Siga a folha

Descrição de chapéu
Andrea del Fuego

Dor e linguagem

A medicina e a narrativa se descobrem entranhadas

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Andrea del Fuego

Escritora, mestre em Filosofia (USP). Traduzida em nove países, autora de nove livros, entre eles "Os Malaquias", vencedor do Prêmio José Saramago.

Como narrar a dor e a doença? Dor e linguagem parecem duas irmãs, habitando ambas as experiências do corpo. Imagino duas freiras, ora em sintonia cozinhando as gemas em fogo brando para o quindim, ora jogando as tigelas de açúcar contra a parede, em desentendimento pela engenharia do sabor ou do saber.

Talvez seja uma única freira, o mesmo motor, dor/linguagem a mesma entidade. Doença e narrativa são tão interessantes para a literatura, quanto para a psicanálise e a medicina.

Foto mostra diversos dados de madeira com letras diferentes nas faces - blickpixel/Pixabay

Nós, pacientes, pouco entendemos o mecanismo das dores do estômago, rins e cabeça. O médico ocupa um lugar privilegiado, pois conhece o que nos é familiar, nosso corpo, no momento em que o próprio se estranha por conta da dor e da doença, abruptas como um acidente. Quando dói, sinto algo que não sei dizer, mas digo.

Carlos Eduardo Pompilio, médico, afirma em seu artigo "A tragédia da doença": "enfermo (…) é o narrador por excelência". Pompilio, junto com a professora Fabiana Carelli (Letras – USP) coordenam o GENAM – Grupo de Estudos e Pesquisa Literatura, Narrativa e Medicina da USP.

A medicina e a narrativa se descobrem entranhadas, não só porque a medicina é também uma arte, mas porque a narrativa é viva. Na jornada "A dor de ouvir a dor", realizada pela Associação Paulista de Medicina, o neurologista Rogério Adas definiu a dor como uma experiência.

Hélio Plapler, cirurgião, esclarece que sintoma é o que a pessoa sente, sinal é o que é percebido pelo outro, e pergunta: a dor é um sintoma ou um sinal? Experiência, sintoma e sinal são mediados pela linguagem.

Telma Zakka, presidente do Comitê Científico de Dor da APM, aborda a dor pélvica crônica em mulheres e conta que a paciente nunca revela tudo. Uma dor talvez mascare outra.

E se o tempo for a doença?, pergunta a trapezista em "Asas do Desejo" de Wim Wenders. No caso da dor, o tempo da sua duração dimensiona o desafio.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas