Descrição de chapéu
Bia Braune

Aventuras na deep web da naftalina

Evitar aglomeração em feiras e antiquários é se embrenhar pelo submundo das tralhas na internet

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Rio de Janeiro

Um dia você acorda e percebe que não pode viver sem uma toalha que era do Clodovil pendurada no seu banheiro. O que fazer? Tudo bem, é provável (quem sou eu pra garantir?) que um desejo tão específico nunca tenha passado pela sua cabeça. Porém, saiba que um mundo com itens igualmente excêntricos está à sua espera.

Antes da quarentena, no Rio, colecionadores saíam tranquilos à cata de preciosidades inúteis nos sábados da Praça XV. Para os mais arrojados, a emoção era chafurdar embaixo de viadutos e percorrer quilômetros de calçadas repletas de tranqueiras: o “shopping chão”. Sempre dando cotoveladas em rivais e conversando a menos de um metro de distância, pois garimpeiros amam se vangloriar de pechinchas.

Aí veio a pandemia. O medo se instaurou, assim como a dúvida: “E se o Santo Graal das minhas obsessões estiver de bobeira lá fora?”. Foi quando o portal para um fascinante inutilverso se abriu para a maioria dos acumuladores. Viramos Indiana Jones de pijama.

Para começar, leilões virtuais. Você descobre que dezenas acontecem diariamente, Brasil afora. Gente graúda competindo por artigos que vão de um agasalho do Garrincha na Copa de 62 a um pacote de biscoito de ursinho Fofy dos anos 1990.

Sem a adrenalina das disputas lance a lance, há sites de venda e classificados online. Recentemente, não me pergunte como, achei o fardão de um falecido imortal da ABL por R$ 999. Oferta digna de Black Friday, pois um traje desses pode custar R$ 70 mil.

Só para não perder de vista, mantive na minha wishlist uma roleta de jogo do bicho, um luminoso de Fanta Limão, uma faixa de Miss Suéter 1965 e um livro autografado por Clarice Lispector para uma tal de “Nininha”. Outro dia apareceu até um sujeito se vendendo como amigo por R$ 50. Já pensou? Você compra e ele chega sem máscara, dando opinião sobre a forma da Terra. Por isso que só possuo uma biscoiteira no formato do Sr. Spock e outros 1.307 badulaques. Quanto à sua toalha do Clodovil, tem mas acabou: foi arrematada por R$ 200.

Bia Braune é roteirista, jornalista, cacarequeira e autora do “Almanaque da TV”

Biscoteira do Spock
Biscoteira do Spock - Bia Braune/Arquivo Pessoal
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