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Cidades-esponja

Reconstrução urbana do RS pode inaugurar modelo de adaptação a chuvas no país

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Vista aérea de prédios no centro de Porto Alegre (RS) inundado - Adriano Machado - 17.mai.24/Reuters
Vista aérea de prédios no centro de Porto Alegre (RS) inundado - Adriano Machado - 17.mai.24/Reuters

Assim que as águas baixarem de vez no Rio Grande do Sul, a reconstrução das cidades comporá um importante experimento social. Sem reformar a mentalidade dominante no planejamento urbano, como exige a mudança climática, uma onda de fracassos varrerá o país.

A tarefa mais urgente é encontrar moradia para milhares de famílias. Em paralelo, traçar um diagnóstico do que falhou e apurar eventuais responsabilidades. Além disso, reativar instalações vitais como escolas, postos de saúde e hospitais.

Nada disso terá sentido, no entanto, se tudo for refeito como antes. Entende-se que moradores queiram retornar para suas casas, mas o poder público precisa dar incentivos e alternativas para que deixem as zonas de risco.

O ideal seria devolver à natureza áreas de inundação, sobretudo as que surgiram da construção de aterros, por exemplo na forma de parques que favoreçam a infiltração pluvial. Pode-se objetar que o investimento seria proibitivo, mas qualquer programa de reconstrução envolverá custos portentosos. No mínimo, seria indicado realizar estudos sobre cada região.

Esse conceito de desenho urbano se aproxima do modelo de cidades-esponja, já aplicado na Europa e na China. Em lugar da pretensão de domar águas com concreto para dirigi-las aos rios, eles próprios retificados em canais que só aceleram a torrente, permitir que penetrem no lençol freático.

Meandros fluviais e várzeas faziam isso. Pode parecer impensável reverter o emparedamento do Tietê e do Pinheiros, em São Paulo, mas, em algum ponto da tragédia climática que se avizinha, será preciso planejar tal adaptação, ainda que em escala reduzida e local.

Em Xangai, uma área industrial foi convertida em parque linear com 2 km ao longo do rio Huangpu. Oslo reverteu a canalização subterrânea do rio Hovinbekken.

Empreendimentos desse porte podem não ser factíveis para o depauperado Estado brasileiro. Em todo caso, mudar mentalidades custa pouco, em termos financeiros, e trará dividendos inestimáveis para gerações futuras: qualidade de vida e patrimônio preservado diante de eventos extremos.

editoriais@grupofolha.com.br

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