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O triste fim de Evo

Sob pressão militar, boliviano cai após eleição suspeita; novo pleito se impõe

Cinzas de uma fogueira e restos de uma barricada em La Paz, um dia depois da renúncia de Evo - Luisa Gonzalez/Reuters

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A renúncia de Evo Morales à Presidência da Bolívia constitui —ao menos até o momento— o desdobramento mais grave do caos social e institucional que se apossou daquele país desde as eleições gerais do dia 20 de outubro

Ao se autoproclamar vencedor do controvertido pleito, o líder andino, no poder havia quase 14 anos, adicionou à perda de credibilidade advinda de suas manobras para se perpetuar no cargo uma crise de legitimidade política.

A vitória por margem mínima, 47,1% a 36,5% (na Bolívia, é proclamado vencedor o candidato que obtiver ao menos 40% dos votos com uma diferença de 10 pontos sobre o adversário), foi sacramentada de maneira obscura, com interrupções inexplicadas na apuração e trocas arbitrárias do método de contagem de votos.

Tanto o candidato derrotado, o ex-presidente Carlos Mesa, como observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) lançaram suspeitas sobre a lisura do pleito. Protestos violentos se espalharam pelo país, com ataques a prédios públicos e confrontos entre opositores e apoiadores de Morales. 

Premido, o governo boliviano solicitou à OEA uma auditoria da votação. No domingo (10), o órgão divulgou sua análise, afirmando que o processo eleitoral não seguira os procedimentos adequados, tendo sido maculado por “contundentes” irregularidades. Diante da conclusão, a organização defendeu a anulação do pleito e novas eleições.

Seguindo a recomendação da entidade, Morales anunciou que promoveria novo sufrágio e renovaria os membros do Tribunal Supremo Eleitoral. A reação, contudo, não foi suficiente para aplacar os ânimos opositores. 

Juntando-se a setores policiais que já estavam em aberta rebelião, os militares abandonaram o presidente. Em pronunciamento no domingo, o comandante do Exército, Williams Kaliman, “sugeriu” que Morales renunciasse a fim de apaziguar o país, num gesto que evocou momentos sombrios da história latino-americana.

Cada vez mais isolado, o mandatário anunciou, horas depois, que deixaria o poder —e afirmou ser vítima de um golpe. O gesto de Morales foi seguido por toda a linha sucessória, abrindo um perigoso vácuo de poder.

Em iniciativa igualmente preocupante, o líder do protesto social, Luis Fernando Camacho, defendeu a formação de uma junta provisória com o alto comando militar e policial e a prisão dos ex-integrantes do governo, fomentando um clima que favorece perseguições e detenções arbitrárias.

Qualquer solução que não passe pelo respeito à legalidade constitucional deve ser repudiada. Assim, uma nova eleição representa o único caminho adequado para resolver os impasses atuais. Atalhos e improvisos só irão prejudicar a já claudicante democracia boliviana.

editoriais@grupofolha.com.br

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