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Tom Farias

2021, o ano que não começou

Em vez do Universo ter decretado o fim de 2020, o que reina é um lockdown do ano de 2021

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Rio de Janeiro

Apesar do calendário apresentar um novo algarismo, o ano de 2021 traz a sensação de não ter começado. A atmosfera reflete um clima ainda adormecido no passado, como se tivéssemos perdido algo que ainda não sabemos bem o que é. Tive esse olhar ao ver a paisagem das praias cariocas na passagem de ano.

Em dias anteriores —quase normais—, de sol escaldante queimando os miolos, a orla das praias do Rio, do Leme ao Pontal, parecia tomada pela aglomeração de um Réveillon fora de época: não havia espaço sequer para banho em chuveirinho.

Esta realidade, que me chocava quando a via pelos noticiários, espantou-me radicalmente pelo seu avesso. Nas ruas da zona sul, nunca vi tantos vendedores de flores com ramalhetes encalhados. Antes, disputavam-se praticamente a tapas orquídeas, angélicas e crisântemos para as tradicionais oferendas à Iemanjá, a filha de Olokum, eleita por Olorum para ser a mãe dos orixás. Ou seja, um ritual de raiz africana, cultuado por afro-brasileiros. O curioso de tudo isso é que os adeptos da religião católica, até mesmo alguns evangélicos, estão entre os consumidores.

Outra coisa bem estranha é que ocorreram mais festas aglomeradas antes do que durante a virada. Em Copacabana tinham mais policiais nas ruas do que festejantes. A falsa impressão era de que estávamos na primeira semana do confinamento, com ruas desertas, comércio fechado e um silêncio assustador.

Não tenho ideia de quanto tempo essa pandemia vai durar, mas meu emocional diz que, em vez do Universo ter decretado o fim do ano, o que reina é um lockdown do ano de 2021. Imagina a neura de gente que não conseguiu pular as sete ondinhas; dos que tinham nas roupas brancas o custo das promessas de emagrecer, parar de fumar, ou se casar; e dos que apostaram as energias na obtenção de um emprego. No ar, a certeza: ano novo, vida nova, uma ova.

Tom Farias é jornalista e escritor; autor de “Escritos Negros” (Malê) e “A Bolha” (Patuá)

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