bilhões nos próximos quatro anos com novas iniciativas, redirecionando ao menos R$ 27 bilhões de programas de defesa territorial que soam obsoletos. "A ameaça militar à Austrália não requer uma invasão na era dos mísseis", diz.

"É o mais importante trabalho que fizemos desde o fim da Segunda Guerra", afirmou o primeiro-ministro Anthony Albanese. Ele inclui a reforma de bases navais, principalmente no norte do país, que encaram os mares contestados pela China.

O texto foca, com efeito, o desenvolvimento de mísseis de longo alcance e novas capacidades marítimas, com navios menores e mais ágeis, além do já anunciado acordo para comprar de três a cinco submarinos de propulsão nuclear americanos da classe Virginia, além de receber na próxima década um novo modelo a ser desenhado pelos britânicos em conjunto com os parceiros.

O negócio submarino é o coração do Aukus, pacto militar anunciado em 2021 e ratificado neste ano entre Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, de cujas iniciais em inglês surgiu o acrônimo. Ele foi duramente criticado pela China e pela Rússia, parceiras na Guerra Fria 2.0, e também desagradou aos franceses, que tinham engatilhado um contrato multibilionário para fornecer esse tipo de arma a Camberra.

Os russos estão envolvidos primariamente na Guerra da Ucrânia, mas têm uma crescente cooperação militar no Pacífico com a China.

A Revisão Estratégica reconhece que os EUA são parceiros prioritários, até porque "não são mais a potência unipolar no Indo-Pacífico". "Temos de evitar o maior nível de risco estratégico que nós enfrentamos como nação agora: a perspectiva de um grande conflito na região", afirma o texto.

"Obviamente vamos fazer isso muito próximos dos EUA. Estamos trabalhando de forma a haver uma intercambialidade dos mísseis de nossas duas forças", afirmou Albanese.

Hoje os australianos operam uma frota aérea muito capaz de aparelhos americanos, com 24 F/A-18 Super Hornet e 56 F-35A, caças de quinta geração. Têm seis submarinos convencionais e 11 navios principais de superfície. Ao todo, o país tem 60 mil militares, 1 em cada 430 habitantes (o Brasil tem 1 em cada 600).

Segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, as Forças Armadas da ilha-continente são "muito capazes e bem treinadas", com experiência em missões multinacionais. O país tem o 12º maior orçamento militar do mundo, segundo a entidade, tendo gasto US$ 33,8 bilhões (R$ 170,4 bilhões hoje) em 2022 —o Brasil tem o 15º.

O plano fala em aumento da despesa militar, mas só daqui a quatro anos. Antes, remanejamentos serão a prioridade. A China é o colosso regional, responsável por 47% dos gastos militares da região, o segundo maior dispêndio do mundo (US$ 242 bilhões, ou R$ 1,22 trilhão) no ano passado.

Ainda assim, os campeões EUA gastaram três vezes mais, e a aliada australiana Londres, respeitáveis US$ 70 bilhões (R$ 350 bilhões) cada vez mais expostos em missões pelo mundo, o quarto lugar de um ranking que ainda tem a Rússia em terceiro.

Os australianos também integram o pacto político e cada vez mais militar Quad, com os mesmos EUA, Japão e Índia, formando uma cadeia em torno das pretensões chineses em regiões como o mar do Sul da China e o estreito de Taiwan.

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