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VÁRIAS AUTORAS

Sobre gênero e raça na produção científica

Não sabemos quase nada em relação à participação de negros ou indígenas

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VÁRIAS AUTORAS (nomes ao final do texto)

Qual é a participação de cientistas negros na produção científica do Brasil? Não sabemos.

Quando acessamos um artigo científico, vemos uma sequência de sobrenomes (com os nomes abreviados) e não temos a menor ideia de quem são aquelas pessoas. Em alguns casos, há links para currículos acadêmicos como o Lattes, onde é possível saber a instituição ao qual os autores são filiados e o que eles têm publicado. Mas não há informação de gênero e raça.

Não sabemos quase nada sobre a participação de cientistas negros ou indígenas na produção científica —e conhecemos bem pouco sobre o quanto os não brancos integram a pós-graduação e o corpo docentes das universidades. Há dados gerais sobre isso em bases do MEC (com taxas de não resposta bem altas).

Ilustração: Valentina Fraiz - Instituto Serrapilheira - Instituto Serrapilheira

Dá para estimar o gênero binário dos cientistas a partir dos seus nomes por meio de softwares, com uma boa margem de confiança. Já em relação à raça, não tem como fazer isso. Em um contexto em que os dados atuais são precários e de difícil acesso, estudiosos de gênero e de raça na ciência tentam driblar esse vazio de informação cruzando os nomes dos pesquisadores com bases de dados como o Lattes que, com sorte, traz a foto do pesquisador.

Assim, analisa-se a raça pelo fenótipo do cientista com a ajuda de um comitê. Isso é chamado de heteroclassificação racial (o oposto, portanto, de autoclassificação).

Quem tem feito isso é o Gemaa/Uerj (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa) em parceria com o Instituto Serrapilheira. Uma pesquisa recente coordenada por Luiz Augusto Campos e Marcia Rangel Candido, que são do Gemaa/Uerj, mostra que apenas 7,4% dos professores de pós-graduação nas ciências exatas, da terra e biológicas são pretos, pardos ou indígenas.

Isso é um desastre para um país com mais da metade da população negra. E é também um sinal: precisamos de mais retratos da produção científica brasileira em termos de raça.

Há um imbróglio: dados de gênero e raça —entre outros— são considerados sensíveis pela legislação brasileira de proteção de dados (LGPD). Não poderiam, portanto, estar públicos no Lattes. Poderiam, no entanto, diz a lei, ser tratados em estudos de órgão de pesquisa.

Na Agência Bori, iniciativa que dá visibilidade à ciência nacional, a diversidade de gênero e de raça dos autores e dos líderes dos artigos científicos é um dos critérios levados em conta na hora de escolher as pesquisas que serão divulgadas para a imprensa. Só que sem conhecer a raça dos autores, fica difícil levar a diversidade em conta.

Seria muito interessante saber —não apenas para a Bori— se há diversidade de gênero e de raça entre quem assina cada estudo científico brasileiro. Isso significaria abrir a ciência nesse conceito amplo, mostrando quem afinal está produzindo conhecimento no país.

O debate é difícil, mas necessário. Por isso, convidamos a comunidade científica a refletir sobre a necessidade de conhecermos a diversidade real da ciência brasileira. Só começaremos a conhecer a realidade de quem produz conhecimento científico no país quando conseguirmos minimamente quantificá-la.

Ana Paula Morales
Raquel Ribeiro
Sabine Righetti

Agência Bori

Juliana Oliveira
Mayra Castro

Empreendedoras e conselheiras da Agência Bori

TENDÊNCIAS / DEBATES
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