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O que a Folha pensa Governo Lula

Governança terá novo teste na Petrobras

Com oitava presidente em oito anos, estatal evita o pior das pressões do Planalto graças a regras instituídas em 2016

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Magda Chambriard, presidente da Petrobras - André Ribeiro/AFP

A confirmação de Magda Chambriard na presidência da Petrobras pelo Conselho de Administração, com dois votos divergentes de membros independentes, encerra o mais recente episódio de crise no comando da estatal.

Têm sido frequentes as turbulências —a nova presidente é a oitava a ocupar o posto em apenas oito anos. Na maior parte das vezes, as trocas ocorreram sob pressão do Palácio do Planalto, normalmente em momentos de elevação dos preços dos combustíveis.

Assim foi na paralisação dos caminhoneiros, durante a gestão de Michel Temer (MDB), e depois repetidas vezes sob Jair Bolsonaro (PL), sempre fixado no populismo tarifário para sua base eleitoral.

Em todos esses momentos, o valor de mercado da empresa caiu em razão da suspeita de que o novo comando se renderia a pressões políticas contra os preços —risco que acabou não se confirmando.

Com ruídos e alguns desvios, a política de alinhamento às cotações internacionais vigente desde 2016 se manteve, graças à Lei das Estatais e a normas de gestão.

Mesmo em meio à instabilidade administrativa, ademais, entre 2016 e 2023 foi preservado o mais essencial —o plano de investimentos com foco em exploração e produção, com a governança mais firme estabelecida depois dos escândalos do petrolão petista.

Com disciplina no uso do capital e preços realistas, foi possível obter aumento sensível da produção, dos lucros e dos pagamentos de dividendos nos últimos anos, fator principal para a valorização das ações, agora novamente interrompida —a perda de valor de mercado desde o anúncio de Chambriard chegou a R$ 55,7 bilhões.

O que está por ser verificado é se desta vez o intervencionismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) significará alteração mais substancial de rota a ponto de ressuscitar problemas do passado.

O mandatário não esconde que quer fazer da estatal novamente um instrumento político. O objetivo principal nem é a manipulação de preços, que a partir de certos limites traria problemas jurídicos, contestações de minoritários e reação de órgãos de controle.

O maior risco deriva da intenção de obrigar a empresa a realizar investimentos em áreas que no passado se relevaram antieconômicas, como refino e fertilizantes.

Além de recomprar refinarias privatizadas, Lula quer concluir aquelas que são notórias por prejuízos bilionários e pela corrupção. Também deseja reativar a indústria naval com encomendas a estaleiros nacionais.

Com perfil a princípio mais alinhado à tal orientação, Chambriard testará novamente as regras que têm evitado o pior na estatal.

editoriais@grupofolha.com.br

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