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Contra o relógio

Com represas vazias, país volta a cogitar horário de verão para poupar energia

Represa de Itupararanga, que abastece 80% das residências de Sorocaba (SP), com níveis baixos de água - Danilo Verpa/Folhapress

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O debate sobre reinstituir o horário de verão voltou à baila porque o Brasil está de novo perante o risco de apagões. Não fosse a incúria do governo federal ao administrar reservatórios de hidrelétricas e planejar outras fontes limpas de energia, a questão dificilmente ocuparia a opinião pública.

No entanto aqui chegamos. Represas do Sudeste e do Centro-Oeste, principais regiões fornecedoras de hidreletricidade, entraram na primavera com menos de 20% da capacidade. A maior estiagem em nove décadas ameaça essa reserva para abastecimento no verão, quando cresce o consumo.

Inoperante como em tudo, a administração de Jair Bolsonaro negou haver risco de escassez e demorou a acionar termelétricas para poupar água nas barragens. Ao final, teve de majorar tarifas para custear a modalidade de geração mais custosa e poluente.

Entornado o caudal, só tem agora a alternativa de reduzir a demanda, mas encara o desafio com providências tímidas, como um programa voluntário para grandes clientes deslocarem o consumo, evitando períodos de pico.

Não haverá surpresa se o Palácio do Planalto voltar atrás, retomar o horário de verão e ao menos dar a impressão de prudência. Mesmo sem mitigar minimamente a crise que se avizinha (pesquisas internacionais indicam economia média de apenas 0,34%), a atitude serviria para sinalizar à população a urgência de poupar energia.

Qualquer que seja a decisão, virá sem grande impacto. Pode-se afirmar que o país passou quase indiferente pela suspensão da medida, como prometido na campanha eleitoral. A prática de adiantar o relógio em uma hora para poupar eletricidade parece ter afetado pouco o cotidiano dos brasileiros.

Pesquisa Datafolha em meados deste mês de setembro mostrou que a maior parte da população (55%) é favorável à volta do horário de verão, e 38% a rejeitam. Em 2017, com o esquema ainda em vigor, eram 58% e 35% —variação dentro da margem de erros de 2 pontos para mais ou para menos.

Há que ressalvar o fato de quase dois quintos de brasileiros se posicionarem contra a medida. Um contingente considerável se incomoda o suficiente com tal modificação da rotina para descartá-la, mesmo ameaçado de falta de eletricidade e pagando contas de luz que só aumentam.

Uma hora de adiantamento parece pouco, mas basta para afetar de modo significativo ritmos corporais influenciados pelo ciclo diário de luz e escuridão. Há estudos que apontam maior incidência de infartos, depressão e acidentes de trânsito e trabalho durante a vigência do horário de verão.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico descarta a providência, mas em breve poderá ser obrigado a catar quilowatt-hora por quilowatt-hora onde for possível. Trata-se de escolha defensável diante da gravidade da situação, mas ainda carece de mais embasamento para se firmar como política pública.

editoriais@grupofolha.com.br

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