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Jairo Malta

Carnaval vive do sangue negro

É preciso repensar o papel de quem faz a folia acontecer

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Jairo Malta

Designer, fotógrafo e jornalista. É autor do blog Sons da Perifa.

São Paulo

Glitter nas roupas, lixo nas ruas e cheiro forte de xixi. Enfim, tivemos o tão aguardado Carnaval oficial no pós-pandemia. O saldo da folia ainda está sendo calculado, mas podemos ponderar: quem celebra a festa mais celebrada do mundo?

Andando pelas ruas da Lapa, no centro do Rio de Janeiro, vejo como parece estarmos ainda sob colonização. Turistas do mundo todo se amontoam nas ruas, geralmente requebrando o corpo de formas completamente desengonçadas, tentando acompanhar os beats de alguma música da Furacão 2000.

Vendedores ambulantes no bloco Boi Tolo no centro do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Deixando o preconceito ao gingado alheio de lado, o que mais espanta em terras cariocas é como os negros ainda carregam em sua imagem os vestígios das dores dos antepassados escravizados.

Trabalhando de sol a sol nas barracas de lanches, sem camisa e descalços, catando latinhas ou gritando no meio da multidão do bloco "ó o pesado", todos são negros.

Reparei mais nisso quando fui à Pedra do Sal. Espaço histórico na rua Tia Ciata, na região portuária, funcionava ali um grande mercado de escravos nos anos de 1600. No local, hoje acontece uma roda de samba, sempre aos finais de semana.

Certo dia, na Pedra do Sal, vi uma loira de olhos verdes gritando em inglês para uma mulher negra em situação de rua que tinha parado ao lado dela para sambar. A mulher dizia: "Sai daqui, sua fedida".

Em outro momento, quando fui visitar amigos que moram no morro, vi dois meninos negros carregando metralhadoras maiores que um cabo de vassoura. Os garotos estavam acompanhados de três franceses portando coroas douradas e fantasia de deus grego. Falavam algo como: "Tem coca?".

O que você tem a ver com isso? Seja no comércio paralelo, nas avenidas ou nos blocos nas ladeiras, fato é que o combustível que move o Carnaval é o sangue dos negros. Saber assimilar isso é repensar o papel de quem faz a folia acontecer.

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