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Um projeto que não deu certo

Queremos políticas públicas para todos, desde que não mexam com nossos privilégios

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Luiza Pastor

Jornalista, editora do blog "É logo ali".

"Alguém já disse, em algum lugar, que o ser humano é um projeto que não deu certo." Escrevi essa frase em uma peça, "Babylon, Luxúria e Morte", que montei com o diretor Tom Garcia há uns bons anos. Nela caricaturávamos o lado mais cruel e bizarro desse tal de homo sapiens, no cenário de um circo de horrores. E, infelizmente, a cada dia a fantasia se revela mais real. Somos o que de mais abjeto e mal resolvido a natureza conseguiu criar.

A evolução nos promoveu de unicelulares flutuando pelos mares a seres terrestres portadores de polegares —e logo descobrimos que com eles podíamos brandir um tacape contra nossos semelhantes. Ganhamos a capacidade de criar e aperfeiçoar ferramentas —mas também armas cada vez mais letais para aniquilar os inimigos e, bem, alguns amigos que dão o azar de estar pelo caminho e aos quais chamamos de danos colaterais. Foi mal.

Aperfeiçoamos o dom das comunicações, sofisticamos as linguagens, e com elas geramos Platões, Bachs e Picassos —mas nos dedicamos com mais frequência e gosto ao vil esporte de adubar tretas, fofocas e perfídia.

Ao contrário dos répteis e insetos que mimetizam o habitat em que vivem para se protegerem dos inimigos, nossa hipocrisia só semeia o mal, que revestimos com as cores brilhantes das roupas de nossas tribos e bolhas. Olhamos torto para nossos iguais esparramados pelas calçadas das grandes cidades, porque nos jogam na cara a falência do que mascaramos sob o pomposo nome de políticas públicas. Vivemos nós contra eles e escolhemos para nos representar aqueles nos quais nos vemos refletidos para que façam... o que, mesmo?

Queremos que todos tenham teto, desde que seja bem longe dos nossos. Que a saúde seja universal, mas minha vacina primeiro. Que a desigualdade desapareça, mas não nossos privilégios. Que nossos filhos tenham a esperança de viver em um mundo melhor —mas que não precisemos mudar nada.

Definitivamente, não demos certo.

Cena do filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrick - Divulgação

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