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Giovana Madalosso

Desce a mamadeira de despiroca

Hoje eu quero abraçar todo mundo que sofreu comigo esse pesadelo

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Giovana Madalosso

Escritora, é autora de "Tudo Pode Ser Roubado" e "Suíte Tóquio" e colunista da plataforma de mudanças climáticas Fervura

Garçom, desce uma mamadeira de despiroca que hoje eu quero comemorar. Sei que agora temos que nos unir como nação, mas isso eu faço amanhã, se sobrar fígado. Hoje eu quero é abraçar quem sofreu comigo esse pesadelo e lutou para que não tivesse bis.

Vem colar sua alma lavada na minha, ambientalista, feminista, pacifista, filho constrangido de terraplanista, psicólogo de fascista, cicloativista, jornalista chamada de quadrúpede.
Vem brincar no meu plexo, fiscal desmoralizado do Ibama, subalterno de meritocrata branco de família rica, rainha dos baixinhos, menina de 14 anos, vítima de violência doméstica e política. Vem, nordestino, mãe solo, casal de Josés, gente que não cabe na régua da família de bem —bem para quem? Vem sem-terra, sem-teto, sem-absorvente, sem-distintivo, sem-patente, sem direito trabalhista, sem lei de incentivo.

Vem chorar de emoção no meu cangote, minha irmã lésbica, minha amiga preta que temia pelos filhos, minha filha de dez anos que não contava para os colegas em quem eu ia votar por medo de passar o recreio sozinha, meu amigo cientista que perdeu a bolsa de pesquisa e teve que deixar para trás o seu país.

Vem ganhar um cheiro, meu colega Julián Fuks, ameaçado de morte por cometer o atentado da escrita. Vem, Giovana, abraçar a Giovana, que muitas vezes sentiu medo de publicar essas colunas. Vem, 33 milhões de estômagos tristes e peitos magros, médicos do SUS, torturados pela ditadura, mulher que foi espancada por votar 13, meninos contaminados pela água do garimpo.

Vamos bater os pés, yanomamis, ticunas, krenaks, kokamas, macuxis e todos os outros povos indígenas. Que as 680 mil ossadas lá embaixo escutem o nosso barulho.

Alegria de democrata é frágil e às vezes dura pouco. Então se enrola na bandeira que haviam roubado de nós, capricha na caipirinha de limão sem veneno e vamos beber para não esquecer. Não vamos esquecer nunca.

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