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O que a Folha pensa congresso nacional

Eleitor insatisfeito

Desconfiança ante as instituições, captada pelo Datafolha, antecede Bolsonaro

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Estátua da Justiça, em frente ao Supremo Tribunal Federal, e Congresso Nacional - André Borges - 7.ago.12/Folhapress

Parece intuitivo associar a queda da confiança do eleitorado em instituições e atores da democracia, detectada pelo Datafolha, à pregação populista e autoritária de Jair Bolsonaro. É preciso cuidado, entretanto, ao estabelecer relações de causa e efeito nesse caso.

Na comparação com os dados imediatamente anteriores, de julho de 2019, aumentou a parcela de brasileiros que manifestam descrédito no Congresso (de 45% para 49%), no Judiciário (de 26% para 31%) e no Ministério Público (de 23% para 30%). Continua elevada, ademais, a desconfiança nos partidos, que passou de 58% a 61%.

Mas o desgaste da política e das instituições começou bem antes —e já foi maior. Em junho do ano eleitoral de 2018, quando a candidatura de Bolsonaro ainda soava a exotismo passageiro, Congresso (67%) e partidos (68%) amargavam números piores que os de agora, enquanto Judiciário e Ministério Público repetiam as cifras atuais.

Não é difícil traçar uma linha do tempo e apontar fatores que contribuíram para esse processo, embora seja impossível mensurar com precisão a influência de cada um.

O marco mais óbvio são as jornadas de 2013, quando um protesto contra tarifas de transporte coletivo deram origem a uma onda de manifestações nacionais, não raro violentas, com as mais diversas reclamações e reivindicações.

Àquela altura o país já vivia um processo de deterioração econômica que culminaria na profunda recessão de 2014-16 —período em que o colapso do Orçamento federal levou ao impeachment da petista Dilma Rousseff, e as revelações e acusações da Lava Jato enlamearam as forças situacionistas.

Em tal cenário, discursos contrários à política e às instituições pulularam em todo o espectro ideológico. O PT deu início à pregação segundo a qual a deposição de Dilma foi um golpe, e a prisão de Lula, uma conspiração; no arquirrival PSDB, João Doria surgiu em 2016 com uma plataforma conservadora rasa de conteúdo.

E, claro, houve Bolsonaro.

Ataques à democracia e ascensão de líderes populistas autoritários não são fenômenos restritos ao Brasil nos últimos anos, como se sabe —e as causas do fenômeno são objeto de debate global.

Por aqui são evidentes o declínio econômico e social, que ameaça completar uma década, a polarização ideológica que empobrece o debate público e a resistência de políticos e corporações do Estado em abrir mão de privilégios injustificados. Instituições, governantes e legisladores ainda devem respostas à insatisfação do eleitorado.

editoriais@grupofolha.com.br

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