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O que a Folha pensa Banco Central

É o BC que sustenta hoje a política econômica

Dado o descrédito do Orçamento petista, responsabilidade recai sobre o órgão, que em 2025 terá maioria indicada por Lula

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Fachada do Banco Central, em Brasília (DF) - Gabriela Biló/Folhapress

A importante decisão tomada pelo Banco Central na semana passada —a de reduzir o ritmo da queda dos juros devido aos riscos inflacionários— acabou ofuscada pela divisão revelada em sua cúpula.

Como se esperava, a ata da reunião do Comitê de Política Monetária, divulgada nesta terça-feira (14), trouxe mais explicações sobre por que os quatro diretores indicados por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) votaram contra a decisão, aprovada por maioria mínima de cinco membros do colegiado.

De acordo com o documento, o primeiro grupo defendeu que fosse mantida a trajetória sinalizada na reunião anterior, de março, quando a taxa Selic caiu de 11,25% para 10,75% ao ano e se indicou outro corte de 0,5 percentual. Argumentou-se que a mudança de rumos poderia comprometer a credibilidade da comunicação do BC.

É uma justificativa respeitável —e certamente muito melhor do que alguma tese que sugerisse leniência com a alta de preços.

O incômodo que não pode ser desfeito de imediato advém da origem comum dos votos contrários, dadas as insistentes manifestações de Lula contra a política de juros, a autonomia formal do BC e o que considera metas excessivamente ambiciosas de inflação.

A opção do Copom por um corte mais cauteloso, para 10,5% anuais, amparou-se em razões sólidas que já vinham sendo expostas pelo BC nas últimas semanas —tanto que a taxa fixada já era contemplada nas expectativas de mercado.

Entre uma reunião e outra do colegiado, o governo petista afrouxou prematuramente seus compromissos de ajuste das contas públicas. Ademais, o cenário internacional piorou com perspectiva de mais inflação e juros nos EUA, o que eleva a cotação do dólar e encarece produtos importados aqui.

Por fim, o mercado de trabalho doméstico mantém o vigor, um fenômeno benfazejo que tem como efeito colateral mais pressão sobre o consumo e os preços.

Diante de tais desdobramentos, segundo o comitê, todos os diretores concordaram com a necessidade de uma política monetária mais cautelosa. Não por acaso, as expectativas para a Selic ao final deste 2024 subiram recentemente de 9,25% para 9,5%, e não será surpresa se chegarem a 10%.

São más notícias, sem dúvida, mas pior seria, em especial para a população pobre, um retrocesso no controle da inflação em nome de conveniências de curto prazo.

Tal entendimento será particularmente crucial a partir do próximo ano, quando o Copom terá maioria de indicados por Lula. Com o descrédito dos planos de equilíbrio orçamentário do Executivo, é o BC autônomo que mantém de pé a gestão da economia.

editoriais@grupofolha.com.br

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